Um dia normal, como outro qualquer de glória, onde os grandes não têm qualquer dificuldade em dizimar os pequenos. Um noite fria de Novembro igual a tantas outras, com motivos de alegria suficientes para animar as massas, os mais indefectíveis que pulam e nunca se cansam de exigir e reclamar.  

A poucos minutos do início do jogo, poucas eram as pessoas que se encaminhavam para o Estádio das Antas. A desculpa de poder ver-se o encontro no sofá de casa, sentado em frente à televisão, não é suficiente para justificar a ausência dos adeptos das bancadas azuis-e-brancas. É que os portistas estão habituados a vencer, a observar estrelas internacionais a sofrerem para vergar a vontade e qualidade dos jogadores do FC Porto. Apesar do empate alcançado na primeira mão, toda a gente compreendeu que a resolução da eliminatória era fácil e a equipa até nem precisaria de muito apoio para chegar mais longe na competição. 

Tudo isto é normal nas Antas, mas a dura realidade é que este continua a ser o último representante do futebol português na Europa. A grande diferença é que este ano, o FC Porto não está na Liga dos Campeões e ao êxtase das vitórias não se adiciona o suco dos milhões. 

O mesmo esquema, com Alenitchev 

Era mais ou menos previsível que Fernando Santos tivesse a audácia de colocar Alenitchev ao lado de Deco, no meio-campo. Com o russo, a equipa ganha, indiscutivelmente, maior profundidade e pendor ofensivo ¿ inversamente proporcional quando Chainho é titular. Fiel ao esquema táctico que lhe tem trazido  
êxitos, o treinador revela a sua atitude nos jogadores que coloca em campo. Enquanto na primeira mão actuou com o esquema defensivo e o empate foi inevitável, nas Antas já tudo foi diferente e o resultado acabou em 3-0, como podia ter sido um pouco mais volumoso. Bastava Clayton, Pizzi e Cândido Costa terem entrado alguns minutos mais cedo. 

A eliminatória tornou-se extremamente fácil aos olhos de toda a gente, porque os portistas souberam resolvê-la de forma prática e eficaz. Pena continua a revelar-se um «monstro» goleador, um fenómeno de concretização que fez respirar a equipa de alívio logo aos quatro minutos. A atitude perfeita surgiu através de três pés invulgares. Alenitchev passou para Drulovic, o jugoslavo mágico assistiu Pena, que só teve de empurrar a bola para o fundo das redes dos incrédulos polacos. Melhor era impossível... 

A sensação de vitória pairava no Estádio há muito tempo, pelo que o primeiro tempo não passou de um breve passear pela bruma da noite. Era importante rentabilizar espaços e encontrar novos entendimentos ¿ pelo menos assim acontecia com o russo do meio-campo, mas mesmo ele, por vezes, distraia-se e perdia a noção daquele jogo entregue ao puro entretenimento. Uns breves gestos de Pena e Drulovic, que souberam aproveitar a letargia do Wisla, serviam para aquecer as gargantas ansiosas, sentadas na bancada. Mais nada. 

O golo solitário não decidia a eliminatória e os polacos sabiam disso. O caricato treinador do Wisla sabe de futebol, mas também tem consciência das limitações da equipa. Apostou algo mais, concebendo um trio atacante, auxiliado pelo «capitão» Kaluzny. Não deu resultado. Pena apareceu novamente e de cabeça, com aquele estilo molengão-trapalhão-mas-que-está-no-sítio-certo-como-um-verdadeiro-«matador». Outra vez nos primeiros minutos. Se até aqui o jogo tinha sido uma espécie de passeio pelo parque, com dois golos de vantagem gerava-se a ideia de voltar para casa o mais cedo possível. 

Sem quererem entregar a vitória numa bandeja, os polacos ainda ressuscitaram o espírito do jogo. Kaluzny (só ele), em zona frontal da área, amortece a bola no peito e chuta de primeira ao poste de Ovchinnikov. Pouco depois, ficou a sensação de que Frankowski foi claramente derrubado por Jorge Costa em zona que dava direito à marcação de uma grande penalidade. Ao contrário do que tem acontecido na Europa, em jogos de portugueses, o árbitro fez vista grossa e só se ouviram os protestos alheios. Afinal, não havia mais nada para decidir e Alenitchev ainda teve tempo para dar dores de cabeça a Fernando Santos, encerrando a eliminatória com um golo no último minuto.