«Esse jogo com o Celtic foi a minha coroa de glória no Benfica. Tínhamos perdido por três em Glasgow, mas conseguimos anular essa diferença com um golo meu no último minuto. Foi num pontapé de canto marcado pelo Simões, o Adolfo desviou de cabeça no segundo poste e eu, também de cabeça, marquei golo. Festejámos aí como se já tivéssemos ganho. Depois, na segunda parte do prolongamento, fiz um pontapé de bicicleta e caí desamparado sobre o braço. Fui até à linha, puseram-me uma ligadura e continuei a jogar. Estava com o braço todo torcido e cheio de dores, mas os meus companheiros não se cansava de me chamar maricas sempre que me queixava. Depois, na cabina, admito que passei um bocado ao lado das emoções da moeda ao ar porque estava com uma fratura exposta. Quando saí a caminho da clínica ainda ouvi gritos e cheguei a pensar que tínhamos passado. Correu um boato de que o Benfica tinha ganho, mas só depois soube que tinha sido o Celtic. Foi uma grande desilusão, mas todos sentimos que tínhamos dado o nosso melhor. Nunca mais vou esquecer essa noite, com o meu golo, a lesão e o Estádio da Luz completamente lotado».

A história foi contada por Diamantino Costa, em 2006, para o livro do Maisfutebol, «Sport Europa e Benfica». Ilustra bem a noite do jogador, mas precisa de algum contexto.

Estávamos em Novembro de 1969, segunda mão de uma eliminatória da Liga dos Campeões. Em Glasgow o Celtic vencera por 3-0. Um massacre.

Na Luz, recordou Diamantino Costa, uma vitória épica. Final de todos os minutos possíveis, 0-3 e 3-0. Na altura mandavam os regulamentos que se decidisse por moeda ao ar. Sorte, pura. No final dos 30 minutos de prolongamento, o árbitro holandês Van Ravens mandou os representantes das duas equipas para a sua cabina. Coluna e o dirigente Francisco Calado, de um lado. McNeill e Jock Stein, do doutro. Eles foram os únicos a ver o que aconteceu. «Foi uma tristeza, devia ter havido outra forma de desempate. Ou então devia ter sido no campo e não na cabina. Desconfio que aquela moeda tinha as duas faces iguais», contou em 2006 Mário Coluna. «O capitão do adversário escolheu primeiro e eu já não tive direito a nada», lamenta.

Onze do Benfica nesse jogo com o Celtic, a 26 de Novembro de 1969: José Henrique; Malta da Silva, Messias, Coluna «cap» e Adolgo; Jaime Graça, Toni e Simões; Raul Águas, Eusébio e Artur Jorge.

Diamantino Costa vestiu 14 vezes a camisola do Benfica na Europa, marcou 4 golos, um deles nessa noite. Entrou aos 61 minutos para o lugar de Raul Águas. A melhor campanha foi em 1971/72, quando chegou às meias-finais da Taça dos Campeões. Nunca estará entre os mais influentes, entra aqui pela história, única, que viveu. Para que ninguém se esqueça de que o futebol também é sacrifício.