A figura: Lima

À terceira, não podia falhar. Dali, não podia desperdiçar o campeonato 33 do Benfica na história. Lima rematou duas vezes de pé esquerdo, ambas para fora. Mas aos 57 libertou a euforia nas bancadas, uma euforia presa nas gargantas dos benfiquistas desde maio passado, travada pela ansiedade que o nulo ditava. Mas Lima foi Tanque aos 57 minutos e depois, de cara para o campeonato, atirou para o 1-0 e para o 33º, numa recarga em cima da linha da pequena área, com a baliza aberta. Provavelmente, o golo mais fácil de executar na época, mas o mais difícil e saboroso atendendo às circunstâncias entre maio passado e este abril. Pouco depois, resolveu colocar um fim na Liga, com uma arrancada forte, a aguentar o choque e a rematar para o 2-0. Belec deu uma ajuda e a partir dos 60 minutos houve festa de campeonato na Luz pelos pés do melhor marcador da equipa.

O momento: minuto 57

Havia ansiedade no ar porque o golo não chegava. O speaker puxava pelos adeptos e o Olhanense foi à frente. Lima disputou o lance com um adversário, o Olhanense inteiro reclamou e os encarnados partiram para terreno aberto. Gaitán foi o autor do remate, mas foi Lima quem naquele momento puxou a rolha ao champanhe e soltou a festa nas bancadas e no relvado. O 33º campeonato encarnado começou a fechar-se ali.

Oblak
Um susto, uma defesa, outro susto, mas sempre bem no controlo das ações. Voltou ao onze e completou uma volta na baliza do Benfica e não teve grande trabalho nos primeiros 45 minutos, ainda que Lucas Souza o tenha assustado e Jander lhe tenha testado a atenção aos 18 minutos. Só voltou a aparecer no segundo tempo, num canto do Olhanense, que afastou com punhos de ferro. Rui Duarte voltou a assustar, mas a bola passou ao lado para um rapaz que, em conjunto com Artur, se tornou no primeiro guarda-redes estrangeiro titular a ser campeão pelos encarnados.

Maxi Pereira
Sem grandes preocupações a defender, deu velocidade e profundidade ao lado direito. Ainda assim, algumas falhas em detalhes técnicos, sobretudo no passe, no primeiro tempo, no qual se destaca um bom remate, aos 33 minutos. Depois, no segundo, foi um dos responsáveis por tudo de bom que aconteceu à equipa. Foi seguro a defender e um excelente apoio ao ataque. Chegou várias vezes à linha de fundo, num entendimento perfeito com Markovic. Roubou a bola para o 2-0 e continuou a acelerar pelo corredor fora. Um dos melhores em campo nesta tarde.


Luisão
Imponente, perfeito mesmo. Sem falhas, sempre bem posicionado e a ganhar todos os duelos aéreos. Pelo chão, também foi um imperador. Não só a defender, porque subiu no terreno com a bola como poucas vezes faz. Mas o Benfica tinha de ir para a frente e o capitão mostrava o caminho. Gritou os golos de Lima e conta agora com três campeonatos ganhos no clube.

Garay
Um erro e uma ocasião para o Olhanense. O argentino só teve essa falha, que quase era comprometedora. Ainda assim, voltou ao nível habitual e ainda assistiu na área contrária, embora Gaitán não tenha aproveitado. Bom de pés, acabou o jogo na frente! Quando estava tudo resolvido atrás, tentou ir ao ataque marcar um golo para a festa. Tinha sido campeão na Argentina, foi agora em Portugal.

André Almeida
Muito bem nos apoios a Gaitán, embora num nível abaixo de Maxi Pereira. Apareceu no ataque numa primeira situação aos nove minutos, num cruzamento para Lima. Esteve várias vezes envolvido na manobra atacante da equipa, mas sem desequilibrar por aí além. No segundo tempo, teve ocasião para marcar, mas o remate, a cruzamento do lateral contrário, saiu por cima. Um jogo à imagem do que é: um futebolista útil, que não deixa mal a equipa.

Salvio
Começou com um bom trabalho na direita, aos 13 minutos, e depois tentou sempre ser um desequilibrador pela linha, como é costume. Passou várias vezes para lá da linha defensiva do Olhanense, cruzou, passou, mas sem efeitos práticos. Havia demasiada cerimónia. Depois, o azar voltou a bater-lhe à porta no último lance do primeiro tempo. Foi o último a sair do relvado para o intervalo, já com o braço esquerdo imobilizado. O primeiro título no Benfica tem um sabor agridoce neste jogo, numa temporada de enorme sofrimento para Salvio, um campeão da dor.

