[artigo atualizado]

O Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol reuniu quarta-feira à noite com um lote muito alargado de árbitros da primeira categoria nacional, sabe o Maisfutebol.

Em cima da mesa esteve o debate sobre o momento atual do futebol português e o cenário de anúncio de greve aos próximos jogos das ligas profissionais.

De acordo com o apurado, os árbitros decidiram por unanimidade entregar um pedido de dispensa formal aos jogos da I e da II Ligas. No entanto, esse pedido de escusa só será válido dentro de 20 dias, a partir desta quinta-feira, o período regulamentar previsto para estas situações.

Significa isto que os jogos profissionais do próximo fim-de-semana não estão em risco e contarão com a presença dos árbitros do quadro principal.

Abre-se, a partir de agora, uma janela negocial de 20 dias. Ao pedido oficial de dispensa, os árbitros juntaram uma lista de exigências. Se estas não forem aceites, então sim haverá greve aos jogos de futebol profissionais.

De fora deste quadro fica a Taça de Portugal, que não está abrangida pela ameaça de greve.

O encontro decorreu na cidade de Fátima e contou com a presença da esmagadora maioria dos árbitros do quadro principal.

Jorge Sousa e Artur Soares Dias, presentes em jogos da Liga dos Campeões esta semana, foduas das poucas ausências a registar.

Recorde-se que dos 76 árbitros dos campeonatos profissionais, apenas três não pediram dispensa dos jogos da I e II Ligas no próximo fim-de-semana.

Entretanto, através de comunicado, a APAF deu conta da lista de exigências dos árbitros, como pode ser lido nas linhas seguintes. A negrito estão as demandas do grupo de juízes. 

COMUNICADO DA APAF:

«Os árbitros C1, assistentes e estagiários decidiram por unanimidade entregar pedidos de dispensa que terão efeito a partir do prazo regulamentar.

A ausência dos árbitros nas competições profissionais será efetiva, nessa data, caso não se verifiquem os seguintes pressupostos:

Total ausência de insinuações, da parte de clubes e agentes desportivos, que coloquem em causa a honra e o bom nome dos árbitros; por clubes e agentes desportivos entendem-se os seus dirigentes, treinadores, jogadores e demais funcionários, os meios de comunicação próprios e aqueles que promovem nas redes sociais;
O período de 20 dias com total ausência de insinuações deve abranger todas estas pessoas e meios. Para que não restem dúvidas, entendemos por insinuações: acusar os árbitros de errarem de forma propositada; acusar árbitros de prejudicarem sempre o mesmo clube; referirem-se, direta ou indiretamente, a qualquer ato não provado de corrupção; aplicar aos árbitros, de forma direta ou indireta, expressões como «polvo», «padre», «diácono» ou «apito dourado», entre outras infelizmente utilizadas por diversos clubes já esta época;
Durante estes 20 dias exigimos reuniões da APAF e cinco árbitros com o presidente e Direção da Liga, com o objetivo de definir e aprovar um corpo regulamentar que reforce a punição de quem não cumpre as normas éticas e disciplinares a que estão obrigados todos os agentes, tal como sucede, por exemplo, na UEFA;
Este novo corpo regulamentar de normas éticas e disciplinares deverá ser aprovado pela Direção da Liga durante este prazo, e submetido a Assembleia Geral da Liga até 31 de dezembro de 2017, passando a vigorar assim que for regulamentarmente possível.

Consideramos que é equilibrada esta posição dos árbitros, tomada de forma a defender o Conselho de Arbitragem e para bem do futebol português, garantindo a igualdade de direitos entre os clubes e todos os agentes desportivos. Ao mesmo tempo, isto dá à Liga e aos clubes profissionais de futebol tempo suficiente para agir, de forma ponderada mas firme, na defesa das competições em que participam.

Os árbitros são hoje – como sempre foram – sensíveis aos apelos ao bom senso. Mas já não estão disponíveis para continuar a ser os únicos agentes do universo do futebol profissional com bom senso.

Mas ninguém pode ficar com dúvidas: se muita coisa não mudar nos próximos 20 dias, os árbitros não continuarão disponíveis para aceitar que a sua honra e bom nome continuem a ser sistematicamente postos em causa por quem tem por obrigação defender a integridade das competições profissionais. Queremos que seja promovida uma reflexão urgente para bem do futebol português, envolvendo todos os agentes desportivos e demais parceiros, como as associações de classe dos dirigentes, treinadores, jogadores e todas as que fazem parte da indústria do futebol.

As condições de serenidade, respeito e segurança, que são absolutamente essenciais para que os árbitros entrem em campo, estão em crise. Algo tem de ser feito de imediato pelo futebol!

Nesse sentido, a APAF e os árbitros resolveram criar um gabinete jurídico específico, destinado a acompanhar e analisar todas as declarações públicas nos diversos órgãos de Comunicação Social, de forma a responsabilizar civil e criminalmente toda e qualquer pessoa que coloque em causa a honra e o bom nome de qualquer agente da arbitragem.

A APAF oficiará esta quinta-feira a Direção da Liga no sentido de marcar, de forma urgente, a primeira reunião de trabalho com vista a definir e fazer aprovar regulamentos disciplinares que punam verdadeiramente quem não respeita os agentes de arbitragem.

Fátima, 22 de novembro de 2017

A APAF e árbitros»