O jogo que fecharia a jornada 9 da Liga (só não fecha porque o jogo do FC Porto na Madeira frente ao União foi adiado) era bem mais decisivo para o Vitória de Guimarães do que para o anfitrião Paços.

Debaixo do dilúvio da Mata Real, os dias de tempestade vitorianos parecem finalmente ter tido um raio de sol.

Tão preocupante como o mau arranque dos vimaranenses, só mesmo o facto de a chicotada que lhe sucedeu  ter demorado a surtir o efeito psicológico que era suposto ter na equipa.

Sérgio Conceição chegou, viu e não venceu. Uma e outra vez; até somar quatro derrotas e um empate. Hoje parecia destinado a novo empate a zeros. Mas foi aí, já nos descontos, que apareceu Ricardo Valente a fazer o golo que valeu três pontos e uma dos triunfos mais celebrados dos últimos tempos para os vimaranenses.

Começou melhor o Paços, que ainda assim só a meio da primeira parte criou um lance de verdadeiro perigo: Bruno Moreira, sempre perigoso quando lhe dão um palmo de terreno, apareceu a desviar de cabeça um livre da direita: a bola subiu e ao descer passou a rasar o poste da baliza vitoriana. À passagem da meia-hora foi a vez do lateral Hélder Lopes, um pêndulo capaz de fazer todo o flanco, driblar dois adversários e só falhou na hora de rematar: saiu forte, mas mais pareceu um cruzamento tenso do que um remate.

O Vitória tentava responder ao maior domínio pacense na zona central e acabou mesmo por introduzir a bola na baliza adversária. Tomané subiu e cabeceou para um golo que Cosme Machado anulou (bem) por falta do avançado vitoriano sobre o seu marcador Miguel Vieira.

Quanto a oportunidades na primeira parte, estamos conversados.

No segundo tempo, houve de novo mais Paços logo a abrir e Barnes Osei, aos 51’, quase marcava num cruzamento tão largo que quase resultou em chapéu. Não deu golo por causa de Douglas, experiente, que sacudiu o perigo pela linha de fundo.

E a chuva parou de cair na cabeça de Conceição...
Na última meia-hora de jogo é difícil falar de variações táticas. Choveu copiosamente na Mata Real e a bátega tornou o jogo numa batalha por conquistar metros e tentar controlar a bola por mais de 10 segundos seguidos.

É difícil jogar futebol debaixo de um dilúvio. Foi portanto pontapé para a frente, muita luta e fé em Deus. E aí, incansavelmente apoiado por três centenas de adeptos que cantaram 90 minutos, venceu o Vitória, que teve mais coração até ao final.
 
Alguém se lembra de “Why does it always rain on me?” É um tema pop da banda escocesa Travis que fez sucesso em finais da década de 90.

Sérgio Conceição já estaria a cantarolar, em jeito de indagação e como quem pensa na vida, qualquer coisa do género quando apareceu aquele Valente raio de luz como que a prometer afastar de cima da sua cabeça os dias de tempestade.
 
Nota: não há como terminar a crónica sem fazer uma referência a como o jogo começou: com 18 portugueses nos 22 jogadores que entraram em campo. Nove de cada lado. Houve tempos recentes em que isso era quase uma miragem.