Em teoria, as mudanças no fora de jogo parecem alargar o espírito da lei, beneficiando as equipas que atacam. Mas Vítor Pereira, presidente do Conselho de Arbitragem da FPF, prefere esperar para ver: «A ideia por detrás destas alterações foi clarificar os conceitos, mas ainda é cedo para dizer que efeitos vai ter na prática», sustenta.

As alterações da polémica

O que diz (mesmo) a lei 11

O responsável máximo pela arbitragem portuguesa admite que a nova formulação (o texto em português deve estar concluído na próxima semana) «aumenta um pouco a margem de interpretação» da equipa de arbitragem, o que poderá criar «mais dificuldades para os árbitros assistentes».

Embora sublinhando que as mudanças «não alteram o essencial» da lei, Vítor Pereira admite que espera «dificuldades na fase transitória», tanto na interpretação como no eco que situações ambíguas possam suscitar, tanto nos jogadores e técnicos como nos adeptos.

Como sempre, no arranque de cada nova temporada, haverá uma reunião dos responsáveis do Conselho de Arbitragem com as equipas técnicas da Liga, para transmitir as alterações. Mas, para isso, é preciso que os árbitros estejam no mesmo comprimento de onda e definam critérios uniformes. Algo que, reconhece Vítor Pereira, pode não ser automático: «Nesta altura não consigo dizer se vai ou não ser mais difícil uniformizar critérios, é prematuro», diz.

A avaliar pelas indicações vindas do exterior, os próprios árbitros têm leituras diferentes acerca das alterações. A UEFA, por exemplo, já deu as novas instruções aos árbitros que dirigiram as primeiras pré-eliminatórias da Liga dos Campeões e da Liga Europa, mas nem todos chegaram às mesmas conclusões.

Pedro Henriques, comentador de arbitragem da TVI, já colheu algumas opiniões dos seus ex-colegas, mas também opta por esperar para ver: «Tanto quanto me explicaram, a UEFA referiu uma zona de intervenção, de um metro, ou metro e meio para o defesa, dentro da qual, se o avançado se mexer, está a fazer-se ao lance e a interferir», explica. Aí identifica uma primeira zona cinzenta: «Esse ponto vai gerar discussão, para se definir o que está ou não nessa área. É uma margem pequena, que dificulta a decisão dos auxiliares e lhes retira tempo», diz.

O exemplo prático mais imediato, para Pedro Henriques, é o de um autogolo, sem intervenção direta do avançado, que pode ter avaliações diferentes consoante este se movimente dentro da zona de ação (invalidado) ou esteja imóvel (válido). Ainda assim, o comentador prefere esperar para ver a tradução do texto para português, sublinhando que na sua opinião não haverá modificações práticas muito significativas: «Parece-me que estas mudanças vêm mais ou menos no sentido do que já era aplicado em Portugal». Porém, lembra, nem sempre as mudanças nas leis são interpretadas de forma rigorosamente idêntica em todos os países: «As decisões são transmitidas pela FIFA às confederações continentais, mas nem sempre estas as interpretam da mesma forma», diz.

Uma situação que atribui, entre outras coisas, à luta de poder entre FIFA e UEFA. A tradução mais visível é a primazia que esta última dá aos árbitros assistentes, enquanto a primeira, pela voz de Blatter, tem apostado as suas fichas no tema da tecnologia de golo. «Às vezes as coisas tornam-se ambíguas porque as pessoas assim o querem», conclui Pedro Henriques.