Um, dois, três… Ao quarto jogo na Liga Portuguesa Okacha Hamzaoui precisou de estar apenas uma hora em campo para fazer os três golos que deram a vitória ao Nacional em Santa Maria da Feira, tornando-se no primeiro jogador a fazer um hat-trick nesta edição da Liga – algo que não acontecia há sete meses, desde Léo Bonatini, no 3-0 do Estoril sobre o V. Setúbal.

Um jogo bastou para que o avançado argelino de 25 anos passasse de ilustre desconhecido a grande figura da 6.ª jornada – nota 5 para a redação do Maisfutebol – não só pelo hat-trick mas também pela forma como se estreou a marcar em Portugal, com um impressionante pontapé de bicicleta à entrada da área.

Vale a pena então conhecer Hamzaoui, apesar da dificuldade evidente que nos impede um contacto direto com o jogador: o avançado que o Nacional resgatou ao Mouloudia Béjaia neste defeso fala apenas árabe, pelo que o essencial da comunicação faz-se através do clube insular.

Campeão militar inspirado por Slimani

Pode mesmo empregar-se o termo resgate já que este atirador que em campo se mostra de pontaria afinada era soldado do exército argelino e tinha mais um ano de serviço militar obrigatório por cumprir. O contrato profissional em Portugal libertou Hamzaoui, que não é internacional pela Argélia, mas fez parte da seleção militar do país, que no ano passado ganhou a medalha de ouro nos Jogos Mundiais Militares, que se disputaram na Coreia do Sul, competição em que apontou dois golos.

A sua contratação surgiu por indicação de Hichem Belkaroui, defesa-central argelino que na época passada representou a equipa da Choupana e que agora voltou à Tunísia para jogar pelo Espérance de Tunis, e um dos motivos da escolha foi a inspiração de Islam Slimani, amigo pessoal e colega de seleção de Hichem, que também saiu do campeonato argelino, impôs-se em Portugal e agora joga na Premier League.

Aos 25 anos, este avançado nascido em Aïn Kermes, a 300 quilómetros e mais de cinco horas de viagem da capital Argel, que começou a sua carreira como sénior no Union Sportive Medinat Bel Abbès vê Portugal como a porta de entrada na Europa. Por esse motivo recusou neste defeso tanto a renovação com o Mouloudia, apesar de ídolo no clube que levou ao vice-campeonato e à conquista da primeira Taça da Argélia da sua história, como propostas de outros clubes do seu país e do segundo escalão do futebol francês mais vantajosas do que a do Nacional.

Família, fé e uma amizade improvável

Optou pela Madeira e trouxe para viver consigo a mulher e a filha de cinco meses. A família Hamzaoui está a adaptar-se bem, apesar da barreira linguística, e o islão é também um suporte importante. Okacha é muito religioso: cumpriu rigorosamente o ramadão, reza nos horários estipulados e sempre que pode visita a Mesquita do Funchal, no bairro de Santo Amaro.

Essa é também uma das etapas da integração deste jogador que se destaca pela qualidade técnica, jogo aéreo, combatividade e qualidade na finalização, conforme sublinha quem acompanha o seu dia-a-dia.

Os colegas do plantel também ajudam na adaptação do goleador argelino, que além da natural proximidade com o médio egípcio Ali Ghazal e com o turco-belga Sinan Bolat tem uma curiosa amizade com o seu concorrente na frente de ataque Nelson Bonilla.

Bonilla é natural de El Salvador, fala espanhol e algum inglês, enquanto Hamzaoui fala árabe e socorre-se de algumas palavras em francês. A comunicação, no entanto, não parece ser uma barreira na amizade entre ambos e no último sábado, em Santa Maria da Feira, assim que apontou o golaço de «bicicleta» que assinou a sua estreia a marcar em Portugal o argelino correu para o banco para abraçar o salvadorenho comprovando que, afinal, a linguagem do futebol é universal.