As pessoas só vão perceber a gravidade do que se passa em torno dos novos estatutos da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) quando a selecção portuguesa deixar de poder participar em Europeus e Mundiais. Enquanto isso olham para os sucessivos episódios como mais uns daqueles arrufos do futebol português a que todos estamos habituados.

Felizmente para o dito - o futebol português - há uns anos que não se ouvia falar a sério das associações distritais. Só que continuaram sempre a ter a maioria dos votos na FPF. Nos últimos dois anos contra a lei do País.

Mesmo cercadas pela lei de um Estado de Direito, pelo Governo, pela FIFA, pela UEFA e pelos agentes do futebol mais identificados com o que é preciso fazer, as associações inviabilizaram este sábado a reformulação dos estatutos, obrigatória em face do Regime Jurídico das Federações.

Tudo porque não querem perder poder. Podemos dar as voltas que quisermos e iremos sempre parar aí. As associações querem que o futebol possa continuar a ser um estado dentro do Estado. O que num Estado de Direito é inadmissível (como já foi inadmissível, no passado, a FPF ter estado em risco de sanções da FIFA por um clube ter recorrido aos tribunais comuns para resolver questões desportivas - a FIFA está pontualmente do lado dos bons, nesta matéria dos estatutos da FPF, mas gosta mais que ninguém de ser uma autoridade acima das leis gerais).

Não resta agora ao Governo, na pessoa do secretário de Estado do Desporto, outra alternativa que não a de cumprir a promessa de suspender o Estatuto de Utilidade Pública da FPF. Assim haja coragem - é muito mais fácil fazê-lo com a Federação de Luta do que com a de futebol, que mexe com milhões de euros e milhões de pessoas. Mas Laurentino Dias, se quer continuar a ser levado a sério (como tem sido, e bem) não pode esperar mais. Suspensões de contratos-programa, pelos vistos, não beliscam o poder instalado, embora fique por explicar onde vão as associações buscar dinheiro para a sua actividade regular.

A selecção A vai buscá-lo aos patrocinadores. E estes, neste estado de coisas, serão certamente os primeiros a exigir responsabilidades se ela deixar de poder competir. Que assim seja.

*Editor Desporto TVI