As paragens dos campeonatos nacionais para os compromissos das seleções são vistas por muitos treinadores como janelas de oportunidade para afinar aspectos de jogo. No entanto, para técnicos de clubes que cedem muitos jogadores às equipas nacionais, são encaradas como dores de cabeça.

É com isso que se debate por estes dias Leonardo Jardim, técnico do Mónaco. «Na próxima semana vou jogar a final da Taça da Liga no sábado e tenho 14 jogadores na seleção. E eles vão jogar na quarta-feira», apontou o treinador português durante o Football Talks, que decorre até sexta-feira no Centro de Congressos do Estoril.

Leonardo Jardim dissertou durante largos minutos sobre as consequências das chamadas de jogadores às seleções e da interrupção das rotinas a que estão habituados nos emblemas que representam. «Os jogos das seleções são uma desadaptação para os jogadores», começou por reconhecer. «Os jogadores estão adaptados aos objetivos da equipa e alteram totalmente as suas formas de estar as metodologias de trabalho. Os treinadores não são os mesmos, as estratégias não são as mesmas e os objetivos não são os mesmos», acrescentou.

O técnico português admitiu que o trabalho com os jogadores após os compromissos nas seleções é diferente do habitual. E por variadas razões. «Temos sempre de fazer um trabalho forte de refocalização. (...) Quando os recebemos eles não estão nas melhores condições para atuar dois/três dias depois, mas temos de saber viver com isso. Temos de trabalhar de forma a minimizar esses problemas.»

Sobrecarga, fadiga, jet-lag. Problemas atrás de problemas.

E quem disse que o oposto não é também uma dor de cabeça? «Há também jogadores que vão às seleções e que não jogam. Os que não joga passam 12 dias a treinar muito pouco, porque é normal. Quando entram nos clubes estão destreinados. São dez dias com uma intensidade de carga muito baixa», apontou.

Segundo Leonardo Jardim, é necessária uma boa relação com os selecionadores para uma gestão mais eficaz destas situações pontuais. «Temos uma relação muito próxima e conseguimos minimizar algumas coisas em relação ao treino desportivo, ao que os jogadores estão habituados a fazer», disse referindo aos casos de Fernando Santos (Portugal) e de Didier Deschamps (França).

«A minha experiência em relação a selecionadores tem sido positiva, porque vejo do lado deles interesse em que os jogadores representem bem o clube e a seleção», observou.

O técnico português puxou ainda de outra idiossincrasia. As diferentes idades e estados de maturidade e de experiência dos jogadores. «Para um jogador sub-23, a ida à seleção é uma oportunidade de cumprir um sonho de criança. Sei que temos de ter uma maior atenção em relação a esses jogadores», apontou.

Quase num plano oposto, há os jogadores veteranos. «Muitas vezes vão à seleção por respeito pelo país. Depois dos 31/32 anos, o jogador não é velho mas precisa de mais cuidado.»

E prosseguiu: «A carga é muito grande e alguns jogadores precisariam das pausas internacionais para recuperar. Alguns sabem que não é positivo para as carreiras e por isso abdicam porque têm a consciência de que não conseguem dar resposta nos clubes e nas seleções. Sou daqueles que acreditam que os jogadores podem jogar até aos 35 mas a recuperação não é a mesma. Tem de haver maiores cuidados em termos de recuperação», disse Jardim, lembrando que o Mónaco fará cerca de 60 jogos nesta temporada.