Ansiedade nas primeiras horas e um nervosismo miudinho quando chegou à Mata Real para defrontar o «seu» Paços. Brilhou de Galo ao peito e deixou Carlos Barbosa, presidente do Paços de Ferreira, com os nervos em franja. Caetano falou à Maisfutebol TOTAL sobre aquele que foi o «dia mais intenso» da sua ainda curta carreira.

Até há bem pouco tempo falar de Caetano quase que rimava com Paços de Ferreira. No último domingo a história alterou-se. «A chamada está em privado até pensei que era alguém do Paços de Ferreira», atirou Caetano entre sorrisos. Foram as primeiras palavras do jovem jogador à nossa revista.

À partida, as emoções fortes já estavam garantidas para Caetano no regresso à capital do móvel. Não esperava era que fossem assim tão fortes: «Era um dia especial para mim, porque passei três anos e meio fantásticos em Paços de Ferreira. Fiquei contente pelo golo e pela assistência, mas por outro lado, marcar ao Paços é sempre complicado devido ao tempo que lá passei. Depois com aquele episódio no final claro que fiquei um bocado triste, não estava à espera».

Comecemos pelos momentos anteriores ao jogo. Como se encara o embate com aqueles que ainda há dois meses partilhava o balneário? Caetano recordou a ansiedade de quando chegou ao estádio do Paços para representar o Gil Vicente.

«Estava tranquilo, antes jogo nem quis pensar muito no assunto, mas confesso que quando cheguei ao estádio estava um pouco ansioso. Mal entrei no aquecimento passou tudo, e quando o árbitro começou o jogo o chip bloqueou e estar a jogar contra o Paços era indiferente. Sou um profissional sério naquilo que faço e só tinha que defender as cores do clube que me paga», disse.

Tudo certo até agora. O nervosismo passou mesmo, a avaliar pela prestação do extremo. O golo apontado é de levantar qualquer estádio, o passe de trivela do segundo golo, a rasgar toda a defesa pacense, só está ao alcance dos grandes jogadores. O mais importante, ressalva o jogador natural de Paredes sem puxar a si o foco do triunfo conseguido, foram os três pontos para o Gil.

«Dormi de consciência tranquila»

O pior veio depois, no final do encontro quando Caetano falava aos jornalistas na zona mista do agora denominado Estádio Capital do Móvel. Carlos Barbosa, presidente do Paços de Ferreira, atirou-se ao jogador acusando-o de ter prosseguido a jogada do segundo golo com que o Gil Vicente venceu os Castores quando Tony estava deitado no terreno de jogo.

Caetano explica o que se passou: «A bola apareceu ali quando eu estava à entrada da área, e o que fiz foi acelerar o jogo. Deu golo, mas eu nem vi o Tony no chão porque foi um lance muito rápido. Quem me conhece sabe que sou um jogador com muito fair-play, os próprios jogadores do Paços de Ferreira não me pediram para deitar a bola fora. Se há pessoas que pensam o contrário, só tenho de respeitar essa opinião.»

Com apenas 22 anos, o jovem não esconde que ficou triste com a situação, mas diz que são coisas do futebol. «São coisas normais do futebol. Estava tudo muito quente e era um jogo muito importante para o Paços de Ferreira. Fiquei um bocado triste por aquilo que se passou, mas só tenho que perceber que é o futebol, e seguir em frente para dar o meu máximo como sempre dei até agora.»

Caetano diz que não podia encarar o jogo de outra forma que não com o profissionalismo evidenciado, mesmo estando a jogar contra o seu clube: «Dormi de consciência tranquila. Fiz um jogo com muita seriedade, e isso é o mais importante. Mesmo sabendo que me identifico muito com o Paços de Ferreira, que é o meu clube, eu só tinha de encarar o jogo dessa maneira».

Não esconde que o Paços de Ferreira é o seu clube, e por isso mesmo as emoções foram «ao mais alto nível». Nada que se assemelhasse a quando defronta o FC Porto, clube que também já representou. «Estive em muitos treinos dos seniores, mas nunca me senti como sénior do FC Porto. Agora em Paços senti muito mais, porque defrontei ontem os meus colegas de há dois meses atrás. Foram emoções ao mais alto nível.»

Do Paredes às oportunidades de Jesualdo Ferreira

Ao todo, Caetano vestiu quatro camisolas enquanto jogador. Duas como profissional, e duas na formação. Curiosamente, começou a jogar num clube no qual o pai era presidente, o Paredes da cidade de onde é natural.

«Comecei a jogar no clube da minha cidade, no Paredes. Na altura o meu pai era presidente do clube. Foi lá que dei os primeiros pontapés na bola. Nos iniciados, quando tinha treze anos, mudei-me para o Porto, onde estive seis anos», referiu o jogador.

Apesar de franzino e pequeno, facto de que nem se importa «sinto-me bem assim e gosto de ser assim», Caetano despertou o interesse do FC Porto. Mudou-se para os dragões nos iniciados, chegando aos juniores com um grande estatuto, inclusive marcando já presença regular nos treinos dos seniores.

Jesualdo Ferreira convocou-o várias vezes, mas no final da época preferiu sair para o Paços a ser emprestado a um clube do segundo escalão: «O meu último ano de júnior foi muito bom, era chamado com muita regularidade pelo mister Jesualdo Ferreira e cheguei a integrar algumas convocatórias, mas é complicado. Ia assinar um contrato de um ano, mas era para ir para um clube da segunda divisão. Havia clubes da primeira divisão interessados e acordamos que o melhor era eu sair por mútuo acordo».

Seguiu-se o Paços de Ferreira, e apesar dos acontecimentos com o presidente Carlos Barbosa, Caetano só guarda boas recordações do clube da Capital do Móvel: «Foi um período fantástico. Vivi lá os melhores momentos daquele clube. Tive na final da Taça da Liga, conseguimos o terceiro lugar na época passada e joguei na Liga dos Campeões. Foi fantástico e só tenho a agradecer aquele clube e aquela gente. Só guardo boas recordações».

Ao fim de três épocas e meia nos Castores, Caetano rumou a Barcelos para representar o Gil Vicente. Ao nono jogo com a camisola do Gil estreou-se a marcar à antiga equipa, o ponto alto até agora da sua estadia no Minho. Diz estar muito contente no Gil Vicente: «Estou muito contente no Gil Vicente, é um clube que me seduziu porque tem um projeto sólido e cimentado, um clube muito ambicioso que olha para o futuro. Mostrou muito interesse em mim e eu também me agradei com o projeto apresentado».

Sem ressentimentos do Paços e com muito a conquistar no futebol

Sem ressentimentos, Caetano espera que o Paços de Ferreira saia o mais rápido possível da cauda da tabela. O desentendimento com presidente Carlos Barbosa, que o deixou mesmo em lágrimas, não retira o sentimento que Caetano nutre pelo Paços.

«O Paços também é um clube fantástico, um clube muito familiar onde as pessoas se sentem bem. Estou convicto que eles vão voltar às vitórias, a qualidade que têm não traduz o resultado em que estão. Mais tarde ou mais cedo vão sair dali», atirou.

Baixinho em tamanho mas grande em objetivos, Caetano afirma que tem ainda muito para conquistar no futebol. «Tenho muito aprender no futebol. Com 22 anos já tenho muitos jogos na primeira liga, já passei por algumas experiências nas seleções, mas ainda tenho muito a conquistar. Sou uma pessoa ambiciosa, luto todos os dias para chegar cada vez mais longe», disse à Maisfutebol TOTAL.