Bom conversador, inteligente, descomplexado. Gaspar é um dos sete homens do Rio Ave com um passado ligado ao F.C. Porto. E, com certeza, o que mais histórias tem para contar. Homem de confiança de Carlos Brito, Gaspar procurará no Dragão repetir um feito único, já com 30 anos de existência: ajudar a equipa de Vila do Conde a vencer em casa do Porto.

«É melhor ir lá jogar depois de uma vitória. O Rio Ave só ganhou uma vez em casa do F.C. Porto (1981), mas o que quer isso dizer? Que só ganhamos lá de 30 em 30 anos?», diz ao Maisfutebol, no seu estilo folgazão, confiante.

«A nossa equipa está mais afinada. Estamos melhor do que em Setembro, sem dúvida. Já ganhei aos grandes e já marquei golos aos grandes. Nunca se sabe o que pode acontecer. O Porto é um adversário do nosso campeonato, a pressão deles é que é diferente da nossa», acrescenta o defesa central.

F.C. Porto-Rio Ave (antevisão)

«Para mim é um jogo especial, como são todos aqueles que faço contra os meus ex-clubes. Deixei lá grandes amigos», conclui Gaspar, antes de aceitar o nosso desafio e voltar por uns bons minutos à temporada 1997/98. A temporada em que Gaspar vestiu de azul e branco e foi utilizado por António Oliveira em nove jogos (sempre titular, um golo) do campeonato.

«Que saudades. Nunca entendi muito bem a minha saída. O António Oliveira não continuou, entrou o Fernando Santos e não me deixaram fazer sequer a pré-época seguinte, depois de ter jogado muitas vezes É essa a minha mágoa. Tinha qualidades para ficar lá.»

Gaspar diz, inclusive, que tudo se terá precipitado com uma má exibição frente ao V. Setúbal, nas Antas. «O problema foi esse jogo. O mister passou-me para defesa esquerdo, meteu o Paulinho Santos a central e as coisas não me correram bem. Passei muito tempo sem jogar.»

Lançado às feras (e a Suker) no Santiago Bernabéu

Estádio Santiago Bernabéu, 10 de Dezembro de 1997. Gaspar está no banco de suplentes. Inexperiente, sem qualquer rotação na Europa. Fernando Hierro faz 1-0, Davor Suker 2-0 e António Oliveira farta-se. Manda entrar o miúdo e tira João Manuel Pinto, aos 32 minutos. Mas que jogo para estreia!

«Estava no banco, sossegado, e o Real Madrid marcou dois golos. O mister Oliveira mandou-me aquecer, dei duas corridas e entrei logo. Nunca mais me esqueço do que me disse: a defesa parece manteiga. Vai sair o João M. Pinto e quero que marques o Suker. Os jornais consideraram-me o melhor do Porto», conta ao nosso jornal, 14 anos depois.

Bem-humorado, Gaspar diz mesmo que esse jogo é uma lição de vida. Uma lição contada e exagerada vezes sem fim. Uma hipérbole. «Costumo contar esta história aos jogadores mais novos. Exagero as minhas acções positivas, dou ênfase a tudo o que de bom fiz em campo, menorizo o valor dos jogadores do Real Madrid e termino com a verdade: o Suker foi o melhor em campo.»



Gaspar esteve apenas uma época no F.C. Porto. Ficou marcado pela genialidade excêntrica de António Oliveira. «Adorei trabalhar com ele. Os treinos intensos, os discursos inflamados, os pontapés nos cestos quando dormíamos em campo e, muito especialmente, os livres que ele marcava nos treinos para exemplificar», sustenta Gaspar.

«Não falhava um, de pé esquerdo ou de pé direito. Virava-se para trás e gritava: qual é a dificuldade disto?».

«Assinei um pré-contrato com o Benfica»

Anos antes, Gaspar brilhara com a camisola do V. Setúbal. Internacional sub-21, fisicamente portentoso, pôs as cabeças dos dirigentes portugueses à roda. «Estava no Setúbal e em Novembro de 1996 o Paulo Autuori quis contratar-me para o Benfica», confessa. Nunca foi para a Luz. O que se passou?

«Assinei um pré-contrato, mas em Janeiro o Autuori saiu e entrou o Manuel José. Contratou o Jorge Bermudez e percebi que não contava comigo. Foi aí que apareceu a hipótese de ir para o F.C. Porto. Não pensei duas vezes.»