Num fim de semana ensanduichado entre jornadas de Champions, o cataclismo do Barcelona em Paris, na terça-feira, permaneceu em pano de fundo. Parecia que a visita do Leganés ao Camp Nou era uma excelente oportunidade para atenuar as feridas, mas o que se viu neste domingo só serviu para acentuar a impressão de que a melhor equipa deste século (no mínimo...) está numa encruzilhada muito difícil de resolver.

É verdade que o talento de Messi, a abrir e a fechar, garantiu os mínimos e manteve distâncias para o líder. Mas os sinais de alerta estão lá todos: das ocasiões perdidas pelo Leganés à forma como o argentino não celebrou o golo da vitória; ou como a assistência, com menos 20 mil espectadores do que o habitual, se dividiu entre o apoio e as vaias a Luis Enrique; ou ainda o facto, inédito no historial do clube, de alinhar de início com dez estrangeiros, rompendo com um dos seus principais fatores de identidade.

Por contraste, o Real Madrid está numa daquelas fases em que tudo parece ajudar: depois da reviravolta sobre o Nápoles, as poupanças de Zidane não impediram uma vitória relativamente tranquila sobre o Espanhol e o regressado Bale precisou apenas de uma dúzia de minutos para mostrar aos adeptos que está totalmente recuperado.

Com Ronaldo em seca de golos – mas a jogar bem, e a fazer coisas destas - e com um calendário sobrecarregado para acertar os jogos em atraso, os merengues bem precisam de todos os regressos que conseguirem– incluindo o de Pepe, titular pela primeira vez em 2017.

Líderes que tropeçam

A vitória pouco convincente do Barcelona decorreu praticamente em simultâneo com o regresso à normalidade do seu carrasco europeu. Depois de marcar quatro aos catalães, perdoando outros tantos, o PSG de Unai Emery não foi capaz de marcar um único golo ao Toulouse, confirmando a ideia de que parece ser uma equipa mais talhada para a Europa do que para a competição doméstica onde os adversários, por regra, lhe entregam a iniciativa.

O nulo do PSG terá sido muito bem recebido pelo Mónaco, de Leonardo Jardim, que tinha tropeçado na Córsega, mesmo com Bernardo Silva a dar mais um show e a marcar… de cabeça. Assim, a equipa do principado pôde manter os três pontos de avanço antes do fascinante embate com o City de Guardiola, já nesta terça-feira.

Refira-se, aliás, que o Mónaco não foi o único líder a tropeçar neste fim de semana: na Alemanha, depois do festival diante de Wenger e companhia, o Bayern só evitou a derrota nos descontos. Foi a terceira vez em cinco jornadas que os homens de Ancelotti ganharam pontos no período de compensações, com o inevitável Lewandowski a faturar. E como o Leipzig venceu fora, a distância encurtou para cinco pontos – e assim é possível continuar a fazer de conta, como se fez nos últimos quatro anos, de que ainda há alguma emoção na luta pelo título.

Fora dessa teórica luta está o adversário do Benfica, o Dortmund, apesar de ter recuperado o sentido de baliza e, com ele, o terceiro lugar. Foi uma vitória clara, a lançar um aviso ao Benfica de que não será prudente contar com outra noite sobrenatural como a da Luz. Única nota estranha, a ausência de público no «muro amarelo», como punição pelo mau comportamento dos adeptos.

Por falar em adversários europeus, referência para a série de sete vitórias consecutivas conseguida pela Juventus, antes da visita ao Dragão, com a dupla argentina Dybala/Higuaín em grande destaque na goleada ao Palermo, sexta-feira – à mesma hora em que o FC Porto também conseguia chapa-4 e somava o sexto triunfo seguido. A equipa de Allegri parece com rota desimpedida para o título, apesar de, neste domingo, a Roma ter replicado a goleada e o marcador do líder, com direito a golaço de Paredes e tudo.

O espírito da «Cup» resiste a quase tudo…

De ano para ano a polémica vai subindo de tom: os quase 150 anos de tradição da Taça de Inglaterra pesam cada vez menos face os interesses dos grandes emblemas da Premier League. Mas enquanto o futebol continuar a ser um pouco mais do que um negócio igual aos outros ainda haverá espaço para contar histórias bonitas.

Como esta do Sutton. Ou a do Lincoln, que volta a pôr um clube amador nos quartos de final da Cup, 103 anos depois – e pelo caminho aproveita para pôr Joey Barton, o jogador que todos adoram detestar, a fazer figuras tristes.

A alma da Taça – no fundo, a ilusão de que o futebol é um desporto em que todos, ricos e pobres, partem em pé de igualdade – foi reforçada neste fim de semana com o empate do Manchester City em Huddersfield e com a derrota nos descontos do campeão Leicester – a frase fica cada vez mais estranha, não é? - em casa de um terciário Millwall, com um homem a menos. Efeitos do compromisso para a Liga dos Campeões que os dois vão ter a meio da semana? Ou mera ilustração de que entalada entre jogos para audiências globais a Taça está transformada num incómodo anacronismo que, em segredo, os clubes mais poderosos não se importam de tirar do calendário?

Apesar de tudo, a eficácia com que Chelsea e Tottenham afastaram pequenos do caminho e a determinação com que Mourinho recorreu a artilharia pesada para sair de apuros em Blackburn com um golo de Pogbahimovic: foi a quinta assistência do francês para o sueco, na época em curso…

…e com isso ganhar nova viagem a Stamford Bridge em março. Se nos lembrarmos de como foi a última, quem ousa dizer que, apesar de tudo, o fascínio da Taça não permanece intacto?

Mais coisas estranhas - ou então nem por isso…

No que diz respeito a faits-divers e coisas estranhas, caso lhe tenha passado despercebido, fique com o registo de que este foi o fim de semana em que o internacional italiano Quagliarella revelou o fim de uma história sinistra e em que o técnico argentino Ricardo La Volpe protagonizou um feio momento de falta de fair-play e em que o o Olympiakos perdeu um jogo na Liga grega. Ah, mas Balotelli somou a terceira expulsão com a camisola do Nice, o que no fundo restaura um pouco a normalidade da coisa.