Fernando Roig, presidente do Villarreal, tinha acabado de apanhar cinco do Barcelona (depois de na véspera o Saragoça ter apanhado seis do Real Madrid) e é por isso muito suspeito. Mas não deixa de ter razão: «Esta é a Liga que querem. Eu tenho de vender jogadores para cumprir as obrigações; outros pedem crédito e é-lhes concedido. Se querem que haja apenas dois jogos por ano, pois que haja dois jogos, mas isto não é bom para o futebol espanhol. Dou um prazo de três ou quatro anos. Ou isto muda ou matamos o futebol espanhol.»

Mais exagero menos exagero, Roig é capaz de não andar longe da verdade. Já não é preciso ser visionário para perceber que o caminho tomado pelos clubes vai conduzindo à inevitabilidade da formação, mais cedo ou mais tarde, de uma superliga europeia na qual só participarão os melhores. Ou por outra: os mais ricos. Uma espécie de NBA onde não haverá descidas de divisão e na qual se participará mediante o pagamento de um buy in ao jeito do poker. Uma larguíssima soma de milhões, aposto.

Em Espanha a bipolarização vai em crescendo e tende a dizimar os clubes médios, outrora capazes de fazer frente a Real e Barcelona. Em Inglaterra o cenário é algo diferente, mas a tendência está lá. E pelos vistos, esta época, apenas na terceira cidade do país, Manchester. A Itália definha e perde poderio europeu, enquanto Milan e Inter vão dividindo a hegemonia interna. Na Alemanha tudo corre melhor, e por isso há mais candidatos ao título (além de melhores assistências nos estádios).

Com os actuais moldes da Liga dos Campeões, existe claramente a metade superior, da elite, e a metade inferior dos clubes que vão encontrando espaço na prova enquanto houver vontade política de os manter por lá.

Mas a primazia do económico sobre o político, no futebol como na sociedade em geral, pode muito bem acabar por fazer prevalecer a vontade dos mais fortes: jogarem quase exclusivamente entre si, na tal superliga europeia com entrada paga, e deixarem aos outros os campeonatos nacionais - que passariam, na prática, a regionais.

Não sei se um modelo assim traria grandes vantagens ao futebol-espectáculo de alta competição. Admito que sim. E nem quero agora pensar que clubes portugueses poderiam eventualmente entrar num campeonato destes.

Sei que o fosso entre ricos e pobres vai continuar a aumentar. Que os ricos vão ser cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.

Onde é que eu já ouvi isto?

*Editor Desporto TVI

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