Fundado em 1923, e agora extinto, o Unión Deportiva Salamanca tinha uma forte ligação a Portugal. Não só pela proximidade geográfica, mas sobretudo pela tendência para explorar o mercado luso, sobretudo depois do sucesso da contratação de João Alves.

Em apenas duas épocas (1976-1978) o «Luvas Negras» tornou-se uma das principais figuras da história do emblema espanhol, ao qual voltaria depois, como treinador (1996/97). A notícia do fim do Salamanca é recebida com pesar.

«Estava mais ou menos a par dos problemas, mas não posso deixar de estar chocado. É um clube que me diz muito, onde passei momentos fantásticos, os melhores da carreira. Não é a primeira vez que isto acontece, nem será a última. É cada vez mais difícil distinguir aquilo que é um clube, na sua essência, de uma empresa. Estou chocado. Desejo que o clube seja recuperado, se possível, nem que seja do zero», disse João Alves ao Maisfutebol.

O técnico explica que «o mercado português foi sempre preferencial para o Salamanca», muito pela sua influência, direta ou indireta. «Fui eleito o melhor jogador da Liga espanhola, no tempo do Cruyff e do Kempes. Quando treinei o Salamanca construí uma equipa quase portuguesa. Inicialmente fui criticado, mas depois deram a mão à palmatória, pois fizeram muito dinheiro com esses jogadores», recorda.

Os últimos portugueses jogaram de borla

Paulo Torres, Miguel Serôdio, Nuno Afonso, Taira, Agostinho, César Brito, Pauleta, Tulipa, Rogério, Dino, Nuno Luís, Bruno Tiago, Zé Tó, Makukula, Xano, Pedro Fernandes, Vasco Fernandes, Paulo Sérgio ou Hugo Leal. A lista de portugueses que passaram pelo Salamanca é longa. Na última época estiveram lá João Faria e o luso-guineense Almani Moreira.

«Não percebo como acaba assim um clube com aquela história e aquela massa associativa. Tínhamos quase sempre cinco mil pessoas nos jogos», diz João Faria ao Maisfutebol.

O jovem defesa minhoto trocou o Benfica B pelo Salamanca no mercado de Inverno, e passou por momentos difíceis. «Estive lá quatro meses e não recebi um cêntimo. Paguei para jogar. Foi complicado. Fui para outro país, sem receber, e não jogava muito. Tive de ser muito forte psicologicamente», conta.

Já na parte final da época João Faria chegou mesmo a ser despejado da casa que ocupava. «O senhorio fez-me um ultimato e eu disse que não tinha dinheiro para pagar. Ele disse-me que ou pagava ou saía, e tive mesmo de sair. Falei com o clube e um amigo do presidente tinha uma casa que utilizei nos últimos dias», recorda.

O Salamanca ainda chegou a sonhar com a subida ao segundo escalão, mas os problemas financeiros tornaram esse objetivo inalcançável.«Alguns jogadores estavam com problemas para dar de comer aos filhos ou pagar as casas», afirma João Faria.

«É muito triste ver acabar um clube assim. Dos clubes que representei, só o Benfica tem uma dimensão maior», acrescenta o defesa, que passou também por Gil Vicente, Ribeirão e Varzim, e que agora, perante o fim do Salamanca, fica na expectativa em relação ao futuro.