Zahir Belounis, 33 anos, é um futebolista francês que está retido no Qatar, devido a uma lei laboral do país que vai receber o Mundial 2022. Por isso, escreveu a Zinedine Zidane e a Pep Guardiola a pedir ajuda.

Desde junho de 2012 que Belounis tenta voltar a França. O jogador envolveu-se numa disputa legal com o clube que representou naquele país, o Al-Jaish, por cerca de dois anos de salários em atraso. No Qatar, e na Arábia Saudita, é necessário cumprir a lei kalafa, que consiste num visto de saída apenas garantido com autorização do empregador. Neste caso, o Al-Jaish.

Belounis diz estar a viver um pesadelo. «Sei que foram embaixadores da proposta do Qatar ao Mundial 2022. Fizeram-no com boas intenções, mas a realidade é que, se o Qatar não abolir este sistema do visto de saída, então haverá centenas, talvez milhares, de pessoas retidas aqui», escreveu o jogador, de 33 anos, dirigindo-se diretamente a Zidane e Guardiola.

O jogador, que também teve passagens por França, Suiça e Malásia, afirma que muitos dos que estão a trabalhar na construção dos estádios «arriscam-se a ficar na mesma situação». Acrescenta que a está «a viver um pesadelo há vários meses» e que a situação o está «a matar lentamente».

Assim, Belounis apelou ao bom coração de Zidane e Guardiola: «Peço-vos que usem a vossa influência como embaixadores do futebol para falarem do que me está a acontecer e a muitos outros jovens aqui no Qatar, porque as pessoas estão a ser proibidas de ir para os países de origem por causa deste sistema de vistos».

«Vocês sabem o que é ter filhos, imaginem o que estou a passar todos os dias numa casa que está meio-vazia – porque quando me prometeram dar o visto, eu vendi a minha mobília toda – e quando olho as minhas filhas nos olhos, sinto vergonha, sinto-me enojado comigo mesmo por as estar a sujietar as estas condições», acrescentou o jogador, que está no Qatar acaompanhado doa mulher e duas filhas pequenas.

«Dirijo-me a vocês como pais e peço-vos, por favor, falem e façam o que for possível para me ajudarem», concluiu Belounis na missiva.



Em entrevista telefónica à Euronews, confessou estar a entrada em desespero: «Não consigo aguentar mais. Estou desesperado. Não sou nenhum criminoso, não fiz nada de mal, por favor ajudem-me». O seu irmão esclareceu que Zahir já foi forçado a vender a televisão, as camas das crianças, os brinquedos, «tudo o que tinha, até o seu carro». «Só o deixam sair se assinar um papel a dizer que o clube não lhe deve nada», explicou Mahdi.

As reações vão surgindo e esta quinta-feira a FIFPro (sindicado de jogadores) pediu ao presidente da FIFA para «unir a família do futebol no sentido de acabar com este impasse», mas o organismo futebolístico, em comunicado, já veio dizer que nada pode fazer para ajudar Belounis: «A FIFA nada pode fazer para intervir nesta matéria, dado que o senhor Belounis optou por contactar um tribunal ordinário no Qatar em vez de uma outra opção disponível dentro dos parâmetros da FIFA. Até este momento a FIFA não recebeu qualquer queixa sobre contratos relativos a Zahir Belounis contra o clube qatari, nem qualquer outro documento que possa suportar este caso».

A FIFPro esclare que Belounis assinou o seu primeiro contrato com o El-Jaish em 2007, tendo renovado até junho de 2015, mas em novembro de 2011 o clube deixou de pagar o salário. Na opinião do sindicato o que está a suceder atualmente é uma «violação básica dos direitos humanos».

A intervenção da embaixada francesa não foi suficiente para convencer o clube a entregar o visto de saída e mesmo depois de Zahir ter assinado um documento, acabou por não conseguir sair do país pois foi solicitada nova assinatura num texto que poderia levar à acusação de difamação.

James Masters, um jornalista da CNN que tem acompanhado o caso, disse esta semana que Belounis tentou suicidar-se, mas o crescente apoio internacional evitou o pior.