Nuno Gomes pendurou as chuteiras depois de vários meses sem competir e sem projetos empolgantes para continuar a jogar. Troca os relvados pelos gabinetes para regressar ao seu Benfica, onde será assessor do presidente para a área internacional. Aos 37 anos (38 a 5 de maio), um dos avançados portuguesas da última década dá finalmente o passo mais difícil da carreira, como reconheceu recentemente em entrevista ao Maisfutebol.

Os últimos jogos de Nuno «Golos» (como tantas vezes era tratado) foram no Blackburn Rovers, do segundo escalão inglês, onde marcou os seus últimos quatro golos oficiais da carreira. O derradeiro encontro aconteceu a 27 de abril de 2013, contra o Crystal Palace, e a última vez que celebrou um golo marcado por si foi a 18 de setembro de 2012, com o modesto Barnsley, dando a vitória à sua equipa a cinco minutos do fim.

Curiosamente a assistência foi feita por um português, o jovem extremo-esquerdo Fábio Nunes, um dos quatro atletas lusos então no plantel. «Recordo-me muito bem da jogada para golo, em que cruzei na esquerda para a finalização do Nuno. Não sabia que tinha sido o seu último golo», conta ao Maisfutebol o jogador agora no Latina, da série B italiana.

Em Portugal toda a gente se lembra dos golos de Nuno Gomes pelo Benfica, pela Seleção, pelo Braga e até pelo Boavista, mas poucos, muito poucos, terão sido aqueles que viram os que marcou em Inglaterra. Neste momento de mudança, fomos procurá-los e e apresentamos-lhe agora todos juntos em vídeo.



«Tenho excelentes memórias do tempo em que jogámos juntos. O Nuno foi sempre um grande amigo, deu-me bons conselhos e ajudou-me imenso. Cresci muito como pessoa e jogador e é uma pena que tenha terminado a carreira», lamenta Fábio, confirmando a ideia de que o avançado queria continuar a jogar:

«Ele nunca falou em acabar, porque queria sempre mais. Ele disse sempre que enquanto tivesse condições pretendia continuar a jogar, mas parar durante tantos meses, mesmo que tentasse manter a forma, torna tudo mais complicado para regressar. É uma pena que tenha terminado assim, porque era um grande profissional».

Nuno Gomes fez 609 jogos oficiais e marcou 227 golos. Iniciou a carreira no
Boavista, onde esteve até 1997, transferindo-se para o Benfica. Da Luz deu o salto para Itália, representando a Fiorentina duas épocas (2000 a 2002), para voltar a vestir de encarnado em 2002 e até 2011. O fim da carreira aproximava-se, mas ainda deu para representar o Sp. Braga e o Blackburn Rovers. Nas Seleções fez cinco jogos pelos sub-20 e quatro pelos Olímpicos (nos Jogos de Atlanta, em 1996), mas foi na equipa principal que brilhou intensamente, com 79 jogos e 29 golos.

A nível de troféus foi campeão nacional duas vezes (2004/05 e 09/10, pelo Benfica), conquistou duas Taças de Portugal (1996/97 pelo Boavista e 2003/04 pelo Benfica), três Taças da Liga (08/09, 09/10 e 10/11, pelo Benfica), uma Superaça (2005, pelo Benfica) e uma Taça de itália (00/01, pela Fiorentina).

O último golo que marcou pelo Benfica foi em Paços de Ferreira, a 21 de março de 2012. Nesse encontro, o penúltimo com a camisola encarnada, viria a marcar dois, na vitória por 1-5 (antes, a 23 de março, marcou o seu último golo no Estádio da Luz, com o Portimonense)




O último golo em Portugal foi curiosamente também em Paços de Ferreira, mas pelo Sp. Braga, a 20 de abril de 2012, fixando o resultado em 1-1.




Pela Seleção, o derradeiro momento de festejo aconteceu a 19 de junho de 2008, no Saint Jakob Park, em Basileia, nos quartos-de-final do Europeu, em que Portugal foi eliminado pela Alemanha (derrota por 3-2).


Deutschland vs Portugal 1:2 Nuno Gomes - MyVideo

Foram muitos os momentos em que Nuno Gomes levantou estádios, mas ninguém se pode esquecer daquele golo à Inglaterra em 2000, que concluiu a reviravolta numa das vitórias mais marcantes da Seleção Nacional.



Nuno tentou continuar a jogar, mas nos últimos tempos só conseguiu participar em ações de beneficência, como o jogo contra o racismo, em Portugal, ou o embate entre as equipas de Zidane e Ronaldo, em que as receitas vão reverter para a reconstrução das Filipinas, atingidas pelo tufão Haiydan no final do ano passado.





Foi aí, aliás, que Nuno Gomes marcou o seu último dos últimos dos golos, já em ritmo de jogo entre «solteiros e casados», mas com o estilo que tanto o caracterizou.


Está na hora de agarrar novos desafios e Nuno diz terminar a carreira sem dramas: «Recusei alguns convites para retomar a minha carreia de futebol, porque não eram convites de que eu estava à espera. Por isso, e falando com o presidente, decidi encerrar a minha carreira e iniciar outra atividade. Fui encarando a decisão com naturalidade. Foi uma vida inteira a jogar futebol, foi o que sempre quis fazer, mas temos de encarar esta decisão de uma forma positiva. Se pudéssemos jogávamos até ao fim das nossas vidas, mas tudo tem um fim. Acabo a minha carreira sem dramas e com a noção de que o objetivo foi alcançado. Sinto um orgulho muito grande na carreira que tive.»