Em janeiro o Belenenses operou uma mini-revolução no plantel. Terminada a aventura europeia, saíram nomes fortes como Kuca ou Luís Leal, além de Betinho ou Dálcio, que interromperem os seus empréstimos para um regresso a casa. Entraram outras caras, algumas sonantes.

Abel Aguilar e Bakic chamaram para si os holofotes quase todos e pouca luz chegou para iluminar um espanhol, ponta de lança de «apenas» 1m77cm oriundo do Llagostera, da II Liga espanhola. Juanto Ortuño foi visto como uma aposta do treinador Julio Velazquez, que, entretanto, substituíra Ricardo Sá Pinto.

Aproveitando a sombra dos outros craques, Juanto trabalhou para fazer do Restelo um ponto de viragem na carreira. Era a primeira aventura fora de Espanha e vinha de três experiências mal sucedidas ou, pelo menos, sem brilho.

No Llagostera fizera três golos em 13 encontros, tendo ainda bem fresca uma época 2014/15 dividida entre dois clubes, também. Mas ainda alheado do sucesso. Dois golos em 18 jogos pelo Sabadell e outros dois em dez jogos pelo Murcia.

O Belenenses abriu-lhe as portas de uma I Divisão europeia pela primeira vez na sua carreira. E ele vai fazendo pela vida. Velazquez conheci-o dos tempos do Villarreal B, tendo-o treinado na temporada 2011/12, quando o português Mano, agora no Estoril, também integrava o plantel.

Em Portugal, Juanto teve impacto imediato e, desta feita, é mesmo a Figura da Jornada 30 para o Maisfutebol, depois de apontar o golo que ajudou o Belenenses a confirmar, matematicamente, a manutenção na Liga, num ano difícil sobretudo pelos conhecidos diferentes entre clube e SAD.

Para esta escolha, contudo, não contribuiu apenas o rendimento do espanhol na jornada atual, mas nas duas últimas. Afinal, antes de garantir um ponto para os do Restelo, este domingo, já tinha, também, confirmado três na ronda anterior, frente ao V. Setúbal.

Juanto é, nesta altura, o avançado com melhor média do plantel do Belenenses (6 golos em 11 jogos), marcando um golo a cada 128 minutos, menos de um jogo e meio. Além disso, é também já o segundo melhor marcador da equipa no registo global, ficando a apenas dois golos de Tiago Caeiro.

Bakic e Juanto, dois reforços de Inverno do Belenenses

Os golos de Juanto Ortuño ao serviço do Belenenses

Liga (Jornada 19): Belenenses-V. Guimarães, 3-3, apontou o 3-2

Taça da Liga (Grupo D): Belenenses-Leixões, 4-0, bisou fazendo o terceiro e quarto golo, depois de sair do banco

Liga (Jornada 24): Belenenses-FC Porto, 1-2, fez o golo de honra da sua equipa

Liga (Jornada 29): V. Setúbal-Belenenses, 0-1, fez o golo da vitória

Liga (Jornada 30): Belenenses-Académica, 1-1, fez o golo da sua equipa

Pode ser a referência no ataque que o Belenenses precisa

Juanto até começou por ser médio ofensivo durante o seu período de formação em Espanha, concluído no Albacete, de onde saltou para o Villarreal. No «submarino amarelo» não conseguiu passar da equipa B, como se disse.

No Restelo assume papel importante na resolução de um problema que existe na equipa praticamente desde o início da temporada: a falta de um goleador referência.

Mesmo que Tiago Caeiro some oito golos na Liga, o português não consegue assumir-se como titular indiscutível na equipa (oito vezes titular, 14 vezes suplente utilizado na Liga). Juanto, é verdade, também não é um indiscutível no onze, mas a percentagem é superior (seis vezes titular na Liga, três suplente). Basta aliás ver que Luís Leal, contratado no início da época para ser a grande referência do ataque, não passou dos três golos em 17 jogos. Juanto já tinha três aos…três jogos.

Assim, como se disse, no Restelo ainda não há um goleador por excelência. Basta sublinhar que, das 18 equipas da Liga, em apenas três o melhor marcador tem menos golos do que o melhor do Belenenses: Arouca (Maurides com 5), Boavista (Zé Manuel com 4) e Académica (Pedro Nuno, Gonçalo Paciência, Rafael Lopes e João Real, com 3).

Juanto em ação frente ao Benfica

Uma aposta com sentido

A contratação, com claro dedo do treinador, é fácil de entender. Como se disse, Juanto foi jogador de Julio Velazquez durante a passagem pela equipa B do Villarreal. E foi esse o melhor período da carreira do avançado antes da chegada a Lisboa.

Ao todo, ao longo de duas temporadas, entre 2012 e 2014 apontou 32 golos, divididos por 84 jogos. Ainda assim não foi suficiente para merecer uma oportunidade na equipa principal que, nesse período, foi treinada por Marcelino Toral e pelo próprio Julio Velazquez.

O mesmo treinador que não apostou nele em Espanha, lembrou-se do irrequieto avançado para trazer mais golo ao futebol do Belenenses. A amostra ainda não é grande, mas a resposta, até ver, é positiva.

Juanto tem mais um ano de contrato e, agora que a manutenção está matematicamente confirmada, pode ter a tranquilidade para mostrar ainda mais. A amostra é prometedora, mesmo que tenha necessitado de passar a fronteira para ter a primeira grande oportunidade da carreira.