A viver em Yerevan, capital da Arménia, Rui Mota carateriza um povo com muitos traços que o ligam ao português, desde o bem receber ao gosto de se sentar à mesa a conviver.
O nome do clube que orienta, Noah, remete para a arca de Noé, que segundo as Escrituras terá atracado no monte Ararat, que serve como pano de fundo à academia do clube.
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PARTE I: «O nome Rui Mota já diz alguma coisa ao futebol português»
PARTE II: Brilharete do Noah na Liga Conferência: «Já achavam que éramos o Real Madrid»
PARTE III: Os portugueses do Noah: «Teve de ser muito à base da confiança deles em mim»
PARTE V: Rui Mota, cidadão do mundo com um objetivo: «Quero treinar em Portugal»
Como se deu a possibilidade de se mudar para a Arménia, um país que, futebolisticamente, dirá pouco a muitos portugueses?
Veio no seguimento do trabalho que estávamos a fazer no Dila Gori, um projeto na Geórgia, o meu primeiro enquanto treinador principal. As coisas estavam a correr francamente bem. Era uma equipa muito jovem, que era dada como uma das que estava delineada para descer de divisão, mas estávamos no primeiro lugar, com um tipo de jogo muito positivo. Como a Arménia era um país ali ao lado, chamou a atenção do Noah. Na altura até estava de férias. Pediram para fazer uma conference call com o presidente e eu fi-la, como faço com toda a gente que quer conhecer o meu trabalho. Percebi que era um projeto diferente do que aquele em que estava. Tinha uma maior ambição e a projeção era mais condizente com aquilo que eram as minhas expetativas, que passavam por ter uma equipa que pudesse lutar pelo título nacional e em poder estar nas competições europeias, como acabou por acontecer. Isso acabou por me motivar, tal como a relação com o presidente, porque houve logo uma química. A Arménia, do ponto de vista futebolístico, é um país que não é muito conhecido, mas senti que podia dar-me algum destaque, o que acabou por acontecer.
Conhecia alguma coisa do país quando foi convidado?
Já conhecia o país e a competição, porque era um mercado ao lado do georgiano. Mesmo em termos de referências de jogadores, também olhávamos para ele na possibilidade de, eventualmente, recrutarmos alguns para o Dila. Ia acompanhado.
Como é viver em Yerevan?
É uma cidade muito diferente de Lisboa. Ainda se nota o antigo regime. Não nos podemos esquecer de que a Arménia fazia parte da antiga União Soviética e ainda se notam alguns traços em termos arquitetónicos daquele regime. Mas foi uma agradável surpresa, porque é uma cidade onde se vive muito bem, com uma qualidade de vida muito agradável. Desde o primeiro momento, senti-me muito bem aqui. Tem tudo aquilo de que precisamos no dia a dia e uma boa oferta cultural. Sendo diferente de Lisboa, que para mim é uma das melhores cidades do mundo, foi uma agradável surpresa.
Do que já fez e visitou na Arménia, o que lhe chamou mais à atenção?
O povo arménio, embora seja muito diferenciado do português, tem uma coisa em comum connosco: gosta de se sentar à mesa e de conviver. As pessoas são um bocadinho como nós, gostam de receber bem, são muito acolhedoras. A nível gastronómico, encontra-se aqui muitos bons vegetais, a fruta também é muito boa e têm muito boas carnes. A matéria-prima é muito boa. A culinária é mais internacional, mais à base de grelhados e comida tradicional italiana. Agora, é sempre muito difícil comparar a nossa gastronomia, que é tão rica e variada, com as de outros países. Por onde tenho andado, é muito difícil encontrar um país melhor do que Portugal a esse respeito.
O nome do clube, Noah, tem algum significado?
Tem a ver com a arca de Noé, que chegou ao monte Ararat, um dos ícones da Arménia. Tem essa conexão bíblica. Ainda não o visitei, mas vejo-o todos os dias porque a nossa academia é mesmo em frente a ele. É algo de inspirador.