Lembram-se do Gafanha, equipa do distrital de Aveiro que Costinha trouxe à ribalta pública após o último jogo com o Benfica? A pequena agremiação mereceu uma nova visita do Maisfutebol, mas desta vez não é o futebol sénior que nos mereceu a atenção. São os mais novos.

A aposta do clube nas camadas jovens já fora revelada pelo nosso jornal e aquilo que a equipa de iniciados estava a fazer na altura fazia antever algo em grande para os Gafanhões. Chegada a fase de apuramento do campeão nacional da categoria, os meninos de Ricardo Pinheiro ombreiam agora com os crónicos candidatos, Sporting, F.C. Porto e Benfica.

«O Gafanha tem 15 equipas inscritas na AF Aveiro, com toda a envolvência que isto implica, logo é natural que o trabalho dê os seus frutos, mas esta fornada é excecional», admite ao Maisfutebol o presidente Dinis Gandarinho, que não se cansa de destacar as «condições físicas» colocadas à disposição dos jovens.

Há um campo de relva natural, mas também um de apoio, sintético, que a equipa utiliza para os três treinos semanais. «O objetivo é, dentro de três ou quatro anos, termos uma base forte para os seniores e podermos ambicionar a qualquer coisa», revela.

Os dias de jogos são uma festa na Gafanha e há, claro, mais gente nos encontros dos pequenos do que nos da equipa principal. O maior feito foi a vitória no Seixal, diante do Benfica, e mesmo as derrotas seguintes, com leões e dragões, foram «vendidas» bem caras. O Sporting lidera com nove pontos, os outros têm todos três.

Ambição sem limites

«Agora tudo é possível e não fecho a porta a nada. Podia estar aqui a dizer que vamos fazer o melhor possível e já chegámos longe, porque somos o Gafanha, mas não faz o meu género. Nada disso. Vamos tentar ganhar os três jogos que faltam. Campeões? Pode acontecer. Os outros são fortes, mas nós também. Temos provado isso.»

A declaração, plena de confiança, pertence a Ricardo Pinheiro, treinador desta equipa, que trocou o Beira Mar pelo Gafanha há dois anos, trazendo consigo vários destes jovens talentos. «Peguei nestes miúdos, de 98, há cincos anos. A minha mentalidade é um pouco diferente. Fui tentando trabalhar os meus atletas, apurando os melhores, dentro de certas caraterísticas», prossegue.

O técnico explica que não só vai fazendo uma seleção natural, como está bastante atento a todos os jogos que se realizem nas redondezas para, no final de cada época, poder reforçar o plantel com quem preencher da forma mais adequada os lugares entretantos deixados vagos. A equipa já vinha colecionando títulos distritais ainda nos infantis.

«As condições [no Beira Mar] eram muito limitadas», recorda, feliz por ter aceitado o convite do Gafanha, para um projeto a dois anos. «Comigo tem de ser assim. Se for para andar por ai, só por andar, não contem comigo», destrinça.

«Ai temos uma forma distinta de trabalhar. Parece que temos uma estrutura grande, mas o núcleo é muito pequeno. É o clube certo. As pessoas acreditam e dão tudo o que podem», assinala, orgulhoso dos rapazes que já chegaram à seleção nacional, casos de Marcelo Dias e Samuel Dias, já depois de João Monteiro e Nassur.

Os colossos estão atentos e há cada vez mais observadores e empresários nos jogos. «É natural que um ou outro possa sair. Eles têm muita qualidade e acreditaram no que lhes fui dizendo», afiança o treinador, ele próprio na mira de outros clubes, mas ainda indisponível para analisar o futuro. «Só depois de acabar a época e irei falar primeiro com a minha direção», promete.

O sucesso está, também, em saber aproveitar quem vai saindo das equipas tradicionalmente fortes nestes escalões, voltar a dar-lhes brilho, e depois é ver os clubes que os dispensaram de novo atrás deles. É assim o Gafanha.