*Por Guilherme Madeira

Não se lembra? Faz esta quinta-feira precisamente 20 anos do primeiro, e até agora único, pódio português na Fórmula 1. Em entrevista exclusiva ao Maisfutebol, Tiago Monteiro partilhou como foi viver esse dia histórico para Portugal e para o próprio piloto. 

Era dia 19 de junho de 2005, e a maior competição do mundo de automobilismo visitava o circuito mítico de Indianápolis, nos Estados Unidos da América. À partida, tudo parecia preparar-se para mais uma corrida dia «normal», mas no final da volta de apresentação, várias equipas desistiram e ficaram apenas seis pilotos em pista! O resultado final? O primeiro pódio de Tiago Monteiro na Fórmula 1. 

«Quase todos os pilotos felicitaram-me! O Schumacher e o Barrichello levantaram-me ao colo, mas claramente houve pessoas que não gostaram», contou Tiago Monteiro ao Maisfutebol.

Ao contrário do que acontece atualmente, onde há apenas uma marca que fornece pneus (Pirelli), em 2005 as equipas podiam optar por duas marcas, a Michelin e a Bridgestone. Devido a um problema num dos fornecedores de pneus, a grande maioria dos pilotos não queria correr, alegando falta de segurança se utilizassem os pneus Michelin. 

«Houve tentativas de negociação entre as equipas que usavam pneus Michelin e as equipas que usavam Bridgestone. Tentaram cancelar a corrida, mas não havia razão de nos sacrificarmos quando escolhemos um composto de pneus e que aguentava. Eles quiseram arriscar com um composto de pneu mais macio», afirmou. 

As dificuldades durante a corrida

Já na grelha de partida e ao ver que só estavam 6 carros em pista, Tiago Monteiro viu uma «oportunidade de marcar bons pontos ou até eventualmente um pódio». 

«Era uma pressão enorme, porque sabíamos que poderia ser a corrida da nossa vida, o objetivo era não cometer erros, guiar bem, e que não houvesse problemas mecânicos» - confessou o piloto português. 

Mesmo estando com alguma vantagem para o piloto que estava no 4.º lugar, o piloto da Jordan manteve sempre o ritmo alto: «O meu engenheiro disse-me a meio da corrida: “Olha, podes abrandar um bocadinho o ritmo, porque estás com os segundos abaixo”. Eu nem queria ouvir isso, queria continuar a atacar».

Até que, a dez voltas do fim, aquilo que poderia ser um dia de glória estava ameaçado por um problema mecânico.

«O engenheiro disse-me: “Tiago, estamos com uma temperatura muito elevada na caixa de velocidades, por isso tens de mesmo que abrandar”. As últimas 10 voltas foram um pesadelo».

«Nessa altura já pensava que poderia eventualmente ir ao pódio, mas comecei a ouvir barulhos no carro e não sabia se ia aguentar».

As emoções da conquista e o «estranho» pedido da FIA

Depois de completar as 73 voltas no circuito de Indianápolis e ter visto a bandeira axadrezada, Tiago Monteiro conta que pensou imediatamente no pai e na família.

«Pensei neles pelos esforços que fizeram para chegar onde cheguei. Logo a seguir pensei na minha equipa. Sabia o quão difícil era para a Jordan na altura sobreviver e ter um carro competitivo. Era a melhor prenda que lhes podia dar».

Apesar do pódio inédito, a organização pediu aos pilotos para festejaram, mas de forma contida devido à polémica que marcou a corrida.

«Quase todos os pilotos felicitaram-me. Na salinha, antes de ir para o pódio, o Schumacher e o Barrichello levantaram-me ao colo. Depois a organização pediu-me para não festejar demasiado, porque havia fãs que estavam chateados. Alguma comunicação social tentou minimizar o feito pela situação que foi, disseram que foi a pior corrida da história.»

O piloto do Porto confessou que «estava indeciso de como reagir», mas «depois realmente percebi que estava lá por mérito próprio, o que aconteceu foi especial e atípico, mas estou aqui e vou festejar com a minha equipa, não há razão para não fazer.»

Tiago Monteiro recorda o dia com «bastante orgulho» e confessa que recebeu bastantes mensagens de pessoas fora do meio. «Na altura lembro-me que falei com o Dr. Jorge Sampaio, Vítor Baía, Rui Veloso, Herman José...»

Apesar de já não estar ligado diretamente à Fórmula 1, o seu filho, Noah Monteiro tem vindo a destacar-se nas competições de base. 

Daqui a 20 anos, podemos estar a recordar mais um pódio com o nome «Monteiro», questionou o Maisfutebol.

 «O próximo Monteiro, o Noah, está muito bem encaminhado para a grande sucessão. Se tudo correr bem, se ele chegar à Fórmula 1 é nos próximos três ou quatro anos.»