O 37º e último golo de Fredy Montero com a camisola do Sporting valeu a permanência dos leões na liderança isolada da Liga – e evitou que um erro de arbitragem, de Cosme Machado, tivesse consequências diretas e imediatas no topo da tabela. Só por isso, o colombiano já seria forte candidato a figura da 20ª jornada. Mas, com a oficialização da sua partida para os chineses do Tianjin Teda o simbolismo do seu golo à Académica sai reforçado - e transforma-se num bom resumo do que melhor teve a sua passagem de dois anos e meio pelo futebol português, e por Alvalade - e não nos referimos apenas à receção apertada e à conclusão discreta, de pé esquerdo, que bateu Pedro Trigueira.
 
Mesmo com o estatuto de primeira referência do ataque leonino perdido para Slimani, na época passada, o colombiano nunca deixou de ser útil aos leões. Se é verdade que não voltou a aproximar-se da eficácia revelada nos primeiros quatro meses (16 golos em 14 jogos, entre agosto e dezembro de 2013) também nunca deixou de, com regularidade, marcar golos que valeram pontos e – num caso em particular – até troféus. Falamos, claro, do golo em período de descontos que valeu o empate com o Sp. Braga, na final da Taça, e a consequente vitória do Sporting no desempate por grandes penalidades.
 

 
Se esse golo no Jamor foi, porventura, o golo de maior impacto no trajeto leonino de Montero, uma contabilidade rápida permite avaliar até que ponto os seus 27 golos para a Liga, de leão ao peito, tiveram tradução direta em pontos. Considerando apenas os golos com influência direta no desfecho, eis a folha de serviços do colombiano nesta duas épocas e meia:
 
Golos de Montero com impacto pontual direto
2013/14 (nove pontos)
Benfica (único golo num empate 1-1) (um ponto)
Olhanense (primeiro golo de uma vitória 0-2) (dois pontos)
Sp. Braga (primeiro golo numa vitória 2-1) (dois pontos)
V. Setúbal (primeiro golo numa vitória 4-0) (dois pontos)
Gil Vicente (dois golos numa vitória 2-0) (dois pontos)
 
2014/15 (oito pontos)
P. Ferreira (único golo num empate 1-1) (um ponto)
Moreirense (único golo num empate 1-1) (um ponto)
Rio Ave (golo da reviravolta numa vitória 4-2) (dois pontos)
Arouca (golo da reviravolta numa vitória 3-1) (dois pontos)
Nacional (dois golos numa vitória 2-0) (dois pontos)
 
2015/16 (seis pontos)
Nacional (único golo em vitória 1-0) (dois pontos)
Sp. Braga (golo do 2-2 para vitória 3-2) (dois pontos)
Académica (último golo em vitória por 3-2) (dois pontos)
 
Aos 16 golos em da primeira época (em 2350 minutos, à média de um golo a cada 147 minutos) seguiram-se 15 no ano seguinte, com muito mais jogos a partir do banco. Daí que a média tenha até melhorado ligeiramente (um golo a cada 144 minutos). Começou aí a aprofundar-se um perfil distinto do da época de estreia: o de um «matador» que chegava tarde, mas a tempo de decidir jogos. A característica manteve-se nesta terceira temporada, apesar de ter sido aquela em que o seu contributo para a equipa foi mais discreto – eclipsado pela superforma de Slimani, baixou a média para um golo a cada 210 minutos.
 
Especialista no último quarto de hora
 
O golo à Académica foi o terceiro de Montero como suplente, na atual temporada. E, tal como os anteriores, valeu pontos. O primeiro, em setembro, foi o único dos leões na vitória sobre o Nacional (1-0) em Alvalade. O segundo, a 10 de janeiro, ajudou à reviravolta na Liga sobre o Sp. Braga (de 0-2 para 3-2). E este último, sobre a Académica, consumou o 3-2 - que evitou o segundo empate caseiro consecutivo dos leões com equipas do fundo da tabela.
 
Ponto comum a estes três golos? Todos eles foram alcançados nos últimos 15 minutos da partida, como aliás, 12 dos 37 tentos de Montero pelos leões - um terço do total. Nem sempre foi assim, claro: na primeira época, a eficácia de Fredy ainda se distribuía pelas duas partes do jogo (6 golos antes do intervalo, 10, depois). Mas, com a afirmação de Slimani, o número 10 dos leões especializou-se em golos tardios: dos 15 que marcou em 2014/15, 13 foram-no depois do intervalo. E, na época atual, também só por duas vezes tinha marcado no primeiro tempo – nos dois casos, em jogos para a Liga Europa.
 
Outra característica de Fredy Montero, bem patente no seu último golo pelos leões, é a preferência por Alvalade. Foi lá que se estreou na Liga com um hat-trick, perante o Arouca, e foi lá que marcou 24 dos seus 37 golos – e cinco dos últimos seis, na época em curso.
 
Recorde dez estórias que contam a história de Fredy Montero
 
De malas feitas para a China, mesmo nunca tendo repetido a média assombrosa dos primeiros meses – que, aliás, também nunca tinha alcançado nos outros clubes por onde passou, Montero é, para todos os efeitos, um jogador que deixa boa imagem em Alvalade - e um impacto positivo na Liga lusa. O resto da temporada dirá se os seus golos ao cair do pano vão ou não fazer falta ao Sporting – afinal, seis dos 51 pontos dos leões nesta Liga têm a sua assinatura direta.