Ao segundo jogo de cinco previstos para esta época entre Sp. Braga e Rio Ave a história deste duelo especial entre estes dois clubes nesta temporada continua a escrever-se com Hassan a ter enorme protagonismo.

O avançado que saiu do clube vilacondense para o bracarense foi decisivo nas duas partidas já disputadas e, na deste domingo, teve preponderância tal que, com os dois primeiros golos do jogo e a assistência para o terceiro dos minhotos, é a Figura da Jornada para o Maisfutebol.

Mas não foi só a capacidade concretizadora de Hassan e a sua influência na equipa que deixaram o egípcio em destaque. Sobressaiu ainda que avançado marcou os dois primeiros golos do Sp. Braga e não festejou porque os marcou contra a sua antiga equipa. E reconheceu isso com os gestos de calma pelo meio dos festejos dos companheiros de equipa.

Este foi o segundo jogo para a Liga entre os dois clubes. No primeiro, na 2ª jornada do campeonato, ganhou o Rio Ave. Por 1-0. O autor do golo foi Hassan, ele que ainda começou a prova em Vila do Conde, num início de época atribulado.

Hassan foi para o Rio Ave ainda júnior. No final da última temporada esteve para ir para o Benfica. A mudança para a Luz não se concretizou e, já nesta época, transferiu-se para o Sp. Braga. Há pouco meses sofreu a perda do pai. Reage com golos e profissionalismo – jogou contra o Marselha no dia seguinte ao falecimento do seu pai e em nome dele marcou.

Já com mais três jogos marcados para esta época entre os dois emblemas (a última jornada do Grupo D da Taça da Liga onde vai decidir-se quem passa às meias-finais e as duas mãos das semifinais da Taça de Portugal), Hassan voltou a ser decisivo neste domingo. E reconhecido. Não festejou.



«É um sinal de respeito pelos clubes», pois «fica bem marcar» e o que «não fica bem é festejar», diz ao Maisfutebol Fernando Mendes, antigo jogador de FC Porto, Boavista ou Benfica que marcou golos as estes mesmos clubes representando alguns deles ou ainda outros emblemas. E, quando assim é, há «o agradecimento e o carinho pelos clubes anteriores» onde se jogou.

Paulo Alves também serviu vários clubes e, como ponta-de-lança, ainda marcou mais golos a uma vasta série de equipas que já tinha feito parte. Também ele sabe o que é marcar a Gil Vicente, Sp. Braga, Marítimo, Sporting ou U. Leiria depois de lá já ter estado. E sabe também o que se passou com Hassan: «Tem a ver com o reconhecimento pelo clube por onde os jogadores passaram, como foram tratados e como os clubes foram importantes na sua formação ou na sua projeção.»

Quando acontece um golo destes «vem tudo à cabeça, o reconhecimento para não se festejar, dando a entender que se foi muto bem tratado», conta Paulo Alves ao Maisfutebol concluindo que «o Hassan teve uma passagem feliz pelo Rio Ave e terá sido muito acarinhado pelo clube».

Quando deixou Vila do Conde para ir para Braga sem saber que golos iria marcar, o egípcio fez questão desde logo de vincar o reconhecimento que agora voltou a ter.

Não é inédito. Aconteceu nesta jornada. Na época passada, por exemplo, aconteceu com Álvaro Morata nas meias-finais da Liga dos Campeões. A Juventus apurou-se para a final. Morata marcou nos dois jogos com o Real Madrid. (vitória por 2-1 em Itália e empate 1-1 em Espanha). E não festejou – independentemente de ter saído porque não tinha lugar nas principais opções dos «merengues».

E há muitos outros casis. No campeonato deste ano, precisamente, já aconteceu com dois irmãos em golos relacionados com jogos do Sporting. João Mário não festejou frente ao V. Setúbal (que representou há duas épocas) no triunfo dos leões (6-0). Wilson Eduardo não festejou em Alvalade frente ao clube que o formou depois de colocar o Sp. Braga na frente do jogo da 17ª jornada que os leões acabaram por vencer (3-2).

«O Wilson Eduardo é compreensível e de que maneira. Foi fantástico ver», afirma Fernando Mendes destacando que o avançado do Sp. Braga foi formado em Alvalade e «mostrou esse reconhecimento. Já «o João Mário mostrou o agradecimento». «Foi emprestado quando estava na equipa B, [estar no V. Setúbal] permitiu-lhe aparecer para o futebol e abriu-lhe de certeza as portas para a equipa principal do Sporting.»



Paulo Alves refere também que «ao longo da carreira vai haver um momento de reconhecimento» e mais «momentos marcantes», mas o avançado lembra também que há outros fatores para além dos sentimentais. A propósito da rapidez com que Salvador Agra não festejou nem deixou de festejar quando reduziu para 2-3 a desvantagem do Nacional para com o Sp. Braga, o atual treinador do Penafiel caracteriza esta «situação diferente» destacando que, «independentemente do reconhecimento, existe o lado profissional, de se defender com unhas e dentes o que clube que se representa».

«Há algo que os jogadores nunca podem descurar que é a imagem de marca como profissionais» sendo por isso «importante conjugar o reconhecimento por tudo, pelas oportunidades, e o outro lado onde tem de estar o brio e o profissionalismo», diz Paulo Alves.

Fernando Mendes conta inclusivamente que «quando estava no Porto, com o Boavista, foi ao contrário». «Festejei, e de que maneira, por causa da rivalidade que havia», conta antigo lateral esquerdo com um jogo em que marcou os dois golos da vitória dos dragões na memória: «Quando me aconteceu, estava-se numa fase difícil do campeonato. E depende da situação em que se está e da importância dos golos que se marca.» «É normal haver carinho pelo clube que já se representou. Mas é-se um profissional», lembra.