*Por Vítor Maia

O Valadares vai receber o Futebol Clube Benfica, este domingo às 16h, em jogo a contar para a quarta jornada da fase de apuramento de campeão.

A três jornadas do fim, o Valadares parte na frente e mesmo um empate pode deixar o sonho mais perto: a conquista do título nacional. Criada há cerca de três anos, a equipa de futebol feminino de Vila Nova de Gaia no ano de estreia conseguiu a subida à primeira divisão nacional. Esta é a segunda época da equipa no escalão principal do futebol feminino.

Mais a sul, o Futebol Clube Benfica, conhecido por Fófó, está a um ponto da liderança e uma vitória significaria o regresso ao primeiro lugar e caminho aberto para a revalidação do título.

HISTÓRICO DE CONFRONTOS

Em 11 jogos entre as duas equipas, o Valadares apenas venceu por duas vezes, enquanto a equipa da capital venceu cinco vezes. Nos restantes quatro jogos terminou tudo empatado.

A festa do Fofó na época passada

Em conversa com o Maisfutebol, Edite Fernandes e Neide Simões, jogadoras do Valadares, Joana Flores e Mafalda Marujo, atletas do Fófó, fizeram uma antevisão do encontro que pode ter um carácter decisivo nas contas do título nacional.

Pese embora o desequilíbrio registado em anteriores duelos, a opinião das quatro jogadoras foi universal: vai ser um jogo difícil, equilibrado em que o histórico de confrontos não terá qualquer peso no desfecho da partida de domingo.

Mescla de experiência e juventude em campo

O Valadares é a equipa que mais jogadores oferece à seleção nacional. Edite Fernandes, jogadora que conta com mais de cem internacionalizações por Portugal, é um dos rostos da ambição do Valadares. «É um jogo de grande pressão, mas este ano estamos melhor preparadas», diz a capitã.

Neide Simões, guarda-redes internacional pela seleção portuguesa, afirma que «ou é este ano ou não é». E explica que, com o crescimento que o futebol feminino tem tido, dificilmente o Valadares vai voltar a conseguir um grupo com tanta qualidade com o que tem atualmente: «Tivemos três semanas para preparar este jogo. Estamos bem preparadas e esperamos também ter sorte, que foi o que nos faltou no ano anterior».

Por sua vez, o Futebol Clube Benfica caracteriza-se por ser uma equipa jovem, ainda com poucas jogadoras internacionais pela seleção das quinas.

Do lado do Fófó, o pensamento é unânime: este é um jogo fundamental e que pode decidir quem vai ser campeão. «Quem perder acaba por ficar de fora do título», é a opinião de Joana Flores, avançada da equipa lisboeta. Mafalda Marujo partilha do pensamento da colega da frente de ataque e garante que não há favoritos para o encontro de domingo: «A bola é redonda, é um jogo em que tudo pode acontecer»

Quando a paixão pelo futebol se alia ao gosto pelo crossfit

O futebol feminino ainda não tem cariz profissional em Portugal, algo que obriga as atletas a conjugarem a prática desportiva com outra atividade profissional.

A guarda-redes Neide Simões regressou no início da época passada ao futebol luso depois uma experiência de dois anos como profissional na liga alemã, tenta conjugar o trabalho como instrutora de crossfit com o futebol. A paixão pelo crossfit foi, como se costuma dizer, ‘amor à primeira-vista’: «Desde o primeiro dia em que experimentei que nunca mais deixei».

Admiradora de desportos que impliquem grande intensidade, a antiga jogadora do Colónia garante que apenas abdica do crossfit quando se sente mais cansada: «Se sentir que o treino de crossfit vai prejudicar o meu desempenho no futebol, abdico ou opto por um treino mais leve, porque o futebol é a minha prioridade»

A linha avançada da equipa do Fófó é composta por duas atletas com relações com as forças de segurança: Joana Flores é polícia e Mafalda Marujo encontra-se a realizar formação militar.

Joana Flores, avançada da seleção feminina portuguesa, começou por jogar futsal nos Açores em conjunto com a prática do atletismo. Joana afirma mesmo que a ida para a polícia ajudou-a a cumprir o sonho de jogar futebol: «Vir trabalhar para a polícia em Lisboa, deu-me a possibilidade de ingressar no Clube Futebol Benfica e de realizar um dos meus sonhos.» A ajuda dos colegas torna-se fundamental para continuar a marcar golos e ao mesmo tempo para garantir a ordem pública.

Mafalda Marujo garante que o interesse pelo futebol e pela formação militar estão, de certa forma, interligados: «Agrada-me o rigor, a disciplina e a camaradagem do exército, algo que também existe no futebol, e que eu estimo muito». Embora muitas vezes seja obrigada a faltar aos treinos, Mafalda sente que essa ausência é compensada com os treinos na academia militar. «Aqui fazemos exercício diariamente e acabo por contrabalançar essa falta aos treinos. Fico só a sentir falta do contacto com a bola», confessa.

Edite Fernandes

Edite Fernandes, que já jogou nas ligas chinesa, norte-americana e espanhola, regressou a Portugal para recuperar de uma lesão grave e acabou por ingressar no Valadares. Com treinos à noite, a experiente avançada de 36 anos admite que é difícil conciliar a vida pessoal e profissional com o futebol: «É complicado conciliar tudo. A maior parte trabalha e estuda e, sobretudo depois de um dia de trabalho, não é fácil ainda vir treinar»

Menos preconceito, mais futebol feminino

Mesmo a grande distância do profissionalismo, o futebol feminino tem subido vários degraus em Portugal. A perspetiva de uma possível profissionalização parece cada vez mais real.

«Prevê-se a criação de uma Liga de Elite e fala-se de um maior investimento por parte de alguns clubes», revela-nos Mafalda Marujo. Joana Flores, futebolista há três anos e meio, partilha da mesma opinião: «Nota-se que há cada vez mais atletas, mais interesse do público e a transmissão de alguns jogos, alimenta esse crescimento».

Por sua vez, Neide Simões prefere destacar o papel da Federação Portuguesa de Futebol e aponta a criação de equipas de formação como o caminho a seguir para o futebol feminino crescer. «A médio/longo prazo a aposta na formação vai melhorar o desempenho, não só dos clubes, como também da nossa seleção. As jogadoras já vão chegar à seleção com outra experiência que acaba por ser importante», defende.

Para já em Portugal, a evolução do futebol feminino faz-se, lentamente, com o objetivo de superar cada vez mais barreiras quer ao nível desportivo quer ao nível cultural e social.