Nem todos os clubes se podem dar ao luxo de terem dois holandeses no plantel, mas o Rio Ave contraria todas as normas no que a este aspecto diz respeito. A tendência por jogadores dos países baixos surgiu por intermédio de Horácio Gonçalves, o ex-treinador, que fez um périplo no país das tulipas no sentido de contratar um ponta-de-lança ou um jogador capaz de jogar atrás do ataque. Assim, começa a história de Ronny Van Es que veio para Portugal com Van de Broek, ambos do Haarlem, mas este último foi preterido depois de dez dias de experiência em Vila do Conde.

Ronny (é assim que é chamado pelos colegas) partilha uma saudável rivalidade com Sion, ex-jogador do V. Guimarães, no eixo do ataque. Aliás, a carreira deste último tem alguns pontos interessantes: depois da experiência no clube vimaranense (2000/01) teve uma oportunidade de assinar pelo PAOK Salónica, mas tudo não passou de uma mera possibilidade. Depois, esteve a um passo do futebol inglês, porém houve um desacordo de verbas e a hipótese de alinhar num clube chinês acabou por ser traumatizante: «Tive de pagar a viagem e o hotel onde estava hospedado. Era impossível continuar assim, depois não gostava da equipa», explicou ao Maisfutebol.

Ambos são pontas-de-lança e têm no conjunto onze golos. Quando joga um, o outro fica no banco e não há má cara em relação às opções do treinador do Rio Ave: «Tenho 31 anos e ele ainda é um jovem [tem 24 anos]. Os meus empresários sempre disseram que devia ser egoísta, mas nunca fui assim. Quero que o Ronny jogue sempre bem e ele também pensa o mesmo em relação a mim», confessa Sion, que apenas era conhecido de nome em relação ao seu compatriota. «Só quando aqui cheguei fiquei a conhecer o verdadeiro Sion», confessa Van Es.

Pressão dos adeptos... e sobre os árbitros

Apesar de estar no nosso país há nove meses, Van Es fala português de forma desenvolta, o que revela uma rápida capacidade de aprendizagem tendo em conta que o neerlandês não é uma língua com raízes latinas: «Não sabia uma única palavra de português, mas a linguagem do futebol é universal. Depois, ando sempre com um dicionário de bolso que serve para desenrascar». Do futebol nacional diz ser «muito emocional, físico e técnico», muito diferente do seu país com bases «mais tácticas». Porquê emocional? «Tem haver com o ambiente, a pressão dos adeptos, por exemplo, em relação ao árbitro».

Nas últimas temporadas, alguns holandeses aceitaram o desafio de actuar no futebol português, casos de Taument, de Gleen Helder e de Van Hooijdonk (Benfica), de Jimmy (Campomaiorense e Benfica) e, actualmente, de Van der Gaag (Marítimo). Haverá um surto? A resposta é simples: «Os holandeses são aventureiros, temos a noção que nem todos os países são iguais e a adaptação é fácil. Quando se ganha é sempre fácil, depois o clima não é muito quente e isso é importante para os jogadores do meu país», responde Sion, que já alinhou no V. Guimarães e actualmente está no Rio Ave.