«É o jogo que mais me fazem relembrar no dia-a-dia e isso explica-se pela importância do momento. Vi os golos vezes sem conta, a televisão também não se cansou de passá-los mas, em relação a outros que marquei, tiveram mais de importantes do que de alguma beleza especial. Era uma meia-final, que nos podia levar a uma decisão da Taça dos Campeões, onde o Benfica não estava há 20 anos. O estádio estava cheio, talvez como nunca esteve antes nem terá voltado a estar. Foi uma noite difícil de igualar, a expectativa era muito grande e o resultado da primeira mão, com o empate (0-0) em Bucareste, alimentava grandes esperanças. A emoção foi mais intensa na primeira parte, por ter sidotambém nesse período que aconteceram os golos. Depois do 2-0 sabíamos que daí até à final já faltava pouco. Eu tenho tendência para ser extremamente cauteloso até considerar que um jogo está ganho, mas naquela altura todos sentimos uma grande confiança. Da forma como as coisas se apresentavam a final estava ali».
O relato foi feito por Rui, o filho de José Águas, em 2006, para o livro «Sport Europa e Benfica», do Maisfutebol. Avançado do Benfica depois de um percurso sem facilidades patrocinadas pelo apelido de luxo, Rui Águas decidiu aquele jogo.
Quem estava lá em baixo, como Mozer, não tem dúvidas: «O público tinha uma importância crucial e nessa noite foi ainda mais caloroso. Um apoio infernal para qualquer adversário e que nos dava uma coragem incrível. Só assim se explica que eu tivesse partido duas costelas numa bola disputada com o Hagi e, quase sem respirar, de um momento para o outro, com todo o apoio do público, conseguisse voltar ao campo para jogar até ao fim. E que o Rui Águas tenha jogado com o cóccix fraturado e marcado dois golos», contou Mozer em 2006.
Antes do jogo, porque eram outros tempos, Toni foi a Glasgow conversar com Souness. Regressou de lá com duas cassetes dos jogos entre o Rangers e o Steaua. Sim, era assim que se espiava adversários em 1988.
Os dois golos de Rui Águas (canto de Pacheco, desvio de Mozer, cabeça do avançado; livre de Diamantino, cabeça de Águas) duraram até ao fim, a festa dos milhares que foram à Luz (120? 130? Nunca se saberá) aguentou-se até à final.
Os que jogaram na Luz, a 20 de Abril de 1988, frente ao Steaua: Silvino; Veloso, Dito, Mozer e Álvaro; Elzo; Chiquinho, Diamantino e Pacheco; Magnusson e Rui Águas. Shéu e Chalana também entraram.