O português Rui Pinto, colaborador do ‘Football Leaks’, vai ser extraditado para Portugal, decidiu a justiça húngara, esta terça-feira. O ‘hacker’ viu a decisão anunciada esta manhã, no tribunal metropolitano de Budapeste. 

A sessão ficou marcada por argumentos a favor e contra a extradição do português, que está indiciado de seis crimes: dois de acesso ilegítimo, dois de violação de segredo, um de ofensa à pessoa coletiva e outro de extorsão na forma tentada.

Rui Pinto está em prisão domiciliária na capital da Hungria desde 18 de janeiro, na sequência de um mandado de detenção europeu emitido pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP).

Na sessão que decorreu esta terça-feira, Rui Pinto pediu para não ser extraditado para Portugal. Algo que ditará a imediata detenção do colaborador do ‘Football Leaks’.

Rui Pinto recorre

Após conhecida a decisão, Rui Pinto recorreu da decisão e suspendeu a extradição para Portugal, confirmou fonte judicial, à agência Lusa, ao final desta manhã.

O português vai, assim, aguardar em território húngaro o desfecho deste apelo, num recurso que tem «efeito suspensivo imediato» da decisão, de acordo com a mesma fonte.

O mandado de detenção europeu, recorde-se, teve como base o acesso aos sistemas informáticos do Sporting e do fundo de investimento Doyen Sports, com posterior divulgação de documentos confidenciais, como contratos de jogadores do Sporting e do então treinador Jorge Jesus, tal como contratos entre a Doyen e vários clubes de futebol.

O hacker é também suspeito de acesso ao email de elementos do conselho de administração e do departamento jurídico do Sporting. Rui Pinto terá acedido, em setembro de 2015, ao sistema informático da Doyen Sports Investments Limited, com sede em Malta e que acerta contratos com clubes de futebol e Sociedades Anónimas Desportivas.

Mandado nacional posterior à detenção justifica recurso

Em declarações à agência Lusa, fonte da defesa de Rui Pinto referiu que o recurso à decisão da extradição para Portugal está relacionado com o facto de o mandado de detenção nacional ter sido emitido após a sua detenção.

«No entender da defesa de Rui Pinto, um dos motivos porque não deve ser cumprido o MDE (Mandado de Detenção Europeu) é o facto de o mesmo ter sido emitido, invocando um mandado de detenção nacional que não existia e que só veio a ser emitido um mês depois da detenção de Rui Pinto em Budapeste ao abrigo do MDE», explica o advogado Francisco Teixeira da Mota, representante de Rui Pinto.

De acordo com o advogado, «o tribunal superior decidirá num curto prazo de tempo» sobre o recurso à decisão de extradição, para que Rui Pinto seja presente às autoridades portuguesas.

«O MDE, que determinou a detenção de Rui Pinto, referia a existência de um mandado de detenção nacional emitido em 15 de janeiro mas, há poucos dias, as autoridades portuguesas vieram comunicar que o mandado de detenção nacional tinha sido emitido em 15 de fevereiro», lê-se, na nota do causídico, que acrescenta que «a inexistência do mandado de detenção nacional prévio e distinto do mandado de detenção europeu tem como consequência que o mandado de detenção europeu não é válido».

«Repetia tudo e não me arrependo de nada»

Na sequência da audiência desta terça-feira, Rui Pinto falou à saída do tribunal metropolitano de Budapeste e defendeu ter provas, entregues às autoridades francesas, de que «a investigação foi feita de forma irregular». «Vou passar umas noites a uma prisão húngara», acrescentou, pouco após a interposição do recurso.

«Repetia tudo e não me arrependo de nada», referiu o português, após conhecida a decisão da justiça da Hungria. O hacker notou, ainda, que o futebol português «está podre» e vive «na cultura do clubismo».

«Temos magistrados e juízes que, infelizmente, levam a paixão clubística muito a sério, Portugal está podre. Vejo outros países motivados em lutar contra a corrupção no futebol, em Portugal não vai acontecer nada», frisou, sublinhando que, apesar de ser adepto do FC Porto, as suas denúncias não visaram um clube em particular.

«É bastante claro que isto não visa nenhum clube em específico, é internacional e abrangente, acho de muito mau gosto as acusações que fizeram, a dizer que fui motivo pelo FC Porto», afirmou, dizendo que o Football Leaks «publicou documentos com atividades irregulares do FC Porto».

Além disso, Rui Pinto negou que enriqueceu às custas das denúncias e que a sua defesa está a ser paga por «uma fundação americana que se dedica a ajudar os whistleblower [ndr: denunciantes]». «Posso garantir que não enriqueci com o Football Leaks. Ajudo o meu pai num negócio de atividades e é assim que consigo subsistir», justificou.

Atualizado às 13h29