«Humanamente é uma personagem única, tê-lo no balneário fazia bem a toda a gente. Eu tentava que o jogo não passasse por ele, porque não era dotado tecnicamente. A sua zona de ação era a área, só o queria lá. No fundo, jogávamos com dez para ele finalizar». Dizer isto de um avançado não é exatamente o melhor cartão-de-visita. Mas se soubermos que é Toni a falar sobre Vata, as coisas mudam de figura.

O avançado angolano tinha chegado do Varzim para reforçar o ataque do Benfica. Quer dizer, sobretudo para ser mais um, não se pensava que pudesse ser titular. A verdade é que Vata conquistou o seu terreno. Ajudou o Benfica a ser campeão com golos importantes, às vezes perto do final dos jogos, e esteve lá, naquele 18 de Abril de 1990.

Essa foi a noite da mão de Vata. Ou, na versão do angolano muitos anos depois, a noite em que ele fez um golo ao Marselha. Ponto final. Há uns anos, no programa «Maisfutebol» (TVI24), Carlos Mozer tentou fazer confessar Vata. O defesa brasileiro jogou nessa noite no lado errado, com a camisola do OM. Estava por ali quando Vata fez o golo (vamos deixar assim¿). Viu o que se passou. Ou pelo menos ouviu os colegas relatar e perdeu a conta ao número de vezes que assistiu ao lance. Em estúdio, com Vata ao telefone, queria pelo menos uma confissão. O mais próximo que conseguiu foi um sorriso divertido de Vata. E a nega, sempre. Com a mão? Ele nunca o dirá assim.

Nessa noite europeia, Vata também não foi titular. Entrou na segunda parte, ao mesmo tempo de Pacheco. Saíram Thern e Lima. Para agitar.

O Marselha tinha uma equipa ótima, forte, com bons jogadores. Tinha vencido 2-1 em França. Na segunda parte desse jogo o Benfica foi massacrado. Acabar com 1-2 era excelente. Um golo chegava, mas o jogo foi sobretudo equilibrado, com oportunidades para ambas as equipas. Até que chegou o minuto de Vata.

Pacheco ganhou um canto sobre a esquerda. Valdo correu meio campo para o marcar. Magnusson desviou ao primeiro poste e Vata foi mais rápido do que toda a gente a reagir. Com a mão direita. Ou o braço, os comentadores franceses hesitaram durante os minutos que se seguiram. Estava lá dentro, isso era quanto interessava para os adeptos benfiquistas, eufóricos.

Claro que o nome de Vata tornou-se famoso em toda a Europa, não exatamente pelas razões certas. O Benfica estava de volta a uma final da Taça dos Campeões.

Jogaram estes nessa noite, na Luz: Silvino; José Carlos, Samuel, Aldair e Veloso; Vítor Paneira, Hernâni, Thern e Valdo; Lima e Magnusson.