O Comité Disciplinar da Confederação Asiática de Futebol (CAF) deverá analisar na quinta-feira uma investigação sobre o alegado uso pela federação timorense de documentos falsos para inscrever jogadores brasileiros na sua seleção.

Um porta-voz da CAF confirmou à agência Lusa que está em curso uma investigação sobre alegados documentos falsos e não cumprimento das regras de inscrição de jogadores que pode abranger responsáveis seniores da Federação de Futebol de Timor-Leste (FFTL). Caso a CAF considere as alegações provadas, Timor-Leste poderá ser banido de competições internacionais durante vários anos e dirigentes e jogadores poderão ser sancionados.

Contactados pela Lusa, Francisco Kalbuadi Lay, presidente da FFTL, e Osório Florindo, vice-presidente, recusaram prestar declarações neste momento. «Eu responderei a isso depois», disse Lay, que é também ministro do Turismo, Artes e Cultura.

A investigação da CAF soma-se a uma outra sobre o mesmo caso iniciada no ano passado pela FIFA e cujos resultados não são ainda conhecidos, tendo o assunto sido igualmente alvo de um inquérito do executivo timorense.

Sem liga nacional há anos, Timor-Leste subiu, entre 2011 e 2015, no 'ranking' da FIFA do 205.º para o 170.º posto, sendo atualmente o 191º. A maior subida ocorreu quando Timor-Leste se tentou qualificar para o Mundial de 2018 na Rússia, tendo para isso naturalizado mais de uma dezena de jogadores oriundos do Brasil.

As regras da FIFA determinam que os atletas podem jogar pela seleção do país adotivo se ali viveram pelo menos cinco anos ou se têm um pai ou avô natural desse país, o que não ocorreu em nenhum dos casos dos brasileiros naturalizados timorenses, segundo fontes em Díli.

Os bons resultados de Timor-Leste começaram a ser questionados em outubro do ano passado, quando a federação da Palestina apresentou uma queixa formal junto da FIFA depois de um empate entre as duas seleções, em Díli, na qualificação para o Mundial de 2018.

Esse empate impediu a qualificação da Palestina e, depois da queixa, os brasileiros deixaram de ser usados. No primeiro sem esses jogadores, com os Emirados Árabes Unidos, a seleção de Timor-Leste teve a sua maior derrota de sempre (0-8).

No entanto, o uso dos jogadores foi retomado em junho último, na qualificação para a Taça Asiática, levando a CAF a iniciar uma investigação. Esta não é a única polémica em torno do futebol timorense, tendo Kalbuadi Lay sido envolvido na polémica em torno dos alegados subornos pagos por Mohamed Bin Hammam, do Qatar, para conseguir levar o Mundial para aquele país.

Uma auditoria da PWC sobre a CAF e as contas de Hamman indica que terá dado cerca de 50 mil dólares a Kalbuadi Lay para «gastos pessoais». Além desta polémica, um empresário timorense, Pedro Carrascalão, queixou-se à CAF por os líderes da FFTL recusarem aceitar a sua eleição como presidente da estrutura, no congresso de 2007. Na queixa, alega terem ocorrido nos últimos anos inúmeras irregularidades em torno à FFTL.

A polémica sobre o futebol timorense levou mesmo a manifestações em Díli em junho deste ano, organizadas por um grupo que se identificou como de «amantes» do futebol em Timor-Leste e que acusavam a FFTL de corrupção e irregularidades.

Na altura, José de Carvalho, que foi treinador da equipa de sub-19 e sub-23, em 2006 e 2007, e se afirmou «coordenador do movimento» de protesto, acusou a direção da FFTL de «várias irregularidades», considerando que «viola a legislação e regulamentação da FIFA».

«Há alguns jogadores com três ou quatro passaportes de Timor-Leste com idades diferentes. O mesmo nome, o mesmo jogador mas idades diferentes. Fazem isto para poder ter o jogador a competir em várias competições», afirmou.

Por outro lado, insistiu que há sete anos que não há um congresso para reeleger a direção da FFTL, contestando o processo «fraudulento e irregular» de naturalização dos jogadores brasileiros da seleção nacional.

João Neves, outro dos manifestantes, explicou à agência Lusa que as críticas à naturalização dos jogadores «não é por racismo», mas pelas violações dos critérios para esse processo. «Qualquer cidadão que quer assumir a nossa nacionalidade pode fazê-lo. Desde que cumpra o critério. Os brasileiros vêm para cá só para tentar subir e chegar ao conhecimento de equipas da Ásia. Nem sequer jogam no país», afirmou.

Joaquim Vide, que foi jogador federado em Portugal, e também presente na manifestação, explicou que um jogador «chega na quarta-feira, na sexta-feira já tem passaporte timorense e arranca no sábado» e que há jogadores inscritos em clubes «que não existem nem jogam».

Osório Florindo, vice-presidente da FFTL, rejeitou, na altura, as acusações dos manifestantes, afirmando, quanto à naturalização dos jogadores brasileiros, que «isso acontece em todo o mundo» e que o processo segue sempre a lei.