*Enviado-especial ao Euro 2016

O dia de que todos os europeus estão à espera. O primeiro do Euro 2016, curiosamente Dia de Portugal. Uma coincidência em que muitos vêem o simbolismo de uma conquista portuguesa daqui a um mês. A resposta sobre quem levantará o troféu, com ou sem a Seleção Nacional na corrida, só a teremos a 10 de julho. O certo é que, se tudo correr dentro da normalidade, espera-nos um mês de intensidade elevada.

Quinze minutos depois de uma cerimónia de abertura que se prevê colorida e com toque bem extravagante – dançarinas de can-can à mistura e um carrossel gigante, com David Guetta, ainda quente pelo espetáculo dado frente à Torre Eiffel esta quinta-feira à noite, a estar responsável pelo hino do torneio –, França e Roménia entram em campo para o pontapé de saída da competição. Serão 21 horas (20 em Lisboa) em Saint Denis, que estará, espera-se, guardado a sete chaves face à constante ameaça do terrorismo e aos atentados recentes, junto ao mesmo estádio nacional gaulês, e que tiveram réplicas pouco depois no aeroporto de Bruxelas.

O MAISFUTEBOL vai estar em Saint Denis para contar-lhe tudo sobre o grande jogo.

De um dos lados, o organizador, em que algumas baixas de última hora, sobretudo na defesa, levantam algumas dúvidas sobre a consistência da candidatura ao título. Isto apesar de a equipa de Didier Deschamps manter grandes valores, como Paul Pogba – de quem se fala que pode render mais de 100 milhões de euros à Juventus numa eventual transferência para o Manchester United de José Mourinho – e Antoine Griezmann, e jogue com o apoio do seu público, perante o qual já foi campeã em 1984, depois de afastar Portugal nas meias-finais.

A França procura o terceiro título, igualando Alemanha e Espanha, e claro que está sob pressão debaixo dos olhares de bancadas muito exigentes. Para isso também contribui a não chamada de Karim Benzema, alegadamente envolvido no caso de extorsão ao companheiro de seleção Valbuena. O potencial e o talento estão lá, mas os últimos meses não foram fáceis, surgiram obstáculos a mais, daí que um triunfo convincente frente aos romenos poderá voltar a unir o que os últimos tempos pareceram separar.

A Roménia dificilmente poderá lutar pelo primeiro lugar

A Roménia, que se estreia em jogos de abertura e que nunca ganhou numa estreia, será o adversário dos Bleus, que venceram 21 dos 32 jogos realizados em Saint Denis, tendo perdido apenas três vezes (Espanha, Bielorrússia e Rússia). Esta é uma Roménia bem diferente dos seus tempos áureos, quando era comandada por Hagi, o Maradona dos Cárpatos. Não tem sequer ninguém parecido. É uma equipa sem estrelas. Nunca bateu os franceses, e as expetativas são que faça uma campanha condigna, se possível a lutar pelo apuramento para os oitavos de final.

Apesar da falta de sucesso, os romenos têm dificultado ao máximo a tarefa dos rivais, e chegaram mesmo a empatar neste mesmo estádio a um golo, em jogo de qualificação para o Campeonato do Mundo de 2010. Com dez golos sofridos, tiveram a defesa menos batida da qualificação.

Em caso de um surpreendente triunfo neste jogo inaugural – algo que não conseguiram fazer em todo o Euro 2008 –, os romenos juntar-se-iam à Grécia, que festejou em 2004 perante Portugal (2-1 no Dragão), e a República Federal Alemã, em 1972 (2-1 frente à Bélgica), as únicas seleções a bater o anfitrião na estreia. No entanto, a tarefa não se adivinha nada fácil. Sob o comando de Iordanescu, chegou aos oitavos de final do Mundial de 1998, que perdeu para a Croácia em Bordéus.

A preocupação pela contestação social em pleno Euro, noticiada pelo «Le Monde».

Caos em Paris

O dia promete ser caótico. Com algumas vias ainda cortadas pelas cheias, greves a provocar falta de transportes públicos e engarrafamentos – e combustíveis mais racionados face à paragem nas refinarias –, e com um trânsito ainda mais difícil com a partida de muitos para férias, a polícia tentará ainda ao máximo isolar o estádio da circulação automóvel. Está previsto que raros sejam os automóveis que circulem na periferia, e que a entrada de adeptos e mesmo dos jornalistas na infraestrutura só seja possível depois de uma revista mais exigente.

O lixo também acentua o tom do momento complicado que os franceses atravessam. A falta de recolha devido às greves tem deixado as ruas da capital com um cenário desagradável. O país atravessa uma forte contestação social, e os franceses estão também preocupados com a imagem que vai ser passada ao resto do mundo.

A situação obrigou mesmo ontem o presidente François Hollande a garantir que as greves não atrapalharão a prova: «O Estado tomará todas as medidas necessárias para acolher e transportar os adeptos, e garantir que os jogos possam decorrer nas condições exigidas de segurança.»

A ameaça do terrorismo está em cima de todas as cabeças presentes no Euro 2016, e todos os cuidados seriam poucos à partida. E, por isso mesmo, a UEFA recomenda que se desloquem o mais cedo possível para os estádios. Mas o próprio país estão instável e ansioso por questões internas e isso ameaça também o próprio Campeonato.

Bleus têm baixas na defesa e no ataque

Para quem gosta de números, a França venceu um e perdeu outro dos seus dois jogos de abertura como organizadores. Bateu a Dinamarca no Parc des Princes em 1984 (1-0), 24 anos depois de ter sido derrotada no mesmo local nas meias-finais de 1960, frente à Jugoslávia, por 5-4. Os organizadores não têm saldo muito favorável nas 17 edições anteriores, com cinco triunfos, seis empates e seis derrotas, o que significa que Griezmann e companhia têm a oportunidade de deixar tudo empatado. Um bom arranque pode ser importante.

No que diz respeito a novidades, aquela que chama mais a atenção é o crescimento de N'Golo Kanté, campeão inglês pelo Leicester, na equipa gaulesa. Todos os dão como titularíssimo na estreia.

A festa já começou nas fanzones. O tempo melhorou. A segurança parece apertada. Está tudo pronto! Não haverá quem em casa peca um pouco mais de espaço, para poder assistir à bola. 

Hoje não, querida! Começa o Campeonato da Europa!

EQUIPAS PROVÁVEIS:

Stade de France, em Saint Denis

FRANÇA - Lloris; Sagna, Rami, Koscielny e Evra; Pogba, Kanté e Matuidi; Griezmann, Giroud e Payet

ROMÉNIA - Tatarusanu: Sapuranu, Grigore, Chirichee e Filip; Hoban e Pintilii; Popa, Stanciu e Stancu; Andone

O húngaro Viktor Kassai foi o árbitro nomeado pela UEFA para o encontro.