O futebol conseguiu aumentar as receitas, apesar da crise. Mas continua a ter dificuldades em transformar o dinheiro que gera em lucro sustentável. E gasta cada vez mais em salários. São as principais conclusões de um relatório da Deloitte, que analisou as contas e concluiu que a Inglaterra continua a ter a Liga mais forte. Portugal aparece em nono lugar na lista, embora no caso português os números sejam de 2009/10.

As receitas do mercado europeu cresceram 4 por cento em 2010/11, para um total de 16,9 mil milhões de euros. Mas das cinco principais Ligas europeias (Inglaterra, Alemanha, Espanha, Itália e França), apenas as duas primeiras conseguiram lucros operacionais no fim das contas: 171 milhões no caso alemão, 97 milhões na Premier League.

Há alguns sinais de risco. Se o aumento das receitas globais de 2010/11 se deve em parte à televisão, nomeadamente na Premier League, com a venda de direitos para o estrangeiro, a Deloitte estima que as verbas de direitos televisivos tenham «crescimento limitado» nos próximos anos. Por outro lado, as receitas de bilheteira baixaram dois por cento na última época, naquele que é entendido já como um reflexo da crise.

E depois há o enorme peso dos ordenados: gastos de 5,6 mil milhões em salários nas cinco principais Ligas europeias (Inglaterra, Alemanha, Espanha, Itália e França), um aumento de dois por cento.

Em Inglaterra,os salários levam 70 por cento do total das receitas. Só os 20 clubes da Premier League gastaram perto de dois mil milhões de euros em ordenados. O maior gastador foi o Chelsea, com 230 milhões de euros. E o Manchester City gastou 114 por cento do que ganhou a pagar salários. No outro extremo está o Manchester United, que manteve a folha salarial nos 48 por cento dos rendimentos.

«O controlo de custos continua a ser um dos grandes desafios para os clubes de futebol europeus. A relação dos custos com os salários combinados e o rácio das receitas aumentou nos últimos cinco anos entre os 60 e 66 por cento, com os salários a crescerem mais rapidamente que as receitas. Sublinhamos a importância das regras financeiras impostas pela UEFA que ajudam os clubes a serem financeiramente mais eficientes. Para os clubes que pretendem participar nas competições da UEFA, pela primeira vez, os resultados financeiros a partir da época 2011/12 irão contar para o cálculo de break-even do UEFA Financial Fair Play», avisa Adam Bull, da Deloitte.

Inglaterra gasta muito, mas também gera mais receitas que ninguém. Ganhou 2,500 milhões de euros e cresceu mais na última temporada do que qualquer outra das «cinco grandes» Ligas, nada menos que 12 por cento. A Alemanha surge em segundo lugar nas receitas, que cresceram cinco por cento para 1,746 milhões. A Espanha fecha o pódio, com crescimento também de cinco por cento e receitas totais de 1,718 milhões de euros.

A seguir na lista aparecem a Rússia, com 614 milhões de receitas, a Turquia, com 431 milhões, a Holanda, com 431 milhões, e depois Portugal, com 234 milhões, segundo dados a que o Maisfutebol teve acesso. Já no relatório do ano passado a Liga portuguesa surgia nesta posição. No caso destes países, à exceção da Holanda, os dados são do relatório financeiro da UEFA relativo a 2009/10.

Nesses dados as principais receitas da Liga portuguesa são daquilo a que se chama «matchday», bilheteiras e outras verbas diretamente relacionadas com os jogos, que pesam 35 por cento nas contas finais. Seguem-se as receitas televisivas, que representam 23 por cento, e a seguir as receitas comerciais e de patrocínios, ambas com igual peso, 21 por cento cada. A receita média por clube na Liga portuguesa é de 24 milhões de euros, e os salários pesam 68 por cento.