Lionel Messi chega a junho com o futuro por definir. A começar pela própria saída do PSG. Depois de o treinador confirmar o que já todos antecipavam, que o argentino fará no sábado o último jogo no Parque dos Príncipes, o clube quis evitar fechar assim a porta e manter o que ainda possa restar de dúvida no ar. É nesta incerteza que está o presente e o futuro do astro que pairou sobre o planeta futebol nas últimas duas décadas e que viveu esta época o momento mais feliz da carreira. No Qatar, longe de Paris. Aí, foi bem diferente. Com a camisola do PSG, os últimos meses foram tudo menos felizes para Messi, que ouviu vaias e insultos e passou por uma suspensão a acentuar a relação fria com o clube.

Messi termina agora o segundo e último ano de contrato com o PSG. No saldo das duas épocas, fica a essência do talento, esse não desaparece, e ficam indicadores de influência menos exuberantes do que os dos anos de ouro do Barcelona, sim, mas por sinal bem mais relevantes nesta última temporada, aquela em que o divórcio parece inevitável.

Estava sobre a mesa uma renovação automática, mas ela não foi acionada, embora ninguém admitisse a saída e o pai e empresário de Leo garantisse que ele só decidirá o que fazer no final da época.

Christophe Galtier, o treinador que também deve estar de saída, assumiu nesta quinta-feira que Messi se despede de Paris no jogo da última jornada com o Clermont. Mas depois uma fonte do PSG falou à agência France Press, para dizer que o técnico se «expressou mal e que o jogo com o Clermont será o último de Messi no Parque dos Príncipes com o PSG nesta época.»

Da eliminação na Champions aos assobios no Parque dos Príncipes

Estamos nisto, nesta falta de clareza que arrasta equívocos. E com um evidente desconforto em torno da situação, potenciado nas bancadas do Parque dos Príncipes.

Messi regressou do Qatar em janeiro. No início de março, a derrota por 2-0 em casa do Bayern Munique, depois do 0-1 na primeira mão, consumava a eliminação do PSG nos oitavos de final da Liga dos Campeões. Uma vez mais, o clube falhava o objetivo maior, aquele que levou ao mega-investimento do próprio Qatar no PSG. Foi em nome dessa ambição que o clube foi buscar Messi no verão de 2021, quando ele não chegou a acordo para renovar com o Barcelona e deixou o Camp Nou ao fim de 20 anos. Era a cereja no topo do bolo numa absurda constelação de estrelas, no clube que já tinha Mbappé e Neymar.

A 2 de abril, o PSG perdeu em casa com o Lyon e correram mundo as imagens e os sons de alguns adeptos a vaiarem o argentino, ainda antes do início do jogo, colando-o, tal como a Neymar, a novo falhanço internacional do clube. Imagens que são difíceis de entender para os milhões pelo mundo fora que se habituaram a admirar o talento de Messi e que a 18 de dezembro o viram completar o círculo a festejar pela Argentina e a levantar, com um sorriso de menino, a taça de campeão do mundo, o sonho que perseguiu durante toda a vida.

O que dizem os números da época de Messi

A primeira época de Messi em Paris terminou com o título de campeão francês, mas também com a eliminação nos oitavos de final da Liga dos Campeões, aos pés do Real Madrid. Já então houve sinais de mal-estar, com críticas e alguns assobios das bancadas dirigidos a Neymar e também a Messi. O argentino fez 34 jogos, marcou 11 golos e fez 14 assistências, números bem distantes de qualquer uma das anteriores 15 épocas em Barcelona.

Na atual temporada, por sinal, Messi jogou mais, 40 jogos até agora. E a sua influência foi maior. Galtier lembrou os números nesta quinta-feira, no tal anúncio de despedida entretanto desmentido pelo PSG. «Messi sofreu críticas injustas durante a temporada quando aos 35 anos, com um Mundial pelo meio, marcou 21 golos e fez 20 assistências. Foi decisivo em 41 ocasiões», lembrou o treinador: «Foi um privilégio treinar o melhor jogador da história.