André Gomes
Sem complicar. Quis sempre jogar simples, tentou dar andamento à equipa, ainda que no primeiro tempo o coletivo encarnado tivesse a trabalhar em demasia as jogadas. Depois do enorme jogo com o FC Porto, na Taça de Portugal, desceu de um pouco de rendimento, até porque este encontro tinha outras circunstâncias. Ainda assim, voltou a demonstrar condições para ser mais-valia numa posição mais recuada a meio-campo.

Enzo Pérez
É um dos jogadores mais amados dos adeptos. Isso percebe-se no apoio que lhe dão, nas palmas que batem ao camisola 35. É, também, um dos grandes responsáveis pela temporada do Benfica. Acima de tudo, é a principal invenção de Jorge Jesus como treinador. Enzo Pérez é o motor da equipa, ou seja, o Benfica joga consoante ele dita. Feita a observação, é preciso dizer que só na segunda parte o grande Enzo surgiu, já que no primeiro tempo não esteve tão expedito num jogo de um título que é muito dele. Tanto assim é que foi ele quem lançou Lima para o 2-0.

Nico Gaitán
Demasiada nota artística na tarde em que se sagrou campeão português. Gaitán já proporcionou momentos de génio em 2013/14, provavelmente a temporada, até ver, em que atingiu o seu rendimento máximo com as cores encarnadas. Gaitán teve a primeira ocasião do jogo, colocou habilidade nas jogadas, mas é verdade que nem sempre as fintas lhe saíram, nem sempre as ideias corresponderam ao jogo nos pés. Esteve no lance do 1-0, com um remate que Belec defendeu apenas para Lima soltar a festa. Fica, ainda assim, aquela jogada em tabelas com Rodrigo, que terminou num remate de Lima para fora.

Rodrigo
Um início do melhor Rodrigo, um final de jogo a pedir a substituição. O hispano-brasileiro é uma das figuras desta Liga, deste campeão Benfica. Foi o primeiro a marcar na época encarnada e frente ao Olhanense parecia que vinha disposto a ser figura principal. Arrancou pela direita aos três minutos e deu o golo a Gaitán, que o desperdiçou contra Luís Filipe. Falhou na área a passe de Garay e aos 10 fez aquele lance com o argentino da camisola 20 já descrito. Ainda assim, foi também um dos que meteu demasiada nota artística no primeiro tempo e procurou o golo no segundo, já com 2-0, numa altura já de festa, o que lhe terá retirado algum discernimento.

Markovic
Salvio ganhou-lhe o lugar no jogo do título, mas o miúdo sérvio voltou a ser um verdadeiro diabo vermelho no relvado da Luz. A primeira jogada? Um passe para Maxi Pereira, desconcertante, por entre dois defesas. Aliás, fez vários desses, numa combinação quase perfeita com o uruguaio. O camisola 50 é o mais novo entre os campeões nacionais, mas é também um dos que se apresenta com futuro mais risonho pela frente.

Djuricic
Entrou a meio da segunda parte, numa altura em que tudo estava resolvido. É uma das incógnitas da época e não foi pelos minutos em campo nesta tarde/noite na Luz que dissipou dúvidas. Entrou na posse de bola que a equipa praticava nesse momento, sofreu uma falta dura e pouco mais.

Cardozo
Tanto tempo na cabeça dos adeptos durante este domingo. Com a equipa a ser cerimoniosa, pedia-se um Tacuara expedito, o homem do golo nas últimas épocas. Cardozo só entrou com o título no bolso, mas teve direito a cântico. Foi protagonista do campeonato. Primeiro por todas as dúvidas em torno dele, pelo pedido de perdão na tv do clube, depois pelos golos salvadores que apontou. Nesta tarde não foram precisos. E aqueles cânticos após um remate do meio-campo indicam bem que, pelos adeptos, o Tacuara continua a ser um dos preferidos da bancada..

Olhanense
Numa estratégia inovadora no Olhanense, baseado num 5x3x2, Luís Filipe começou por destacar-se. O lateral jogou pelo meio e evitou o 1-0 logo aos três minutos. Esteve bem colocado e foi algumas vezes pronto-socorro. Atrás, Belec. Culpa no 2-0, claro, e uma defesa incompleta no primeiro. Comprometeu, portanto. Rui Duarte tentou emprestar jogo à equipa, foi ele que pediu a bola para servir Lucas Souza e Dionisi. O primeiro destes ainda teve ocasião para fazer o 0-1, mas atirou ao lado. Não estava escrito…