No momento em que o pé direito de Rui Pedro cumprimentou a bola e despediu-se com cortesia, as bancadas de Moreira de Cónegos encolheram-se e semicerraram os olhos. Já não havia nada a fazer: Marafona voou e voou, apenas para confirmar o inevitável 0-2 para a Académica.

Rui Pedro, o mágico de Coimbra, entrara só dez minutos antes, aos 80. José Viterbo abraçou-o e pediu-o para decidir. A resposta do médio, 26 anos, não podia ser mais concludente. Dois golos e pormenores de craque.

Antes da tal bomba lançada nos derradeiros segundos, Rui Pedro fizera o primeiro da Académica de grande penalidade. Com o talento do jogador formado no FC Porto, a Briosa cresceu, cresceu, cresceu e até já vê sem obstáculos o horizonte da manutenção.

Pelos dois golos e pela importância na melhoria da Académica, Rui Pedro é a Figura da Jornada para o Maisfutebol.

OS NÚMEROS DE RUI PEDRO NA ACADÉMICA

Rui Pedro tinha nove anos quando trocou pela primeira vez de clube. Do pequeno Leverense, o menino que adorava Deco e Kaká transferiu-se para o monstruoso FC Porto. E começava nas escolinhas da Constituição uma relação que duraria uma década: 2001-2011.

Foi uma vez campeão nacional pelos dragões – nos sub19, com Ilídio Vale -, e somou 66 internacionalizações/20 golos até à Seleção Nacional de sub21.

Em 2007, o atual médio da Académica passou diretamente dos juniores para o plantel principal do FC Porto. Com Hugo Ventura e André Castro.

Ficou meia época e fez um jogo oficial. De má memória. Jesualdo Ferreira lançou-o a titular no dia 26 de setembro de 2007, mas o FC Porto caiu da Taça da Liga em Fátima. Rui Pedro foi substituído ao intervalo por Adriano.

Sem espaço no Dragão, o médio de ataque passou por empréstimos consecutivos, uns francamente negativos (Estrela Amadora e Portimonense), outros a confirmarem as melhores expetativas (Gil Vicente e Leixões).

Da relação com o FC Porto, Rui Pedro falou em 2012 ao Maisfutebol, quando brilhava com a camisola do CFR Cluj. Na Roménia e na Liga dos Campeões, onde fez um hat-trick contra o Sp. Braga.

Depois de trabalhar com Jorge Costa e Paulo Sérgio, Rui Pedro foi afetado pelas grandes dificuldades financeiras do emblema da Transilvânia. Após três anos positivos, Rui decidiu voltar a Portugal, a convite, precisamente, de Paulo Sérgio.

Destino: Coimbra.

13 vezes titular nas 16 primeiras jornadas, Rui Pedro começou a pagar a dada altura pela falta de resultados. O pouco de bom que a Académica fazia no processo ofensivo saía dos seus pés, mas não chegava.

A técnica e o pensamento do médio pareciam estar demasiado à frente no tempo e no espaço. Rui executava com certeza e os colegas hesitavam... na dúvida.

Na fase final do reinado de Paulo Sérgio, Rui passou várias vezes pelo banco, uma condição que se manteve nos três primeiros jogos de José Viterbo: 29 minutos e um golo contra o Estoril, 28 minutos contra o Arouca, dez minutos e dois golos em Moreira de Cónegos.

Duas curiosidades para fechar o texto e sublinhar a especificidade do futebol de Rui Pedro:
. marcou sempre nas três vitórias da Académica no campeonato
. tornou-se no primeiro jogador a fazer dois golos depois de saltar do banco

Serão incompatíveis as necessidades da equipa e a qualidade de Rui Pedro? Os dados mais recentes dizem que não.

E não nos digam que naquele remate contra o Moreirense não havia muito de Deco e Kaká.