Dois golos, ambos de cabeça, três pontos e uma vitória importante para o Paços de Ferreira na fuga aos lugares mais intranquilos da tabela. A exibição de Welthon na receção dos pacenses ao V. Setúbal (2-1), na tarde de domingo, valeu nota máxima (a segunda para o jogador nesta época) e a eleição do avançado brasileiro como figura da jornada 22 para a redação do Maisfutebol.

No relvado da Mata Real vimos Welthon na sua versão mais letal. Uma espécie «Romário dos remediados», pelo porte atarracado e gingão, mas sobretudo pela habilidade e velocidade de execução.

Concordará com o elogio? Bem, Welthon era uma criança nos tempos áureos do «Baixinho» (e ele próprio nem é tão baixinho assim), pelo que os seus modelos de virtudes são bem mais recentes.

«O meu negócio é fazer golos. Não tenho ídolos, mas admiro o Cristiano Ronaldo, pela forma como trabalha de forma incansável para ser o melhor, e também o Neymar, pela habilidade e por ser brasileiro», começa por referir o ponta-de-lança ao Maisfutebol. «Neymar inspirou-o também no corte de cabelo (num estilo moicano)?», perguntamos. Welthon esclarece, entre risos: «Nem por isso… O meu cabelo não dá mesmo para pentear, pelo que tenho de fazer este tipo de experiências.»

Tuna Luso como prenuncio para Portugal

A excelente exibição diante do V. Setúbal não é um caso isolado deste matador nascido e crescido em Belém, no estado do Pará, no Norte do Brasil. Aos 24 anos, ele está a causar sensação na sua época de estreia no principal escalão do futebol português: fez o quinto bis da temporada (o último havia sido em Alvalade, na 19.ª jornada), o 16.º golo em 28 jogos e, juntamente com Mitroglou e Soares, ocupa o último lugar do pódio dos melhores marcadores da Liga, com 11 golos.

«Esperava afirmar-me no Paços, mas sinceramente não esperava render tanto nesta primeira época», conta ao Maisfutebol o jogador que teve uma passagem fugaz pela equipa B do Sp. Braga na primeira metade da época 2013/14 (dois golos em nove jogos).

Essa foi a única experiência fora do Brasil, antes de no início desta temporada ser contratado pelo Paços de Ferreira: «Foi uma experiência curta, mas não tive propriamente problemas de adaptação. Aqui o futebol é mais tático, mais jogo de equipa. No Brasil, é mais drible e ousadia.»

Welthon aprendeu esse futebol de bola no pé nas ruas do seu bairro, Benguí, em Belém. Filho de pais separados, foi criado pela mãe, empregada de limpeza. É um jovem religioso. De tal forma que aponta os indicadores para os céus sempre que celebra um golo. Teve fé que ia ser profissional de futebol. O trabalho e o talento fez o resto.

Aos 14 anos, começou a jogar mais a sério na Tuna Luso, um clube centenário fundado por portugueses, uma espécie de prenúncio para a sua carreira – «O uniforme é parecido com o do Paços, a diferença é que é verde com uma lista branca».

Em Paços com a família por perto

Seguiram-se meia dúzia de clubes no percurso como profissional, entre os quais os grandes rivais da cidade e do seu estado natal, Paysandu e Remo, de onde saiu no início da época para o Paços, onde agora brilha com a camisola 7 e é escolha indiscutível nas opções de ataque do técnico Vasco Seabra.

«Voltar a Portugal foi o passo certo», reconhece o jogador. A adaptação ao futebol e à vida fora do relvado não podia ser melhor. Vive em Paços com a mãe, a mulher e a filha e na cidade reencontrou o seu primo Christian, médio de 27 anos que cumpre a segunda época no clube da Capital do Móvel – «Ele vive aqui perto, convivemos muito, claro.»

O presente é de felicidade. E o futuro? «Não penso nisso. O importante é que o Paços consiga uma boa prestação na Liga.» E golos? «Quero marcar mais e mais, claro. Quantos? Os suficientes para ajudar a equipa.»