O Maisfutebol desafiou os treinadores portugueses que trabalham no estrangeiro, em vários pontos do planeta, a relatar as suas experiências para os nossos leitores. São as crónicas Made in Portugal:

BRUNO MARINHO, Al HAMRIYA (Emirados Árabes Unidos)

«Caros amigos,

Pois é, escrevo-vos a derradeira crónica desta temporada. Em jeito de balanço, posso dizer que este primeiro ano nos Emirados Árabes Unidos foi extremamente recompensador.

Vim encontrar pessoas muito afáveis, que me receberam de braços abertos e me trataram como se fosse da família. É um povo bastante simpático e acolhedor. Ao longo da época fui sendo convidado para comer em casa de várias pessoas, o que foi muito bom para a minha integração.

Quanto ao meu clube, o Al Hamryia Club, deu-me todas as condições para desenvolver o meu trabalho. Os responsáveis deram-me total apoio o que foi determinante para os bons resultados que obtivemos.

Vim encontrar jogadores com muita qualidade técnica, mas que no início da temporada não tinham muitas noções tácticas. Felizmente, o nosso trabalho deu frutos, e conseguimos com que a nossa equipa subisse os índices competitivos.

Terminámos na quinta posição, com os mesmos pontos do quarto classificado, o que representa uma classificação bem acima da registada na época passada.

O campeonato é bastante competitivo e é jogado em estádios com todas as condições. Para terem um noção, em todos os recintos onde a minha equipa jogou, todos os relvados são naturais, à exceção de dois, que são sintéticos.

Vou continuar por cá na próxima temporada, com o objetivo de crescer ainda mais enquanto treinador e de levar esta equipa a patamares superiores.

Nunca é demais relembrar que os EAU acolhem muitos treinadores portugueses, que estão a fazer um trabalho notável em futebol, futebol de praia e futsal. É um orgulho para mim pertencer a este grupo de portugueses que estão a dignificar o nome do nosso país.

Um aspeto muito curioso, e do qual não fazia ideia que existisse neste país, é vermos os miúdos a jogarem futebol de rua, em campos de terra batida. A maioria deles joga descalço, um pormenor que faz com que desenvolvam a qualidade individual.

Além do futebol, é normal ver-se pessoas a jogar críquete nas ruas, nos jardins, essencialmente as comunidades paquistanesa e indiana. Pessoalmente, nunca me aventurei neste desporto, nem entendo o seu objetivo. Talvez um dia experimente.

Outra das coisas que dá para notar nos locais é que adoram futebol e os seus clubes de eleição são o Barcelona, devido a Messi, e o Manchester City, já que o seu dono é de Abu Dhabi, a capital dos EAU.

Estando aqui tanto tempo, é normal que conheça grande parte deste território. E posso dizer que os sete emirados são muito bonitos, todos eles com locais famosos. Abu Dhabi, a capital, tem a maior mesquita do mundo. Sharjah, onde resido, tem um museu de cultura islâmica lindíssimo. Ainda há pouco tempo pude ver uma Bienal sobre tradições islâmicas, aqui em Sharjah, maravilhosa.

Dubai é o emirado mais conhecido e sem dúvida é o mais vanguardista e cosmopolita. Tem as praias que todo o mundo conhece, paradisíacas.

Um pouco em contraste, o emirado de Umm al-Quaiwam é o menos desenvolvido e também o mais tradicionalmente árabe. Esta é uma altura em que as temperaturas começam a subir para níveis que não estamos habituados em Portugal. No Verão, podemos ter 45, 50 graus.

Ao longo destes 10 meses, pude constatar a enorme riqueza cultural deste ponto do Médio Oriente. Foi uma experiência enriquecedora.

Quando estamos fora de casa, do nosso país quase um ano, a saudade aperta. Sentimos falta da nossa família, namorada e amigos, mas tentamos minimizar essa distância.

Apesar de todas as dificuldades, foi uma experiência muito gratificante.

Muito obrigado por acompanharem o meu percurso. Até à próxima temporada!

Um abraço,

Bruno Marinho»