Rui Pinto revelou esta segunda-feira em tribunal que estava a colaborar ativamente com as autoridades francesas e que iria para França, no âmbito do programa de proteção de testemunhas, quando foi detido em Budapeste.

Na quarta sessão do julgamento do processo Football Leaks, no Juízo Central Criminal de Lisboa, o criador da plataforma eletrónica explicou, de forma detalhada, o que aconteceu antes da sua detenção, a janeiro de 2019, revelando essa colaboração com o Ministério Público francês.

«Entreguei uma ‘pen drive’ aos procuradores franceses com informação para que eles percebessem o que estava na minha posse. Tive também uma reunião com elementos da equipa especial da polícia francesa sobre o programa de proteção de testemunhas. Combinei com eles que ia resolver a minha vida em Budapeste e, depois, agendava-se uma data para eu ir para território francês», explicou Rui Pinto.

Apesar de os contactos com as autoridades francesas terem começado em 2018, quando o denunciante português contratou o advogado francês William Bourdon, já existia interesse dos gauleses «desde final de 2016 ou início de 2017».

«Os procuradores do MP francês gostaram muito daquela informação preliminar que lhes entreguei e pediram mais. Combinei com o meu advogado uma reunião onde essa informação seria passada. No início de dezembro de 2018, surgiu a segunda vaga de revelações do Football Leaks, abanaram a Europa por completo», disse.

Rui Pinto reconheceu que a sua intenção era colaborar com as autoridades portuguesas em vez das francesas desde que chegou a Portugal mas recebeu «demasiadas ameaças de morte» e não sentiu segurança.

«Eu não confiava nas autoridades portuguesas e os episódios relacionados com o inspetor-chefe Rogério Bravo deram-me alguma razão. Por outro lado, as autoridades dos outros países mostraram sempre mais interesse nestas informações», considerou.

«Estava em prisão preventiva e as autoridades portuguesas não mostraram qualquer tipo de abertura para essa colaboração, porque achavam que tinham tudo controlado. Mal eles sabiam o que viria, meses depois, com o Luanda Leaks. Aí, houve abertura do MP em arranjar uma plataforma de entendimento. Apresentei o meu espírito crítico, alterei a minha postura e o MP também alterou um pouco a sua», acrescentou.

O criador do Football Leaks também explicou como acedeu à Procuradoria-Geral da República (PGR). Rui Pinto entrou na caixa de correio do antigo diretor do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), Amadeu Guerra, para tentar encontrar a fonte judicial de algumas peças jornalísticas acerca da revelação de e-mails do Benfica.

«A revista Sábado fez um artigo que juntou montes de mentiras e acrescentou fontes judiciais. Essa fonte judicial podia ser um inspetor da Polícia Judiciária ou alguém no DCIAP. Queria perceber quem seria a fonte que estava a passar as informações para estes artigos da revista Sábado, mas, infelizmente, nunca consegui lá chegar», confidenciou.

Na opinião de Rui Pinto, «a prioridade de Amadeu Guerra era apanhar o ‘hacker’ do futebol», já que é «benfiquista».

«Os processos onde era suspeito tornaram-se a prioridade dessa equipa. Todos os processos de investigação da corrupção desportiva passaram para segundo plano e, em 2022, nota-se que estão numa gaveta e não há qualquer novidade. Considero que essa equipa especial foi um autêntico ‘flop’, porque apenas mostraram resultados em inquéritos contra mim, no resto não mostraram resultados», concluiu.