Uma mão-cheia de golos. Toda pintada de encarnado.

O Benfica arrancou oficialmente a época com uma gigantesca demonstração de força frente ao eterno rival que colapsou por completo na segunda parte após um primeiro tempo no qual foi quase sempre superior ao campeão nacional.

FILME E FICHA DE JOGO

Não é que esteja cientificamente provado, mas a amostra de pessoas que tarda em readquirir o ritmo de trabalho adequado após gozo de férias é robusta.

Cada ser humano tem as suas idiossincrasias e a realidade das equipas não é assim tão diferente.

No Estádio Algarve, e não obstante a legítima preocupação que uma pré-época sem triunfos provoca no adepto, o Sporting até chegou a parecer estar mentalmente mais preparado para o regresso do rebuliço competitivo.

Marcel Keizer montou a equipa num sistema de três centrais, ladeados por Thierry Correia e Marcos Acuña. E nem se pode dizer que, pelo menos no papel, tenha surpreendido Lage, que antes do jogo chegou a mencionar esta estrutura de jogo teoricamente mais conservadora, mas que, avisou, ganha dinâmicas bem mais arrojadas com comandantes da escola holandesa.

Ainda assim, os leões assentaram os excelentes primeiros 45 minutos de jogo na segurança defensiva e, depois, no critério evidenciado nas saídas em velocidade para o ataque.

Ainda estremunhado, o setor mais recuado do Benfica acumulou erros técnicos, a maioria deles no espaço existente entre Rúben Dias e o adaptado Nuno Tavares.

Argutos, os homens de Keizer começaram a explorar esse filão desde os primeiros minutos. Aos 3m, Vlachodimos negou um autogolo de Ferro, que procurava evitar que um passe de Bruno Fernandes chegasse a Bas Dost.

O guarda-redes grego merece um parágrafo inteirinho só sobre ele. Pela insistência do Benfica em contratar um guarda-redes neste defeso e porque foi ele que permitiu que os encarnados chegassem ao intervalo sem golos sofridos e arrancassem depois para um triunfo robustíssimo na etapa complementar. À fantástica intervenção nos minutos iniciais seguiram-se novas paradas aos 28 e 38 minutos, ambas a remates perigosos de Bruno Fernandes.

Mais do que isso: foi também devido ao grego que o golo de Rafa aos 40 minutos foi sinónimo de vantagem do Benfica ao intervalo. Seria o início de uma parceria a roçar a perfeição entre o extremo da águias e Pizzi, que serviu o companheiro com um passe letal para as costas de Thierry Correia, até então a realizar um jogo imaculado.

O Sporting tinha sido mais organizado e ameaçador nos primeiros 45 minutos, mas a equipa de Bruno Lage chegava ao intervalo na frente, condição que lhe permitiu abordar a etapa complementar com outra estabilidade emocional mas nada fazia prever o meltdown do adversário.

Gradualmente, o campeão nacional reduziu o número de erros técnicos, sobretudo os cometidos pelo setor mais recuado e chegou a uma goleada pouco expectável para quem assistiu aos primeiros 45 minutos.

O 2-0 à hora de jogo lançou o Benfica para uma vitória por números raros em dérbis. Mathieu, até então um dos melhores do Sporting em campo, meteu água, perdeu a bola para Rafa e o extremo –o elemento mais deambulante das águias nesta noite – devolveu a cortesia ao melhor amigo da noite. Em posição frontal, Pizzi fez o segundo e deu início ao colapso de um leão de duas caras.

Quatro minutos depois, numa altura em que o Sporting já estava em pleno modo de autodestruição, Grimaldo assinou o 3-0 na conversão de um livre direto.

E percebia-se que o jogo não ficaria por aqui. Mesmo com Bruno Fernandes já diminuído fisicamente, a equipa de Alvalade não desistiu de atacar, mas descompensou-se por completo e a saída de Coates para a entrada de Diaby a 25 minutos dos 90 tornou esse facto ainda mais evidente.

Aos 77 minutos, o comandante Pizzi – homem do jogo – pôs a assinatura na goleada em mais um lance de vertigem e eficácia patrocinado por ele e por Rafa, dois notas 10 em plena sincronização.

Já com o lado das bancadas afeto aos adeptos do Sporting despido, Idrissa Doumbia foi expulso e a seguir os encarnados chegaram à mão-cheia por Chiquinho, lançado minutos antes.

O Benfica abre a época com uma goleada altamente moralizadora diante do eterno rival: 5-0 e a forte convicção, agora provada, de que há vida (e muita saúde) para lá de Félix e Jonas. O Sporting? Nem tudo foi mau, mas depois de uma pesada derrota poucos se lembrarão disso. As feridas são profundas e terão de sarar em tempo recorde.