Miguel Poiares Maduro, antigo presidente do Comité de Governação da FIFA (entre julho de 2016 e maio de 2017), foi ouvido esta quinta-feira como testemunha na 40.ª sessão do julgamento do caso Football Leaks, em curso no Tribunal Central Criminal de Lisboa.

«As revelações feitas são seguramente de interesse publico, pelo menos a maioria das que conheci pelos jornais, na medida em que revelam conflitos de interesse e, nessa medida, tiveram um contributo positivo para a transparência do futebol, infelizmente, ainda insuficiente, na minha opinião», disse o jurista e professor universitário, após a sessão.

A curta passagem de Miguel Poiares Maduro pelo Comité de Governação da FIFA permitiu ter um conhecimento mais aprofundado da realidade do futebol: «A cultura de organização e funcionamento do futebol e das suas organizações, incluindo a ausência de mecanismos de escrutínio, é originária do tempo de quando os clubes eram amadores. Mas hoje o futebol é algo equivalente a 3,7% do PIB europeu e essa atividade está na mão de organizações que mantêm formas de governação completamente arcaicas e que funcionam como cartel político, com uma fortíssima concentração de poder no topo. A noção de Estado de direito é estranha à organização do mundo do futebol.»

«Exige trabalhar a montante na cultura e é essencialmente um problema de regulação. E essa regulação não vai ser criada internamente. Como qualquer cartel, não se vai reformar a si próprio e a reforma vai ter de ser imposta pelo exterior», concluiu Miguel Poiares Maduro.