Era julho de 2010, mês e ano da anunciada chegada de Eduardo Gottardi ao futebol português. O guardião brasileiro estava no Juventude Caxias, um clube do estado em que nasceu, o Rio Grande do Sul. Nesse verão, atravessou o Atlântico para ser o titular da U. Leiria por uma época e meia. Agora, é no Nacional que joga, é o derradeiro guardião da Choupana, onde no domingo fez um exibição espantosa, transformou-se na figura da jornada e a garantiu que o dérbi do Funchal era, desta vez, alvinegro.

A dupla defesa ao minuto 36 e a sequência de paradas logo a seguir à hora de jogo com o Marítimo elevaram Gottardi à categoria de herói e vilão na ilha, consoante as cores com que se olha o dérbi, claro. O jogo confirmou apenas o que os números já indicavam: esta é a melhor época do guarda-redes de 28 anos.

O nome diz tudo sobre o passado: Gottardi tem ascendência italiana. O que é normal pelo estado gaúcho, ainda mais em Encantado, onde nasceu. Reza a lenda da cidade que dois índios ficaram encantados com um vulto branco, espécie de fantasma, que lhes apareceu quando viajavam pelo rio Taqueri. Daí o nome deste município brasileiro onde impera a influência italiana, uma nacionalidade que deu ao mundo alguns dos principais nomes das balizas.

Ora, encantado terá ficado Pedro Caixinha quando trabalhou com o guarda-redes em Leiria. Gottardi chegou à União em 2010/11 e foi logo titular: participou em 28 jogos da temporada, com 26 na Liga e dois na Taça da Liga. 



Gottardi na U. Leiria

Uma época boa. Em nada semelhante à seguinte. A Leiria chegou Jan Oblak, um rapaz de 18 anos, emprestado pelo Benfica. Gottardi não se moveu, porém. Manteve-se firme na baliza leiriense. No entanto, em janeiro, o U. Leiria-Benfica, 0-4 foi o último jogo que fez pelos do Lis. Uma lesão retirou-o de competição. Jan Oblak avançou para a titularidade e Gottardi tornou-se suplente.

Os problemas não acabaram aí. A União de Leiria vivia uma situação financeira dramática com as repercussões conhecidas. Curiosamente, Gottardi surgia sempre nas notícias como dos poucos jogadores com contrato com a União que tinham a situação salarial mais ou menos em dia. No final de 2011/12, o fim anunciado da SAD libertou Gottardi.

Ainda não era verão em 2012 quando Gottardi ficou a meio caminho. O que para um guarda-redes poderia não ser bom. No caso, o brasileiro ficou entre onde estava e de onde tinha vindo. Entre Leiria e o Brasil, parou na Madeira. 

 
Depois deste jogo, Gottardi perdeu a titularidade para Oblak, mas voltaria à Liga via Nacional da Madeira


Pedro Caixinha foi o técnico que o levou para o Funchal. Lá o deixou, é certo, com Gottardi a arrancar para 25 jogos, 21 deles na Liga, um na Taça de Portugal e mais três na Taça da Liga. Os números elevam-se para 2013/14. Gottardi é um dos sete futebolistas que fez todos os minutos dos 27 jogos que a Liga já teve, para além de mais duas partidas, divididas pelas taças nacionais.

No dérbi, no sábado, elevou para oito os jogos sem sofrer golos na temporada. Saiu como figura do encontro, saiu com nota 5 para o Maisfutebol, e saiu como um grande da jornada, tão grande que o Marítimo esteve tantas vezes perto de marcar, mas nunca o conseguiu porque Gottardi foi do tamanho da baliza.