Pela primeira vez na história do seu futebol, a Arménia teve um representante na fase principal de uma competição europeia. A honra coube ao Noah, de Rui Mota, que superou as eliminatórias de qualificação da Liga Conferência e até se estreou na fase liga com uma vitória, antes do choque com a realidade que viveu em Stamford Bridge, frente ao Chelsea, com quem perdeu por 8-0.

Eliminar o AEK de Atenas, nas rondas de qualificação, foi um momento importante, que ajudou à afirmação de um novo treinador num projeto que tem como objetivo voltar às competições europeias já na próxima época.

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PARTE I: «O nome Rui Mota já diz alguma coisa ao futebol português»

PARTE III: Os portugueses do Noah: «Teve de ser muito à base da confiança deles em mim»

PARTE IV: «Vejo todos os dias o monte Ararat, é algo de inspirador»

PARTE V: Rui Mota, cidadão do mundo com um objetivo: «Quero treinar em Portugal»

Começou logo a fazer história no clube, ao qualificá-lo para a fase liga da Liga Conferência. Esse foi um momento-chave da época?

Sim, até porque era o primeiro objetivo que tínhamos para este ano. Chegando um treinador novo, ter o primeiro objetivo alcançado dá força e confiança, aos jogadores e às pessoas à volta do clube. Acho que, acreditar, acreditar, só acreditava eu, os meus jogadores e o presidente. Para se chegar a uma competição europeia, o caminho é muito complicado. Em algum momento haveria de aparecer uma equipa grande, como foi o caso do AEK, e não é todos os dias que uma equipa como o Noah consegue ganhar ao AEK. Depois de nos qualificarmos, as expetativas ficaram acima do que era a realidade, mas isso faz parte do sucesso. Já achavam que éramos o Real Madrid, mas a verdade é que as pessoas ficaram muito surpreendidas, mesmo as dos clubes rivais do Noah. Senti esse respeito e admiração.

E começou a fase liga a ganhar, frente ao Mlada Boleslav. Sentiu-se a viver um sonho?

É verdade. Entrar numa competição como esta e conseguir ganhar o primeiro jogo foi motivo de felicidade e de orgulho. Deu mais força a todo o processo que estávamos a desenvolver, mas sabíamos, pelo menos eu claramente por já ter experiência no futebol europeu, que isto não é fácil. Não temos os recursos de outras equipas e seria sempre difícil, mas tínhamos o objetivo de dar o nosso melhor e, em cada jogo, colocar em prática o nosso futebol. Mostrar a qualidade dos nossos jogadores, do nosso jogo e lutar em todos os jogos pelos três pontos. Acho que o fizemos.

Essa evolução conduziu a um choque com a realidade frente ao Chelsea. Como foi jogar em Stamford Bridge?

A preparação do jogo foi igual à de todos os outros. Do ponto de vista motivacional, pouco havia a acrescentar, porque jogar contra o Chelsea em Stamford Bridge é o sonho de qualquer um dos nossos jogadores. Quando surgiu o apito do árbitro, senti da parte dos jogadores alguma ansiedade e nervosismo, que se evidenciou no jogo. Mas acho que é normal. Faz parte do crescimento. Depois do jogo, disse ao grupo que estas são dores de crescimento. Aquele jogo deixou-nos mais preparados para, no futuro, quando tivermos outro desta dimensão, estarmos mais experientes. Agora, obviamente que foi com muito orgulho que vimos o nome do Noah estar presente em Stamford Bridge. Sou um apaixonado pelo futebol inglês, tenho a ambição de treinar na Premier League, e estar presente naquele palco foi um momento de orgulho e de satisfação por todo o trabalho que temos tido até aqui.

Nessa ocasião, defrontou os internacionais portugueses Renato Veiga e João Félix. Trocou ideias com eles?

Antes do início do jogo, o João perguntou-me sobre o projeto, como as coisas estavam a correr e como era a vida em Yerevan. Trocámos breves palavras. São jogadores de seleção nacional, é sempre um orgulho encontrá-los nestes palcos e poder jogar contra eles.

Ambos saíram do Chelsea, em janeiro. Isso surpreendeu-o?

Sim, porque são jogadores que casam bem com a Premier League. Mas se tivermos em conta aquilo que é o Chelsea e a quantidade de jogadores de qualidade que tem, acaba por ser uma situação normal, porque não pode ficar com todos. É uma pena não ver tanto o Renato como o João na Premier League, porque acho que é o melhor campeonato do mundo. E jogadores como eles merecem lá estar.

Depois da estreia na Liga Conferência, já se imagina a ouvir o hino da Liga dos Campeões, na próxima época?

(risos) Esse é um grande passo. Entrar na Liga dos Campeões é algo de surreal, porque é uma competição estratosférica e acho que o Noah ainda não está preparado para estar presente numa competição como essa. Já estamos a trabalhar para termos melhores condições e sermos mais competitivos no futuro, mas sabemos que alcançar a fase liga da Liga dos Campeões é algo que ainda está distante. Contudo, temos a ambição, penso que real, de para o ano estarmos novamente presentes numa competição europeia, seja ela qual for, até para sustentar e catapultar o projeto do Noah. Tudo faremos para ser a melhor delas.