Tiago Caeiro esperou 31 anos e 56 dias até ter os holofotes da fama focados em si. Já antes, o avançado vivera momentos relevantes, quase todos com a Cruz de Cristo ao peito, mas nenhum com a amplitude mediática do golo apontado ao FC Porto, aos 85 minutos do encontro do Restelo, que espoletou o início dos festejos do 34.º título de campeão do Benfica.

«Dálcio recebe a bola na direita, puxa para o pé esquerdo e cruza rasteiro. Os centrais do FC Porto centram atenções em Abel Camará, que deixa passar a bola. Tiago Caeiro aparece nas costas de toda a gente e remata forte, sem hipóteses de defesa para Helton. O Belenenses recuperava o sonho europeu e o FC Porto dizia adeus ao título».

Actor principal no lance que resolve o campeonato, Tiago Caeiro é, naturalmente, a figura da 33.ª jornada para o Maisfutebol.

Ainda envolto num turbilhão de emoções, o avançado natural de Vila Franca de Xira descreve o momento com exatidão, sublinhando que o ponto resgatado diante dos azuis e brancos permite continuar a perseguir o objetivo europeu.

«Foi um contra-ataque em que a bola chega ao Dálcio, que a coloca na área. O Camará fez uma boa desmarcação e eu acabei por marcar golo. Naquele momento só estava a pensar em ajudar o Belenenses, porque ainda estamos a correr atrás do objetivo europeu. Só no final é que percebi o impacto que tinha tido no título», conta Tiago Caeiro em conversa com Maisfutebol, levantando o véu sobre o que se passou após o apito final do árbitro Rui Costa.

«No balneário todos me deram os parabéns porque o ponto conquistado é importante na nossa luta. Nas horas seguintes recebi muitas mensagens de familiares e amigos, alguns deles benfiquistas a agradecer a ajuda na conquista do título. É sem dúvida o golo mais mediático que alguma vez fiz», sublinhou.


Tiago Caeiro festeja com a equipa o golo do empate com no jogo com o FC Porto

O dia seguinte tem sido vivido com tranquilidade e sem tiques de vedetismo. O sentimento de dever cumprido é a única sensação que lhe enche a alma.

«Antes de entrar em campo o mister Jorge Simão pediu-me para ajudar e acrescentar algo ao trabalho que estava a ser feito pelos meus colegas. Felizmente tive a oportunidade de marcar, mas não me sinto herói. Sei o impacto que teve, porque ajudou a decidir um campeonato, mas o mais importante é ter sido útil ao Belenenses», vincou.
 
Filho de guarda-redes destaca-se na outra extremidade do campo

O golo que decidiu o título suscitou interesse em redor de Tiago Caeiro que, até então, não estava a ter uma época brilhante em termos pessoais. Apenas por duas vezes foi titular nesta edição da Liga Portuguesa, curiosamente diante de Benfica e FC Porto, e um único golo no campeonato (três no total das competições), são o cartão-de-visita do antigo avançado do Atlético.

O sangue do futebol corre-lhe, no entanto, nas veias. Filho de um antigo guarda-redes do Sporting, destacou-se na outra extremidade do campo com um percurso feito a pulso.

Habituado às dificuldades, não se resigna perante a pouca utilização, mostrando-se orgulho por dar tudo em todos os minutos em que pisa o relvado.

«Esta temporada não estava a jogar tanto como em anos anteriores, mas fui sempre sendo opção para entrar no decorrer dos jogos [ ndr. 21 presenças esta temporada]. Desta vez entrei com mais tempo e tive a felicidade de conseguir ajudar a equipa com um golo», sublinha, recorrendo ao seu percurso de carreira para vincar a mentalidade ganhadora.

«Agora estou a disputar um acesso à Liga Europa, mas já joguei na III Divisão, II Divisão e Liga de Honra [onde se sagrou campeão com o Belenenses]. Subi a pulso, com muito trabalho. Sou a prova de que para chegar à I Liga não é necessário passar pela formação do Benfica ou do Sporting. Grande parte do meu percurso na formação foi feito no Vilafranquense, clube da minha terra», recorda.

Relativamente ao futuro, Tiago mostra-se determinado e não esconde o desejo de continuar a jogar no principal escalão do futebol português.

«Sinto-me bem e o que mais quero é continuar a jogar na I Liga, seja no Belenenses ou noutro clube. O mais importante é continuar a jogar», rematou o jogador que em duas épocas festejou três golos na I Liga.


Tiago Caeiro foi duas vezes titular esta temporada, nas visitas do Belenenses à Luz e ao Dragão
 
O candidato à descida que luta pela Europa

Tiago Caeiro chegou ao plantel do Belém no verão de 2012, pela mão de Mitchell Van Der Gaag e foi decisivo na brilhante caminhada dos azuis do Restelo, contribuindo com 13 golos para o título de campeão da II Liga.

Na época seguinte estreou-se na I Liga e agora está a lutar pelo sexto lugar que dá acesso às competições europeias na próxima temporada.

«No início da época o Belenenses era candidato à descida de divisão. Com o nosso trabalho mostrámos que temos um plantel com muita qualidade e que fomos capazes de conseguir uma excelente temporada. Andámos sempre lá em cima, falta só uma jornada e vamos lutar até ao fim», analisa, lançando o encontro decisivo da próxima jornada em Barcelos que pode marcar o regresso do Belém à Europa do futebol.

«O objetivo principal era a manutenção, mas a partir do momento em que garantimos a permanência redefinimos objetivos. Vamos ter uma semana importante pela frente, sabemos que não dependemos só de nós, mas vamos acreditar até ao último minuto. Vamos fazer tudo para conquistar os três pontos na última jornada», reforça.

Confrontado sobre a possibilidade de a equipa não conseguir terminar entre os seis primeiros classificados, o avançado não esconde o desânimo, mas reforça que percurso jamais será apagado.

«As pessoas têm a noção de que a Europa não era o objetivo principal. É verdade que estamos perto de o conseguir e claro que ficamos frustrados se isso não acontecer. Ainda assim, é importante ter a noção de que uma eventual não ida às competições europeias não apaga todo o trabalho que foi feito. Estamos a realizar uma grande temporada», rematou com a mesma convicção que colocou um ponto final na luta pelo título.