Rui Pinto acusa a Polícia Judiciária (PJ) de ter colocado a sua vida em risco por, alegadamente, ter partilhado a sua identidade com o fundo de investimento Doyen em novembro de 2015.

Na sessão de desta segunda-feira do julgamento do processo Football Leaks, no Juízo Central Criminal de Lisboa, o criador da plataforma eletrónica visou diretamente o inspetor-chefe Rogério Bravo, cuja atuação neste caso já chegou a ser investigada, e alegou que a Doyen – que é assistente no processo – chegou a contratar pessoas para irem atrás dele na Hungria.

«Rogério Bravo fez um negócio com Nélio Lucas em novembro de 2015. Esse negócio pressupunha uma troca de informações: Nélio Lucas entregava o relatório da Marclay [empresa de cibersegurança contratada para investigar a intrusão informática] e a PJ entregava o nome do suspeito – o meu nome. E foi o que aconteceu. No dia 26 de novembro de 2015, a PJ entregou o meu nome a Nélio Lucas, colocando a minha vida em risco», afirmou.

Segundo Rui Pinto, a Doyen ainda hesitou em ceder essa informação às autoridades portuguesas, mas terá preferido obter a informação sobre a identidade do responsável pela intrusão informática.

«A Doyen Capital e a família Efendi, na altura, temiam danos reputacionais caso fosse divulgado publicamente que teriam sido alvo de um acesso ilegítimo. Pesaram os prós e contras e concordaram em entregar essa informação, porque era mais valioso o nome do suspeito. Contrataram pessoas na Hungria para chegarem até mim», sublinhou.

Rui Pinto, de 34 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.

O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 7 de agosto de 2020, «devido à sua colaboração» com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu «sentido crítico», mas está inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.