O jogo já não é o que era. Não que tenha mudado para melhor ou para pior. É diferente. Tornou-se mais vertiginoso, mais rápido. Os jogadores têm agora de tomar decisões em menos tempo. E os árbitros também. «Faltava alguma coisa. Em 2007, Michel Platini sugeriu a ideia de aumentar o número de árbitros», recordou o antigo árbitro Pierluigi Collina na conferência «Football Talks».

O desafio era grande. Pensar um novo modelo de arbitragem, que se adaptasse ao futebol moderno. Tudo com um único propósito: reduzir os erros dos árbitros.

A tecnologia da linha de golo e os árbitros de baliza

Implementada pela primeira vez na liga inglesa em 2012, a tecnologia da linha de golo foi considerada um sucesso, ao ponto de poder ser aplicada já na próxima temporada nos campeonatos franceses e italiano. Apesar disso, a UEFA ainda não adotou o sistema nas competições que tutela. Collina fala de uma margem de erro que pode ir até 1,5 centímetros.

O agora responsável pela arbitragem na UEFA focou a maior parte da intervenção nos árbitros assistentes adicionais (também conhecidos como árbitros de baliza), muitas vezes olhados com cepticismo.

Collina saiu em defesa desta proposta, introduzida em 2009 a título experimental e entretanto adotada nas principais competições da organização. Com o auxílio de um powerpoint, mostrou vários casos em que os árbitros de baliza foram cruciais na tomada de decisões corretas. Aconteceu, por exemplo, num Benfica - Newcastle para a Liga Europa (2012/13) e, já esta temporada, no Chelsea Sporting.

Depois de salientar que as boas arbitragens estão intimamente ligadas à comunicação entre os membros das equipas de arbitragen, Collina evidenciou ainda o papel dissuasor dos árbitros de baliza. Assegurou que os jogadores tornaram-se mais disciplinados nos últimos anos porque, tendo a consciência de que estão a ser observados, evitam cometer faltas dentro da grande área.

Numa intervenção animada, Collina desafiou a plateia, ao mostrar um vídeo em tempo real de uma queda de um avançado dentro da grande área. «Agora, decidam se é ou não penálti. Têm três segundos.» As opiniões dividiram-se e ninguém acertou. Houve falta, certo, mas do atacante, que puxou o defesa antes de provocar a queda de ambos. A decisão, mais uma vez, partiu do árbitro de baliza. «Estão a ver? É fácil comentar as decisões dos árbitros quando não se tem de decidir.»

Contra o vídeo-árbitro e a favor do cartão branco

O líder da arbitragem da UEFA torceu o nariz quando foi interpelado sobre uma possível implementação do modelo do vídeo-árbitro, um sistema utilizado, por exemplo, no râguebi e no futebol americano (NFL). «Não sei se é a solução», disse, justificando que o visionamento de certos lances em câmara lenta pode condicionar a opinião.

Na véspera, Michel Platini tinha defendido a adoção do cartão branco, um sistema de expulsão temporária com o objetivo de diminuir, essencialmente, a conflitualidade entre jogadores e árbitros, uma ideia apoiada por Collina: «É importante passar uma mensagem e não me parece que simular faltas e protestar decisões dos árbitros seja uma mensagem positiva. Quanto tempo de expulsão? Cinco, sete, dez, não sei quanto tempo. Já testámos esta punição na competição de jovens da UEFA e o resultado foi positivo. É claro que esta proposta tem de ser analisada e considerada. É muito cedo para dar uma resposta», disse.

No final, Collina deixou uma certeza: a de que, aconteça o que acontecer, o erro nunca será erradicado do futebol. Por uma simples razão: «Somos seres humanos. Toda a gente comete erros no campo: os árbitros, os jogadores e os treinadores.»