No início de 2013, Fernando Neto celebrava os seus 20 anos ao lado de Fred, Thiago Neves e Cavalieri, no histórico Fluminense. O treinador Abel Braga gostava do que via nos treinos e até lhe deu a titularidade nas duas primeiras rondas do Cariocão.

Onze meses volvidos, a vida de Fernando mudou radicalmente. O calor do Rio de Janeiro é uma mera memória e os dias, agora gelados, passam pela Mata Real. «O Tony careca, o Ricardo, o Grégory, o António Filipe, o Rodrigo António, o Jailson, toda a gente me ajuda muito», diz ao Maisfutebol.

Fernando Neto é mais um produto do inesgotável filão brasileiro. Tem boa escola, modos educados e um tutor muito especial: Deco. Conheceram-se nas Laranjeiras, criaram uma boa amizade e o antigo maestro do FC Porto decidiu trazê-lo para Portugal.

Surge esta a história a respeito da estreia de Fernando Neto no onze inicial do Paços de Ferreira, domingo passado. O debutante encheu-se de brios, arrancou uma exibição excelente e deu os três pontos aos castores numa chapelada perfeita a Matt Jones.

Onde andou este talento nos primeiros meses da época? Nem Fernando sabe responder.

«Eu andava por cá, a treinar e a melhorar. Já tinha jogado uns minutos com o Costinha [17 contra o V. Guimarães], mas a primeira oportunidade real foi em Tondela, para a Taça, na semana passada. Agora contra o Belenenses tive a felicidade de fazer um golo», responde.

«Costinha? Não gosto de falar do que correu mal»

Antes de voltarmos à história de Fernando Neto, vale a pena explorar melhor o momento que aqui nos trouxe. O Paços precisava urgentemente de ganhar e Fernando Neto foi absolutamente imprescindível na conquista de mais três pontos. O golo? Puro instinto.

«Antecipei bem a jogada. Vi o Ricardo a fazer um lançamento longo e percebi que o lateral [Duarte Machado] ia recuar. Antes dele tocar na bola e fazer o atraso, eu já tinha feito a diagonal. Depois foi passar pelo central e finalizar por cima do guarda-redes», recorda, sempre tímido.

Mas o que se passou durante o reinado de Costinha? Nem por partilhar com Fernando a amizade de Deco o ex-treinador do Paços percebeu o talento deste ex-Flu?

«Não gosto muito de falar sobre coisas que correram mal. Agora estou feliz e com a certeza de que vai dar tudo certo», responde o esquerdino transformado em extremo nas últimas semanas. No Fluminense, Fernando era lateral.

«Não tenho preferência. No Brasil, na equipa principal do Fluminense, treinado pelo Abel Braga, joguei sempre como lateral. Nas camadas jovens é que fui muitas vezes médio».


«O Deco diz que tenho de aprender o verdadeiro português»

Deco foi decisivo na vinda de Fernando Neto para o Paços, já se percebeu. O ex-internacional português acompanha tudo de perto e sempre com bom humor.

«Ligou-me logo no fim do jogo em Tondela, onde fiz uma assistência para golo. O Deco foi um dos maiores em Portugal e só posso seguir o que ele me diz. Eu falei aos jornalistas depois do jogo, ele soube e brincou logo comigo».

«Disse-me que eu tenho de aprender a falar o verdadeiro português. Ah, e disse-me que a liga portuguesa está muito fácil, quando um jogador do meu nível já dá entrevistas». Fernando Neto ri-se e fala dos primeiros dias em Portugal. Sempre ao lado do Mágico.

«A primeira vez que vim a Paços de Ferreira foi com ele. Apresentou-me a toda a gente, deu-me conselhos, é um grande amigo. É o meu padrinho no futebol. Ajuda-me muito e só lhe posso agradecer tudo o que tem feito por mim. A ele e ao irmão dele, o Lúcio».

«Joguei ao lado do Fred, do Sóbis e do Jean, tudo feras»

Nascido na pequena cidade de São Domingos, estado de Goiás, Fernando começou a jogar futebol «muito pequenino» no clube da terra. Aos 16, porém, saltou para o Vila Nova, de Goiânia.

«Comecei a levar o futebol mais a sério. Fiquei dez meses nesse clube. Depois, num torneio em São Paulo, recebi convites dos maiores clubes brasileiros e escolhi o Internacional de Porto Alegre».

Do Rio Grande do Sul, Fernando mudou-se para a Cidade Maravilhosa. Derradeira paragem antes de Paços de Ferreira.

«Um dirigente do Inter foi trabalhar para o Fluminense e, como gostava muito de mim, levou-me com ele. Vivi os momentos mais felizes da minha carreira. Nos juniores e depois nos seniores», conta, enquanto recorda as três aparições no elenco principal do Flu.

Fernando estreou-se contra o Nova Iguaçu, no Estádio São Januário, e jogou depois contra o Olaria e o Bangu. «Joguei lado a lado com o Fred, o Rafael Sóbis, o Jean, grandes nomes. Estava rodeado de craques. Só feras».

O sonho de vingar no Fluzão foi, entretanto, trocado pela ambição de brilhar na Europa. Pela mão de Deco, claro, e armado de um pé esquerdo capaz de fazer misérias. Do Rio a Paços, de uma vida louca a um quotidiano calmo, sempre relaxado, onde só falta a comida da mãe.

«Vivo mesmo em Paços. Não sei cozinhar, por isso almoço e janto sempre fora. Divido os dias entre os treinos, uma caminhada na cidade e algumas visitas ao Porto. Sabe sempre bem ir de vez em quando a um shopping».

Em janeiro de 2013, Fernando Neto era uma promessa do Fluminense. Perto do Natal, dá sinais de ser um presente útil e interessantíssimo para os adeptos do Paços.

A lateral ou a extremo, Henrique Calisto tem em mãos o protegido de um Mágico.

Fernando Neto no Fluminense-Olaria (nº 26)