16’ Pizzi entra na área em lance de contra-ataque e remata para a primeira defesa de Casillas no jogo. Bem colocado, só teve de sacudir.

35’ Jonas encontra espaço na área e remata em arco. Casillas adivinha a intenção e, em voo, desvia da baliza com uma palmada

52’ Mais um contra-ataque do Benfica, Pizzi entrega a Gaitán. O argentino remata e com a luva esquerda, no solo, Casillas desvia para canto (foto abaixo)

68’ Cruzamento na esquerda de Gaitán, disparate de Indi que quase faz autogolo. Casillas, com reflexos incríveis, evita que a bola entre

69’ Jogada algo confusa no ataque do Benfica, cruzamento a apanhar Mitroglou que desvia de sola e Casillas defende com o pé, sem tempo para mais

Foram estes cinco lances, essencialmente, que tornaram Iker Casillas na figura maior do Clássico da Luz e, por arrasto, também da 22ª jornada da Liga. A exibição monstruosa do guardião chegou, inclusive, a roubar holofotes aos restantes companheiros, o que até motivou críticas por parte do FC Porto.

A verdade, contudo, é que a noite de sexta-feira foi a melhor amostra de Casillas em Portugal, ele que parece talhado para jogos com o Benfica. Já no Dragão, na primeira volta, em duas intervenções na primeira parte, tinha-se mostrado importante a salvaguardar o nulo que André André iria desfazer perto do fim.

São assim os craques das balizas. Por muito que tenham deslizes comprometedores (com Guimarães a surgir à cabeça), costumam aparecer e destacar-se nos momentos decisivos. E o FC Porto teve, na Luz, o guarda-redes que precisava.

Para Casillas foi, também, um jogo muito importante para recuperar a aura que parecia em quebra, com muitas críticas inclusive na imprensa do seu país. A mesma que se rendeu novamente à noite de glória do capitão da seleção espanhola.

90 minutos para acrescentar à lenda de «San» Iker, que muitos achavam terminada, mas que terá, necessariamente, de ter uma página para a passagem pelo FC Porto, mesmo que nada mais seja acrescentado daqui para a frente. A forma como ajudou à vitória no Clássico da Luz será lembrada por muito tempo, sobretudo em Portugal, claro.

Aos 34 anos, Casillas mostrou que ainda pode dar novos motivos para ser recordado, mesmo depois de um par de anos em quebra no Real Madrid, depois do desentendimento com José Mourinho.

A verdade é que, mesmo já tendo sido a figura da jornada 11, quando defendeu em cima da meta uma grande penalidade no jogo com o Tondela, o duelo da Luz é mesmo a melhor amostra daquele que foi eleito melhor guarda-redes do mundo, de forma consecutiva, entre 2008 e 2012.

Ainda assim a sua lenda remonta a alguns anos antes.

A noite de Glasgow que mostrou ao mundo o talento do miúdo

O início de tudo terá sido na primeira exibição portentosa da carreira, em 2002, na final da Liga dos Campeões. Um jogo em que até começou no banco de suplentes. O Real Madrid dos «Galáticos» enfrentava o Bayer Leverkusen, equipa sensação da prova. César foi o titular, mas lesionou-se aos 22 minutos, entrando então o jovem Casillas, apenas com 21 anos, com o jogo empatado a um.

O Real Madrid iria chegar-se à frente em cima do intervalo, no famoso golo de Zidane, mas foi Casillas a segurar a conquista da nona Liga dos Campeões com um par de intervenções na reta final, aquando do último assalto alemão às redes madrilenas.

O jogo foi decisivo para a afirmação de Casillas como titular do Real Madrid. A partir da época seguinte, salvo raras exceções, foi o dono das redes «merengues» até ao tal conflito com Mourinho.

A sua vocação para a tarefa passou a ser praticamente unânime, mas, também por defender a baliza de uma equipa que não tem por hábito conceder muitas oportunidades de golo, não há um leque gigante de noites com exibições de luxo no que à quantidade de defesas diz respeito, tal como aconteceu na Luz.

Mas há alguns casos. O jogo da 34ª jornada da Liga 2007/08, frente ao Atletico Bilbao, é recordado muitas vezes. Casillas esteve imparável e até um penálti deteve, num triunfo por 3-0.

Da defesa à Gordon Banks ao pé de ouro para o título mundial

Na longa lista de defesas da carreira de Iker Casillas há duas que sobressaem. Pela dificuldade, pelo simbolismo e, sobretudo, a segunda, pelo caráter decisivo.

Comecemos pelo «momento Gordon Banks» protagonizado na Liga 2009/10 frente ao Sevilha, na 6ª jornada da Liga. O Real Madrid até perdeu o jogo (2-1) mas para a história fica o momento em que Casillas defendeu um golo. A expressão é propositada para tentar explicar o que o, agora, guardião do FC Porto fez na frente de Perotti.

Se as palavras não servirem, pode sempre recordar em vídeo:

O momento foi, instantaneamente, comparado à defesa do inglês Gordon Banks frente a Pelé, no Inglaterra-Brasil no Mundial de 70 e que foi considerada a «defesa do século».

O próprio Gordon Banks comentou o momento de Casillas em Sevilha: «Tem uns reflexos incríveis. Se continuar assim vai converter-se num dos melhores guarda-redes da história do futebol».

A verdade é que, poucos anos depois, em 2011, Casillas fez quase uma cópia desse momento, no mesmo palco!

A tal «segunda defesa» famosa é o inesquecível momento da final do Mundial 2010 em que com a ponta do pé nega o golo a Arjen Robben, que estava isolado. O jogo entre Espanha e Holanda estava no minuto 61 e sem qualquer golo. Casillas segurou o nulo, Iniesta deu o título mundial à Espanha no prolongamento.

O Clássico da Luz, por muito que seja um dos pontos altos da temporada futebolística em Portugal, nunca terá, naturalmente, o peso de um jogo que decide o campeão do mundo. Mas a coleção de intervenções de Casillas no palco onde ergueu a Décima Liga dos Campeões do Real Madrid, entra de caras para o seu álbum de memórias. E para o de todos os que amam o futebol.