A história de Fernando Gomes (22/11/1956-26/11/2022) foi escrita a letras de ouro com golos.

Golos.

Muitos golos.

Mais golos.

Golos sem parar.

Todas as reações à morte de Fernando Gomes

Ficou conhecido como Bibota de ouro, sem que os mais jovens percebam o alcance do feito: Fernando Gomes sagrou-se por duas vezes (1983 e 1985) máximo goleador dos campeonatos europeus.

Ainda com a camisola do seu FC Porto, foi por seis vezes o melhor marcador do campeonato português (1977, 1978, 1979, 1983, 1984 e 1985).

Máximo goleador da história do clube portista, Fernando Gomes chegou igualmente ao pódio do campeonato nacional, ultrapassando Eusébio da Silva Ferreira no último jogo da carreira.

A 26 de maio de 1991, ao serviço do Sporting, fez o 2-0 na receção ao Gil Vicente e chegou aos 319 golos na prova, superando o registo do Pantera Negra (318 golos). Acima dele, apenas Fernando Peyroteo (332). Abaixo, outros nomes míticos como José Águas (291), Nené (262) ou Manuel Fernandes (243).

Nem o próprio imaginaria que aquela longa caminhada de Rio Tinto ao histórico Campo da Constituição, numa tarde de verão, marcaria o início de uma carreira ao mais alto nível.

«Não havia muito que fazer, então fui com um amigo meu de Rio Tinto à Constituição a pé. Eu só tinha 14 anos, ele é que tinha idade para competir. Eu ia mais para vê-lo jogar. Mas quando chegámos à Constituição, ele motivou-me a ir ao balneário, o roupeiro deu-me um equipamento e lá fui treinar», explicou Fernando Gomes ao Porto Canal, em 2017.

O técnico António Feliciano ficou deliciado, sem saber que aquele jovem ainda não tinha os 15 anos necessários para competir. Hesitou quando descobriu a idade de Gomes, mas não largou o talento: «O meu sonho era esse, jogar no FC Porto. Tudo o resto veio por acréscimo.»

E tanto que veio depois.

Apenas três anos mais tarde, aos 17, estreou-se pela equipa principal frente à antiga CUF e apresentou aquele que seria o seu maior cartão de visita: fez os dois golos da vitória portista (2-1).

O primeiro ciclo de seis épocas a alto nível com o dragão ao peito ficou marcado pela conquista do campeonato português na temporada 1977/78, contribuindo com 25 golos o fim de um jejum de 19 anos do FC Porto na competição.

Em 1980, com 23 anos, o Sp. Gijón bateu o seu recorde de transferências para garantir um dos avançados mais entusiasmantes do futebol mundial, mas a etapa de Fernando Gomes em Espanha ficou marcada por problemas físicos e menor fulgor, não obstante um registo interessante de 16 golos em 33 golos.

«Como presidente, o primeiro ato que tive, em 1982, foi resgatá-lo ao Sp. Gijón», recordou neste sábado Jorge Nuno Pinto da Costa, líder máximo dos dragões.

Fernando Gomes regressou ao FC Porto e contribuiu para uma epopeia de conquistas azuis e brancas em Portugal, na Europa e no Mundo. Entre setembro de 1986 e janeiro de 1988, deixou a sua marca num triplete inesquecível: Taça dos Campeões Europeus, Supertaça Europeia e Taça Intercontinental.

Falhou a final de Viena por lesão – uma das maiores mágoas da carreira – e foi substituído por Tomislav Ivic na segunda mão da Supertaça Europeia frente ao Ajax, num momento que se traduziu numa monumental vaia do tribunal das Antas e que foi mais um reflexo de um divórcio entre jogador e oclube (não apenas com o treinador, que até saiu entretanto, ou Octávio Machado), que se viria a efetivar no verão de 1989.

Para além dos troféus internacionais, o Bibota de ouro festejou a conquista de um total de cinco campeonatos nacionais, três Taças de Portugal e três Supertaças Cândido de Oliveira ao serviço do FC Porto.

Fernando Gomes tinha 32 anos quando saiu do clube azul e branco. Foi para onde ainda acreditavam na sua relação com o golo, mesmo tratando-se de um rival: o Sporting. Por lá, em duas épocas, fez 38 golos em 79 jogos, cinco deles na Taça UEFA, prova em que os leões atingiram as meias-finais.

Ao serviço da seleção de Portugal, o avançado participou no Campeonato da Europa de 1984 e no Campeonato do Mundo de 1986, somando 47 internacionalizações, com um registo de 11 golos.

A carreira como jogador terminou em 1991 e destacou-se desde então como dirigente, servindo o FC Porto em áreas como o scouting e o futebol de formação.

Os últimos anos de vida foram conturbados. Em 2019, foi tornada pública a luta contra um cancro no pâncreas, a causa da morte neste sábado. Em 2020, chorou a morte inesperada da filha mais velha – Filipa – e batizou a terceira filha – Maria Luísa. Já em outubro de 2022, com a saúde cada vez mais fragilizada, sofreu um acidente vascular cerebral.

Fernando Gomes partiu neste sábado, aos 66 anos.

O eterno Bibota de ouro continuará a marcar golos no céu.