Uma burundiana, uma australiana, uma turco-caiquense e uma neozelandesa entram numa sala onde estão 24 homens e uma cadeira vazia. Podia ser o princípio de uma anedota, mas não: é o ponto de situação relativo à próxima eleição para o Comité Executivo da FIFA, que desde 2012 tem um 25º lugar, reservado a uma mulher.

A 31 de maio, no próximo congresso, na Ilha Maurícia, uma mulher será eleita para o organismo que preside ao futebol mundial. Os nomes das quatro candidatas foram divulgados nesta terça-feira e têm em comum as origens geográficas exóticas, de países sem grande tradição futebolística.

Lydia Nsekera, a «Dama de Ferro» do Burundi, é a mais conhecida das quatro. Não só por ser, à data, a única presidente de uma federação de futebol entre os 209 países membros da FIFA. Mas também pelo facto de ser, desde maio passado, a primeira mulher cooptada para o órgão máximo da FIFA, 108 anos depois da fundação.

A alteração aos estatutos proposta por Blatter, foi aprovada por aclamação em 2011, obrigou à inclusão de uma mulher, no Comité Executivo, com o pelouro do desenvolvimento do futebol feminino. Indicada pela Confederação Africana, Nsekera, que preside à federação do Burundi desde 2004, e também é membro do Comité Olimpico Internacional, assumiu o cargo e gostou tanto que agora se apresenta para defendê-lo na votação.

As suas três adversárias foram indicadas pelas Confederações da Ásia (AFC), Oceania (OCF) e da América Central e Caraíbas (CONCACAF). Moya Dodd é australiana, advogada, e tem um passado de futebolista que a distingue das restantes. Os nomes menos mediáticos de Paula Kearns, da Nova Zelândia, e Sonia Bien-Aimé, da ilhas caribenhas de Turks e Caicós, completam o quarteto concorrente a uma eleição que, a exemplo do que sucede com a presidência da FIFA, é decidida pelo voto de todos os países membros.

Mónica Jorge, diretora da FPF, e primeira mulher a assumir um cargo diretivo no futebol português, admite alguma estranheza inicial pela proveniência das candidatas, escolhidas por acordo das respetivas confederações. E não valoriza muito a alteração dos estatutos que tornou obrigatória a inclusão de uma mulher nos 25 eleitos: «Defendo que a abertura deve ser feita de forma natural, independentemente do género. A escolha deve implicar competências antes de mais, não sou muito favorável à imposição de quotas. Acredito em quem defende causas e mostra competência para o fazer. É natural que haja mais mulheres a fazê-lo no futebol feminino, mas não deixa de haver homens que o defendem igualmente bem», lembra.

Por falta de conhecimento sobre as candidatas, a ex-selecionadora não entra em considerações sobre as respetivas competências. E prefere contornar os jogos políticos, que poderão explicar o paradoxo de a atual ocupante do cargo, Lydia Nsekera, provir de um país que não tem seleção feminina sénior. «O facto de ser a única presidente de federação nos membros da FIFA é indicador de que terá qualidades para o lugar», pondera a diretora da FPF, que ao ser questionada sobre o que esperar de uma dirigente nas estruturas do futebol não se furta a um retrato robot de absoluta neutralidade de género: «Acima de tudo paixão na luta diária pelo pelouro a seu cargo. E, sem fugir aos traços de caráter pessoal, identificação com a linha e as ambições do organismo que representa», resume.

Mónica admite que a alteração aos estatutos da FIFA é um tributo ao crescimento do futebol feminino, mas pode também ser vista como uma cedência superficial ao que parece bem: «Acredito que tenha um bocadinho das duas coisas. O crescimento do futebol feminino é uma realidade, que o próprio Blatter já reconheceu, com surpresa. Eu defendo que deveria haver mais lugares para a promoção do futebol feminino, mas acredito que isso vai acabar por acontecer de forma natural. Admito que o politicamente correto também tenha influenciado, mas este não deixa de ser um passo na direção certa», conclui.