Depois de interrompida frente ao Sporting a sequência de vitórias que deixou a equipa às portas da pré-eliminatória da Liga dos Campeões, o Benfica reencontrou-se este sábado, com uma vitória (4-2) diante do Belenenses no Restelo, num jogo vivo, com mais golos do que futebol de primeira água, não disfarçando um certo sabor a fim de estação. Os encarnados ficam agora à espera que uma escorregadela do Sporting na próxima segunda-feira lhes permita carimbar já o passaporte para a Liga, e com a certeza de que a derrota do derby não deixou marcas visíveis na estrutura montada por Camacho.

Por absurdo, o principal efeito da derrota com o Sporting (a ausência de Zahovic) acabou até por dar a chave da vitória sobre o Belenenses. Camacho apostou na utilização de Nuno Gomes num papel recuado, passando Sokota a ser a referência no ataque, e o número 21 da Luz respondeu com uma exibição de grande qualidade, utilizando a sua inteligência e sentido colectivo para dar mobilidade às acções ofensivas dos encarnados.

Porém, isto só se tornou visível após dez minutos de pressão inicial do Belenenses, organizado num sistema com três unidades de ataque, com Neca como joker, flanqueado por Verona e Mauro. Depois de Verona ter desperdiçado ingenuamente uma boa oportunidade (7 m), que lançou dúvidas acerca da agilidade da defesa do Benfica, e de Neca ter obrigado Moreira à primeira defesa do jogo, foi o Benfica a reagir. Sokota deu o primeiro aviso, numa bola à trave (14 m), Simão, de livre, obrigou Marco Aurélio a defesa difícil e, à terceira, Hélder deu a sapatada no jogo, concluindo ao segundo poste o canto correspondente.

O caçador caçado

O golo teve efeitos decisivos: o esquema do Belenenses estava pensado para tirar partido da velocidade e surpreender o Benfica em contra-ataque. Em desvantagem, os azuis tiveram de avançar no terreno e o caçador virou presa, tantos os espaços que começaram a abrir-se para as saídas em velocidade dos encarnados. Três minutos depois, veio o que parecia ser o xeque-mate: Nuno Gomes, a meio-campo, lançou Simão, este percebeu o pique longo de Geovanni e colocou-lhe o segundo golo nos pés.

O Belenenses levara dois socos em pouco tempo e ainda nem tivera tempo para perceber que estava obrigado a mudar de estratégia para evitar o KO definitivo. Até ao intervalo o filme repetiu-se: Tiago e Petit ganhavam sempre os duelos a Rogério e Marco Paulo, Tuck não conseguia acompanhar Nuno Gomes e o ataque do Benfica descobria espaços para a velocidade de Simão (mais) e Geovanni (menos) desequilibrarem uma defesa claramente apanhada em défice de agilidade.

A história teria acabado aqui, mais golo menos golo, não fosse um desvio infeliz de Argel a remate de Verona ter traído Moreira, já à beira do intervalo. A margem estreita deu ânimo ao Belenenses e criou alguma insegurança nos encarnados, dando o pretexto para Manuel José passar ao plano B, logo no início da segunda parte.

Belenenses de cara nova¿ só à frente

As duas substituições nos azuis corresponderam a uma mudança táctica radical: Sousa passou para o meio campo, Antchouet e Ludemar juntaram-se a Verona na frente. A equipa surgia agora em 3x4x3, procurando ganhar vantagem a meio-campo para alimentar uma frente de ataque mais presente na área. Durante mais outros dez minutos a mudança resultou, com o Benfica a recuar, tentando avaliar a força real da nova cara dos azuis.

Mas se o ataque apresentava cara nova, a defesa do Belenenses não resolvera os velhos problemas trazidos da primeira parte. E quando Nuno Gomes isolou Tiago, para este, diante de Marco Aurélio, oferecer um golo encosta-aí a Sokota (55 m), percebeu-se que o jogo já não teria como fugir aos homens de Camacho.

Manuel José foi até ao fim na aposta de risco, e recuou Tuck (sem pernas para acompanhar Tiago, com antes não as tivera perante Nuno Gomes) para o eixo da defesa, tentando ganhar rapidez com a entrada de Rui Duarte (61 m). Três minutos depois, novo golo do Benfica, em tudo irmão gémeo do anterior, mas com os protagonistas a trocarem de papel: Sokota desmarcou Nuno Gomes, de calcanhar, e foi este a oferecer a Tiago a devolução da gentileza anterior, para o quarto do Benfica.

Goleada interrompida

A ameaça da goleada era cada vez mais real, mas tal como na primeira parte, o Belenenses conseguiu evitar que a diferença de andamentos se traduzisse em mais golos, antes de atenuar o desequilíbrio com um golo de Antchouet, que voltou a contar com a colaboração (passiva, desta vez) de Argel.

Faltava um quarto de hora, mas nem os próprios adeptos do Belenenses tinham por onde acreditar na reviravolta. Talvez, se no minuto imediato ao golo, alguém tivesse conseguido empurrar um cruzamento-remate de Sousa para a baliza, o jogo pudesse vir a ter uma história mais viva até final. Mas o desvio não aconteceu e, pouco depois, a caricata expulsão de Tiago, na sequência de um desentendimento entre Elmano Santos e o seu quarto árbitro, foi o sinal para Camacho dar ordem aos seus homens para tirar pressão ao jogo e gerir a vantagem até final, coisa feita sem excessivo sofrimento.

Dois momentos-chave no trabalho da equipa de arbitragem. A posição de Sokota, no terceiro golo, levantou muitas dúvidas no estádio, embora o assistente João Sousa estivesse bem colocado, a fazer sinal para prosseguir. Já o segundo amarelo a Tiago parece resultar mais de uma inexplicável falha de comunicação entre o quarto árbitro (que autorizou o benfiquista a reentrar em jogo) e o árbitro de campo (que não lhe terá dado essa indicação) do que de qualquer comportamento ilícito do jogador.