Quando é que há sucessor?
O sucessor de Sepp Blatter será encontrado em eleições previstas para o período entre dezembro e março de 2016. A eleição será feita num congresso extraordinário a ser marcado pelo Comité Executivo da FIFA. Os estatutos do organismo impõem um intervalo de quatro meses até ao próximo congresso eleitoral,. A eleição do presidente é feita pelos congressistas com direito a um voto cada. Domenico Scala (diretor do Comité Eleitoral ad hoc) já prometeu que «haverá reformas no modo como as eleições serão conduzidas».
O que vai acontecer até Blatter sair?
O presidente da FIFA vai «continuar em funções» até à eleição e anunciou «reformas profundas». No anúncio de resignação, Blatter defendeu «mudanças estruturais» como a «redução» dos membros do Comité Executivo (CE) da FIFA, e eleição destes pelo congresso, «testes de integridade» para todos os membros com a responsabilidade do organismo e não das confederações e «limitação de mandatos» quer para o presidente quer para o CE.
Porquê agora a resignação? Por causa de Jérôme Valcke?
O escândalo de corrupção envolvendo altos responsáveis da FIFA acabou por implicar nesta segunda-feira o secretário-geral, o nº2 do organismo. Acima de Valcke só está Blatter, liderando uma estrutura (já) muito abalada com a detenção de dois vices-presidentes, por exemplo. O «The New York Times» envolveu Valcke no caso de votos comprados na candidatura da África do Sul ao Mundial 2010. Um repórter da Press Association publicou a carta enviada pela federação sul-africana.
BOMBSHELL: Letter from South Africa FA to FIFA instructing $10m payment to Warner WAS addressed to Jerome Valcke pic.twitter.com/b0yKBPRAcA
— Martyn Ziegler (@martynziegler)
2 junho 2015
A justiça dos Estados Unidos não comenta a notícia da «ABC News» desta terça-feira que revela haver uma investigação a Blatter. Mas foi a justiça norte-americana a desencadear a investigação sobre atos de corrupção, extorsão ou lavagem de dinheiro, entre outros crimes, e a fazer a detenção de dirigentes da FIFA.
Isto afeta os Mundiais 2018 e 2022?
Por enquanto está tudo como estava. A investigação suíça está ainda nessa fase: a de investigação. As autoridades suíças já confirmaram também que o presidente da FIFA não é alvo da sua investigação. Esta passou pelo interrogatório de dez membros do Comité Executivo que participaram no processo de escolha dos dois Mundiais. E as autoridades suíças deram a FIFA como «vítima» nesta investigação. Mas as queixas de candidaturas vencidas – como Inglaterra 2018 ou EUA 2022 – podem recuperar força na medida em que a FIFA vai sendo abalada...
O processo de escolha dos Mundiais poderá mudar?
Não foi uma das reformas explicitamente enumeradas dor Blatter, mas já antes de rebentar o escândalo se falava de novas regras para atribuição das competições depois da polémica com a Rússia e com o Qatar. Uma das mudanças já preconizadas para evitar corrupção é a eliminação de candidaturas que façam investimentos fora do seu país. Outra pode ter a ver com a redução do Comité Executivo (CE) já proposta por Blatter. As candidaturas de 2018 e 2002 foram feitas pelo CE em rondas de votações dos 24 membros que iam eliminando a candidatura menos votada até ficar uma. O presidente da FIFA tem voto de qualidade em caso de empates.
Os patrocinadores ficaram fartos das suspeitas?
O futebol que é negócio envolve muito milhões; seja de dólares, seja de euros, é cada vez mais o dinheiro que circula à volta deste desporto. Quantos mais casos menos claros há, quantas mais suspeitas houver, pior é para o negócio. Já depois do rebentamento do escândalo desencadeado pela investigação norte-americana, os grandes patrocinadores associados aos eventos da FIFA fizeram um aviso. Marcas como McDonald’s, Coca-Cola, Visa, Nike, Adidas, Budweiser ou Hyundai manifestaram a sua preocupação ou desilusão com o que se foi sabendo. Nesta terça-feira, depois de Blatter falar, algumas, como as marcas de refrigerantes ou de cervejas, pronunciaram-se. «Esperamos que o anúncio de hoje acelere os esforços da FIFA para resolver os assuntos internos, faça mudanças positivas e cumpra os mais altos padrões de ética e transparência», comunicou a Budweiser. A Coca-Cola aconselhou a FIFA a «transformar-se rapidamente numa instituição do século XXI».
Blatter poderá recandidatar-se?
Poder, por enquanto, pode. Mas Blatter já anunciou que quer limitar o número de mandatos presidenciais. E afirmou mesmo que não voltará à corrida: «Como não serei candidato estou agora livre dos constrangimentos que umas eleições impõem.» Blatter referia-se à possibilidade de se dedicar às tais «reformas fundamentais e de maior alcance». Mas isso também não quer dizer que o ainda presidente da FIFA não esteja a arrumar a casa e a preparar um sucessor da sua confiança...
Quem poderá suceder a Blatter na presidência da FIFA?
Michel Platini será o mais forte candidato. Se se candidatar. Antes aliado de Blatter, agora seu opositor, o presidente da UEFA representa a confederação continental onde estão os clubes mais ricos e onde estão os melhores jogadores do mundo. Mas, enquanto o francês não anuncia aquele que é tido como um passo ambicionado na carreira de dirigente, há outros que já se chegaram à frente. Ali bin al-Hussein já oficializou a sua (re)candidatura. Mas, por enquanto, Platini ainda não (re)apareceu a dar-lhe o seu apoio. Quem também voltou a esta corrida foi outro francês: David Ginola.
Vai finalmente conhecer-se o relatório Garcia?
Esta pergunta só vai ter resposta depois da nova presidência. É provável que, se a transparência de processos vier por acréscimo das novas caras, fantasmas anteriores sejam obrigados a serem exorcizados. Por enquanto, o Comité de Ética da FIFA recusou no final do ano a revelação na íntegra do trabalho (de 430 páginas) feito por Michael Garcia. O que ficou público foi o resumo (de 48 páginas) feito pelo presidente do órgão da FIFA, Hans-Joachim Eckert – que o advogado norte-americano tinha classificado de «incompleto» e com «conclusões erradas».
Alguém lamentou a saída de Blatter?
O presidente da federação inglesa, Greg Dyke, foi dos primeiros a reagir publicamente e não deixou dúvidas quanto à satisfação: «Vamos celebrar... Isto não tem nada a ver com a respeitabilidade do Sr. Blatter. Ele não tem sido respeitável há anos.» Romário afirmou que «representa o começo de uma nova era no futebol», pois «todos os líderes de federações corruptos vão sentir o chão a fugir-lhes». Luís Figo disse que foi um dia bom para a FIFA e para o futebol», pois «a mudança está finalmente a chegar». Michel Platini classificou a decisão de «corajosa» e também como «a mais acertada». Mas nem todos bateram palmas. O presidente da federação uruguaia, Wilmar Váldez, afirmou mesmo ser «claro que alguém importante o apanhou nas últimas horas para o obrigar a uma decisão destas». E o zambiano Kalush Bwalya, louvou o trabalho de Blatter: «O seu legado estará em todo o mundo, mesmo na Inglaterra e na Alemanha, onde todos beneficiaram da ajuda que ele proporcionou.» Entre jogadores no ativo, também houve posições tomadas.
Blatter wasn't sole responsible, more have to follow. Transparency and voting reform, then we move on and bring back ethics. #FIFA
— Vincent Kompany (@VincentKompany)
2 junho 2015