Mas há sempre muitas formas de olhar para os números. Depois da derrota com o Lyon, o jornal L’Équipe estabeleceu uma comparação entre a influência de Messi no PSG antes e depois do Mundial, para concluir que havia uma diferença, para pior.

Na Liga dos Campeões, esta foi a época menos eficaz de Messi. Marcou quatro golos, todos na fase de grupos: três ao Maccabi Haifa e um no empate na Luz com o Benfica. Mas ainda assim, o Messi que parte do Parque dos Príncipes assobia é o jogador com mais passes para golo na Ligue 1 e um dos poucos nas principais Ligas europeias com números de dois dígitos tanto em golos como assistências. Mesmo depois do Mundial e dos assobios, o companheiro de equipa dos portugueses Nuno Mendes, Vitinha e Danilo continuou a fazer coisas de Messi, a inventar espaços e a fazer passes de sonho.

A polémica viagem à Arábia Saudita

Entre Messi e o PSG as coisas deterioram-se ainda mais no início de maio. Depois da derrota caseira com o Lorient, o plano de treinos do PSG foi alterado e, enquanto a equipa treinava, nas redes sociais surgiam fotos de Messi descontraído com a família, na Arábia Saudita.

Não só causou um incidente com o clube, como aumentou a especulação sobre o seu futuro. Foram dias agitados no PSG, com manifestações de adeptos e insultos a Messi, mas também a Neymar e aos responsáveis do clube. Messi pediu desculpa e explicou que não sabia da alteração dos treinos e já tinha previsto há muito a viagem ao país, com quem tem um contrato milionário como embaixador do turismo saudita.

Foi suspenso e falhou um jogo. Depois voltou e ouviu uma vez mais assobios vindos das bancadas no Parque dos Príncipes. Duas semanas mais tarde, foi dele o golo que selou o título do PSG, no empate com o Estrasburgo. É o seu terceiro troféu em duas épocas no PSG e de caminho valeu-lhe mais um recorde no duelo de extra-terrestres que manteve ao longo de todos estes anos com Cristiano Ronaldo.

Mas não houve festa e não houve adeptos eufóricos a receber a equipa do PSG. Não haverá também nos próximos dias, por motivos bem mais graves – o estado de saúde do guarda-redes Sérgio Rico, que luta pela vida depois de sofrer uma queda de um cavalo .

A indefinição alimentada pelo PSG tirou peso àquela que será muito provavelmente a despedida de Messi, neste sábado. A frieza que tem marcado a relação entre o jogador e o clube deve prolongar-se até ao fim.

E agora, o que se segue?

Agora, a grande incógnita é o que fará a seguir Messi, que completa este mês 36 anos. Têm sido lançados muitos cenários. Se a continuidade no PSG parece o menos provável, há desde logo a pista de um eventual contrato milionário na Arábia Saudita, nas pisadas de Cristiano Ronaldo. Uma informação que a France Press chegou a avançar mas que o pai de Leo desmentiu. 

Depois, um eventual regresso a Barcelona. No auge da contestação em Paris, o Camp Nou cantou por ele e o treinador Xavi, claro, abriu os braços ao regresso do antigo companheiro ao lado de quem viveu a era de ouro do clube. Embora na Catalunha se alimente a ideia, essa é uma hipótese que parece pouco viável perante a atual situação financeira do Barça, na origem da qual esteve precisamente a saída de Messi há dois anos.

Também se falou num mais romântico eventual regresso ao futebol argentino. Depois há a via da MLS, com informações de que o Inter Miami de David Beckham estaria a tentar arquitetar um plano para tornar possível a contratação de Messi. O comissário da Liga norte-americana, Don Garber, alimentou essa hipótese em março, quando disse ao The Athletic que haveria «flexibilidade» para tentar um negócio dessa dimensão. Para baralhar ainda mais as coisas, o L’Équipe avançou agora com uma hipótese «dois em um»: Messi podia assinar pelo Inter Miami e depois ser emprestado ao Barcelona.