Há motivos para chamar-se de Geração de Ouro àquela que Portugal teve entre 1989 e 1991. Aliás, há dois: o talento que eles tinham e os números, que estão na origem do título desta peça.

Depois de mais uma participação de Portugal num Mundial sub-20 da FIFA – eliminação nos quartos de final – é tempo de perceber como se tem aproveitado, na seleção principal, os jogadores que passaram na competição mais jovem.

Os campeões do Mundo de Riade e Lisboa foram as duas equipas sub-20 que deram mais futebolistas aos AA. Uma ideia generalizada e que se confirma quando se olha os registos.

Mas há mais nos números. Por exemplo, já neste século, eles mostram que entre dois a três jogadores que estiveram no Mundial sub-20 são regulares escolhas na equipa maior.

Significa isto que estes futebolistas foram, ou são, opção com alguma regularidade. Neste caso, o critério definido foi pelo menos 10 internacionalizações, com exceção para o Mundial 2015, em que foram incluídos todos aqueles que jogaram pela seleção maior, devido à proximidade temporal.

Também se comparou esse aproveitamento com o campeão mundial de sub-20: no caso de Riade e Lisboa, os finalistas. A conclusão é simples: nas gerações atuais, Portugal tem muito menos jogadores a estrearem-se pela seleção principal, mas o número daqueles que lá se fixam é bastante próximo em relação às equipas que se sagraram campeãs do mundo.

Um quarto chega à seleção, com ajuda dos rapazes de Queiroz

As duas equipas orientadas por Carlos Queiroz deram 19 internacionais AA: nove de Riade e dez de Lisboa. João Vieira Pinto esteve nos dois e está aqui incluído no lote da Arábia Saudita.

Os finalistas desses anos, Nigéria e Brasil, criaram 10 internacionais AA em conjunto: três da seleção africana, sete da sul-americana.

No total, os registos dizem o seguinte. Há 172 futebolistas, excluindo esta geração de 2017, que estiveram no Mundial sub-20 por Portugal. Desses 172, 43 representaram a seleção principal. Ou seja, 25 por cento.

Em jeito de curiosidade, dos mundiais em que Portugal participou, apenas uma seleção supera os 11 internacionais que saíram de Lisboa: a incrível seleção argentina de 2007.

Sergio Romero, Federico Fazio, Emiliano Insúa, Gabi Mercado, Maxi Moralez, Ever Banega, Kun Aguero, Pablo Piatti, Javier Garcia, Claudio Yacob, Ariel Cabral e Di María.

No entanto, há vários futebolistas com apenas uma internacionalização. Por isso, analisou-se aqueles que têm pelo menos dez jogos na seleção principal do respetivo país.

O primeiro campeão europeu de França

Luís Figo, Emílio Peixe, Rui Costa, Jorge Costa, Abel Xavier, Fernando Nelson e Capucho jogaram todos mais de 10 partidas na equipa principal. Destes, aliás, apenas Nelson (10) e o atual selecionador sub-20 (12) não chegaram às duas dezenas.

Portanto, Lisboa deu sete internacionais com presença regular, Riade deu seis e o Mundial da Austrália deu nenhum: Litos (6) e Porfírio (3) foram os únicos a chegar à equipa principal. Das gerações de 95 e 99, apenas Nuno Gomes, Caneira e Simão Sabrosa se fixaram na equipa das Quinas.

Portugal teve um grande hiato na participação nos mundiais da categoria: esteve ausente em três. Voltou em 2007. Nessa altura, a formação de jogadores em Portugal ainda não vivia esta última fase.

No entanto, é ali, no Canadá 2007, que está o primeiro campeão europeu de França: Rui Patrício.

Média mais baixa que o campeão mundial

Ora, Portugal tem sido mais consistente e tem estado nas últimas fases finais do segundo mundial na hierarquia FIFA. E os números refletem que em média três dos convocados chegam à seleção principal.

Os números são mais baixos quando se tem em consideração o Campeão Mundial de 2007, 2011 e 2013. Tem de se ter em consideração, porém, que são três seleções diferentes e todas com uma base de jogadores bastante maior. Há cinco argentinos que são opção regular e quatro brasileiros também, para além dos franceses Lucas Digne e Paul Pogba.

André Silva, Gelson e Guedes frente aos sérvios

A geração de 2017 ficou-se pelos quartos de final, mas, como se percebe, mais importante do que o resultado na prova, é o aproveitamento dos jogadores no futuro.

Em 2015, Portugal ficou-se pela mesma fase do Mundial sub-20, mas três jogadores já chegaram à seleção principal. Dois deles continuam nas escolhas de Fernando Santos e são mais do que prováveis na Taça das Confederações.

André Silva, Gelson Martins e Gonçalo Guedes já se estrearam pela equipa principal. Nenhum deles chegou à dezena de jogos ainda e o último até está com os sub-21. O avançado do FC Porto é, no entanto, habitual titular e Gelson uma opção muito a ter em conta por Fernando Santos.

Ainda assim, esta é a geração que mais perde no comparativo para o Campeão Mundial: a Sérvia venceu em 2015 e já tornou internacionais AA oito desses futebolistas.

Em resumo, neste século, Portugal perde em número de jogadores que chegam à equipa principal, mas isso até se pode dever a outros fatores: ainda há vários futebolistas de gerações sem mundial nas seleções, com Cristiano Ronaldo à frente de todos.  

Há ainda outros que podiam ter sido selecionados para ir à prova, mas não foram: casos de Raphael Guerreiro, Renato Sanches ou Bernardo Silva.

Quanto à geração de 2017, a julgar pelos números recentes, é expectável que entre dois a três futebolistas se juntem aos mundialistas anteriores, para irem formando o novo Portugal.