Só pelos meus filhos ponho as mãos no fogo - e por eles porei sempre, mesmo sabendo que poderei queimar-me e isso de nada lhes valer na mesma. Não consigo, portanto, garantir aqui que Ricardo Sá Pinto não volte, um dia, a ter uma atitude irrefletida como algumas - duas, em particular - que marcaram as suas carreiras de futebolista e dirigente desportivo.

O que posso é constatar a face pública de treinador que nos mostra desde há pouco mais de dois meses: um verdadeiro gentleman, coisa muito difícil de ser e parecer, como se sabe, seja em Portugal ou no estrangeiro.

Conheci pessoalmente o treinador do Sporting durante a sua passagem como comentador no programa de domingo da TVI. Por testemunhos que já tinha (e por uma anterior experiência de contacto superficial quando o Maisfutebol, há uns bons anos, promoveu o envio de mensagens de apoio para ele após uma lesão grave), não me supreendeu a tal faceta de gentleman. Sá Pinto é um homem educado e calmo, com um ligeiro traço aristocrático. O que nunca bateu certo no retrato foram os momentos de desequilíbrio.

Ao mesmo tempo que consegue, pelos vistos, transmitir aos jogadores a garra, a crença e a atitude que tanto o ajudaram a tornar-se um jogador de exceção, Sá Pinto tem um comportamento irrepreensível nas conferências de imprensa, com um discurso calmo, ponderado, positivo e, nota-se, bem estruturado previamente. Ou seja: Ricardo conseguiu reunir e potenciar o melhor que tem nele, começando de vez a abafar a imagem de um homem conflituoso e de subida fácil do sangue à cabeça.

Não sei se o fez sozinho, com a sabedoria do tempo que passa, ou se procurou ajuda. Em qualquer dos cenários o mérito será sempre dele. Nós só temos de agradecer esta lufada de ar fresco que deixa de lado os penáltis por assinalar ou os foras-de-jogo mal tirados e prefere falar do jogo e das suas variantes. Um feito tanto mais complicado quanto se encontra inserido numa das estruturas mais queixinhas do futebol português (mas não a única, é bom lembrar).

O futuro dirá se vão confirmar-se as indicações iniciais de que se trata de um treinador que sabe ler o jogo e prepará-lo de forma superior. O trabalho, os resultados e, porque não dizê-lo?, alguma sorte com as conjunturas levá-lo-ão ou não a um patamar de excelência. Mas este exemplo de cidadania já fica dado. E bem precisos são eles neste futebol cheio de mentes pequeninas.

*Editor TVI

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